Um monge num momento de oração
Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador, Bahia – 19 de maio de 2018
Àqueles que já conhecem a história
monástica, minhas desculpas. Pois, creio não trazer nada de novo deste assunto
que é tão comentado e estudado. Aqui, escrevo para os que não tem um
conhecimento da vida monástica e não sabem o que é um Mosteiro e nem o que é um
monge ou uma monja. Esta iniciativa nasceu de alguns pedidos da parte de alguns
amigos. Devido a curiosidade de muitos em relação a vida dos monges e monjas.
Neste pequeno texto meu objetivo é
responder a uma pergunta bastante frequente que muitas pessoas já fizeram a mim
e aos meus confrades monges também.
Aqui, tentarei esclarecer em termos
bastante simples o que é um monge, e, principalmente um monge Beneditino,
porque muitos pensam que só existem os beneditinos. Não existe apenas os monges
beneditinos, mas, outros tipos de monges; cristãos e não-cristãos. Àqueles que
desejarem conhecer mais sobre os monges, surgiro uma viagem pela História
Universal das culturas, principalmente o período Medieval (Idade Média que corresponde aos séculos V-XV, segundo alguns autores, é
claro).
Eu sou um monge beneditino e quando vou
de férias uma vez cada ano, para visitar minha família no Estado de Pernambuco,
e, também aqui na Capital Salvador e outros Estados do Brasil, aos quais
visitei ou visito, fui abordado inúmeras vezes por pessoas que perguntaram-me:
“O senhor é católico” e respondi: Sim sou! Sou monge Beneditino da
Ordem de São Bento, filho de São Bento. E, logo em seguida perguntam-me: “O que é um monge?”. E, assim,
para responder a esta pergunta, em segundos, fica um pouco complicado. Às vezes
estamos tão apressados que não dar tempo de lhes responder satisfatoriamente para
que entendam o que realmente é um monge. Por isso, desejo neste pequeno texto,
dizer algo a respeito de nós os monges Beneditinos e o que é um monge.
O nome monge/monja são dados àqueles(as) que moram em Mosteiros. Mas,
o que é um mosteiro? Aqui,
outra pergunta que nos fazem. O Mosteiro é um lugar onde moram aqueles que tem
a vocação de viver sempre na presença Deus, rezando as Horas Canônicas da
Igreja (Ofício Divino), e trabalhando
no Mosteiro para o crescimento do Reino de Deus no mundo. A junção do Ofício
Divino e do trabalho que fazemos no Mosteiro, nós os chamamos de ORA ET LABORA. O lema de nossa
Sagrada Ordem do Patriarca São Bento, na língua latina, significa, ORAÇÃO E TRABALHO.
Outro aspécto dos Mosteiros é o silêncio. O silêncio é de grande
importância para nós monges. Pois, é no silêncio, que nós monges, escutamos a
voz de Deus. Por isso, Nosso Pai São Bento escreve na Santa Regra um capítulo
sobre esta virtude; o silêncio. Nos diz São Bento na Regra: “Falando muito não foges ao pecado”, e em
outro lugar: “a morte e a vida estão em poder da língua” (RB 6, 4-5). No
capítulo quarto Nosso Patriarca nos diz ainda: “Não gostar de falar muito (RB
4, 52), esse é um conselho valioso para os monges. Vemos também este tema do
silêncio em toda a Santa Regra. Tal é o seu valor na vida do monge. Ao dar
início a Regra dos Mosteiros, no Prólogo, ele assim nos diz:
“Escuta (escutar com o coração, o silêncio) filho, os preceitos do Mestre, e
inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa eficazmente o
conselho de um bom pai, para que voltes, pelo labor da obediência, àquele de
quem te afastaste pela desídia da desobediência (PRÓLOGO, 1-2).
Pois bem! Ao iniciar a Sagrada Regra
já nos mostra Nosso Pai São Bento o silêncio. E, aquele silêncio, o mais
importante de todas as formas do silêncio, isto é, aquele do coração. Pois, é
sabido que há várias formas de silêncio. Tratarei em outra ocasião deste
assunto.
Exitem vários gêneros de monges. Nosso
Pai São Bento na sua Santa Regra para os Mosteiros, vem nos mostrar várias
espécies de monges, assim nos falando no primeiro capítulo da Regra:
É
sabido que há quatro gêneros de monges. O
primeiro é o dos cenobitas, isto é, o monasterial, dos que militam sob
uma Regra e um Abade. O segundo
gênero é o dos anacoretas, isto é, dos eremitas, daqueles que, não por
um fervor inicial da vida monástica, mas através de provação diurna no
mosteiro, instruídos então na companhia de muitos, aprenderam a lutar contra o
demônio e, bem adestrados nas fileiras fraternas, já estão seguros para a luta
isