quinta-feira, 7 de maio de 2020

COVID-19 UM CONVITE A OLHARMOS PARA DENTRO DE NÓS

Após a pandemia do covid-19 o mundo não será mais o mesmo. 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador, Bahia – 06 de maio de 2020

Aquele que durante ou após a pandemia do covid-19 não se solidarizar diante de tantas perdas e sofrimentos do seu semelhante, continuando na sua vida de antes e não mudar de pensamento tornando-se insensível, este pode ser qualquer coisa, menos um ser humano. Creio que após todo esse mal, o mundo será outro, e muitas coisas serão renovadas e vistas com mais clareza do que antes. Portanto, não deixemos passar essa oportunidade. (Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B)

Diante dessa situação difícil que o mundo está passando nestes meses de pandemia do covid-19 (coronavírus), ouço muitos dizerem que esse mal é um castigo de Deus. Não é, e jamais seria! Porque o bom Deus não castiga os seus filhos desse modo matando-os em massa como um Deus vingador, irado contra o seu povo. Deus é puro amor e misericórdia! Assim nos mostra São João em seu Evangelho “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; quem não crê já está julgado, porque não creu no nome do Filho único de Deus” (Jo 3,16-18). No entanto, ele pode permitir certos acontecimentos na nossa vida e na natureza para nos ensinar certas coisas que não percebemos de imediato devido a nossa deficiência em entender a sua vontade, semelhante aos nossos pais em relação à nossa educação. É bem comum que na hora da correção, devido a nossa fraqueza e medo, que não percebamos o grande bem futuro que receberemos se agirmos conforme a vontade de quem nos corrige. Por isso, nestes dias de pandemia e de muitos sofrimentos, precisamos mais urgentemente pararmos e pensarmos com mais nitidez em nossa vida e na do próximo, tentando ajudá-lo conforme as nossas forças e possibilidades. Seja essa ajuda espiritual ou material. Nestes dias as pessoas estão precisando mais que nunca de conselhos, por ficarem recolhidas em suas residências, o que era muito difícil de acontecer em momentos aparentemente calmos, antes desse terrível mal nos atingir e por esta razão, estão se encontrando consigo mesmos, sendo que muitos não estão sabendo lhe dar com essa situação, ou seja, do encontrar-se consigo mesmo. Estão desenvolvendo vários e grandes problemas psicológicos, talvez por não terem dado tanta importância a esse viés tão necessário da vida humana e trabalhado esse lado do “só consigo mesmo”, como sempre nos ensinaram os antigos. Esse “só consigo mesmo” de imediato parece coisa não necessária à vida ou até egoísmo, mas isso é extremamente necessário para nos conhecermos e ajudarmos o próximo. Porque se eu não me conheço ou não me aceito, como posso conhecer e aceitar o outro! Daí a necessidade do entrar em si para descobrir novas formas de ajuda. Um dos males hodierno da humanidade é o não parar um pouco para descansar e se reabastecer. Quem muito corre, logo cansa.

Sim, tenho a plena nitidez dos grandes problemas sociais que todos nós enfrentamos no nosso país. O descaso com a saúde pública e bem pior, a crise política e democrática que está bem à nossa frente. O que é mais triste é sabermos que nem todos têm o direito de se proteger no isolamento domiciliar solicitado pelos líderes políticos e religiosos, devido à grande pobreza, não tendo estes um lugar digno para habitarem. Pensemos naqueles que vivem morando nas ruas praticamente abandonados ao seu próprio destino. Os que vivem amontoados em lugares minúsculos, sobrevivendo em cubículos insalubre, indignos dum ser humano nas periferias das cidades ou mesmo em seus centros, sem as mínimas condições de autoproteção e sem saneamento básico. Vivemos numa complexidade enorme diante dessa quarentena. Sabemos que estes problemas são uma cadeia de acontecimentos que estão em vertigem no nosso país, bem como em outros países, a saber: as crises social, sanitária e ambiental. Se não houver um engajamento emergencial mais perene nestes setores, viveremos eternamente nesse caos. A vida deve ser promovida porque ela é o grande dom de Deus para nós.

Porém, muitos enganam-se em querer ajudar nesses problemas citados, pensando que a crítica resolve coisas. A primeira coisa a qual devemos pensar é que não precisamos viver nos atacando, criticando instituições e setores, pois isso é tolice e pura arrogância; o que devemos fazer é procurar meios de ajudar no que pudermos fazer. Se cada um fizesse a sua parte o nosso mundo seria bem melhor. Devemos fazer um esforço coletivo de solidariedade para com todos. Com isso, sim, salvaremos muitas vidas e o mundo terá um novo rosto.

Para aqueles que tem fé em Deus, estes tem os olhos na esperança mesmo diante das perdas, da pobreza, diante desse mal que afeta o mundo todo, e dos muitos outros sofrimentos que suportamos. Saibamos todos que após o maior sofrimento vem também a maior alegria pela vitória. Quem experimenta a dor torna-se um forte guerreiro como nos ensina São Tiago na sua Epístola: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1,12). E ainda o mesmo Apóstolo nos encoraja a suplicar a confiança dizendo: “Se alguém dentre vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a concede generosamente a todos, sem recriminações, e ela ser-lhe-á dada, contanto que peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá alguma coisa do Senhor, dúbio e inconstante como é em tudo que faz” (Tg 1,5). A fé, a esperança, a confiança e a perseverança nos bons atos salvarão o mundo. Cito aqui também um pensamento da serva de Deus Elisabeth Leseur, que nos diz: “Por conseguinte “nada” é indiferente a nossa vida moral; o mais pequeno dever descuidado tem consequências que não suspeitamos” (LESEUR, 1958). Ou seja, devemos está sempre alerta em relação a nossa ação, seja ela moral ou espiritual. Ela prossegue no seu ensinamento: “Por isso é preciso dispor a nossa vida de tal forma, que nem um dever, grande ou pequeno, seja sacrificado; e, sem desprezar o fim almejado, pôr logo mãos à obra para atingi-lo. E continua: “O importante não é conseguir imediatamente, mas começar e continuar” (LESEUR, Elisabeth. A vida espiritual – Pequenos  tratados de vida interior, 1958, p. 176-177).

Sabemos que na história da humanidade em tempos antigos e modernos epidemias ceifaram muitas vidas deixando um rastro de destruição na vida de muitos e no meio ambiente. Não desistamos da esperança! O desespero só nos leva à irracionalidade e à desordem. Pensemos bem que um pouco de silêncio e recolhimento fará muito bem a todos. “As agitações, amarguras, tudo o que vem de fora ou de nosso ser sensível, acalmam-se logo, quando fazemos um pouco de silêncio em nós mesmos e retomamos fôlego junto de Deus” (LESEUR, Elisabeth. Jornal e pensamentos de cada dia. RJ, 1954, p. 242).

Em relação à pandemia que estamos passando, sejamos muito cautelosos no que lemos, ouvimos e partilhamos em nossas redes sociais, bem como devemos nos portar diante de tão grande mal. E que a insensibilidade não encontre lugar algum em nosso coração. Sejamos solidários. Não poderia deixar de citar aqui esta bela exortação da Epístola de São Tiago que nos esclarece de forma iluminada pelo Espírito Santo, palavras acertadas para o presente momento de dor e muito medo que a humanidade atravessa. Cuidemos de ajudar as pessoas e não espalhar mais medo e pânico. Apoiemo-nos nas palavras inspiradas do Apóstolo São Tiago que nos ensina contra a intemperança da língua pela qual podemos fazer grandes coisas, boas e más. Escutemos o Apóstolo: “Irmãos, não queirais todos ser mestres, pois sabeis que estamos sujeitos a mais severo julgamento, porque todos tropeçamos frequentemente. Aquele que não peca no falar é realmente um homem perfeito, capaz de refrear todo o corpo. Quando pomos freio na boca dos cavalos, a fim de que nos obedeçam, conseguimos dirigir todo o seu corpo. Notai que também os navios, por maiores que sejam, e impelidos por ventos impetuosos, são, entretanto, conduzidos por um pequeno leme para onde quer que a vontade do timoneiro os dirija. Assim também a língua, embora seja pequeno membro do corpo, se jacta de grandes feitos! Notai como pequeno fogo incendeia a floresta imensa. Ora, também a língua é fogo. Como o mundo do mal, a língua é posta entre os nossos membros maculando o corpo inteiro e pondo em chamas o ciclo da criação, inflamada como é pela geena. Com efeito, toda espécie de feras, de aves, de répteis e de animais marinhos é domada e tem sido domada pela espécie humana. Mas a língua, ninguém consegue domá-la: é mal irrequieto e está cheia de veneno mortífero. Com ela bendizemos ao Senhor, nosso Pai, e com ela maldizemos os homens feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca provêm bênção e maldição. Ora, tal não deve acontecer, meus irmãos. Porventura uma fonte jorra, pelo mesmo olheiro, água doce e água salobra? Porventura, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira produzir figos? Assim, a fonte de água salgada não pode produzir água doce” (Tg 3, 1-12).

Pois bem, deixo a todos esta pequena reflexão diante dos grandes acontecimentos em nosso mundo tão sofrido por guerras e outros tantos meios de destruição. Aqueles que não podem ajudar materialmente, ajudem com suas orações. Todos movendo-se para a paz, ela virá sem dúvida! Para cada um peço a proteção de Deus, da Santíssima Virgem Maria dos Anjos e Santos. Tenhamos força e coragem e o mundo se renovará. 


INTERCESSÃO A NOSSA SENHORA DA GRAÇA CONTRA O CORONAVÍRUS

  Ó Santíssima Virgem da Graça, prostrado diante de ti imploro pelos vossos méritos e pelo grande poder que possuis diante de Deus – Todo Poderoso, por teres trazido no vosso sagrado seio o seu Filho Jesus Cristo, que é a Graça, a proteção para nós e a cura daqueles que foram atingidos pelo mal do coronavírus e outros males. Livrai o nosso Estado da Bahia de tão grande mal, o nosso país e toda a humanidade. Assim vos peço com fé. Por Cristo Senhor Nosso. Amém. 


Composição
Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B 
Salvador, 17 de março de 2020. 


CONSCIENTIZAÇÃO CONTRA O COVID-19 
(coronavírus) 
Arquiabadia de São Sebastião da Bahia 
Dom Arquiabade Emanuel d'Áble do Amaral, O.S.B  
Abade do Mosteiro de São Bento da Bahia - Salvador, Bahia - Brasil 
Dia 25 de março de 2020


Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)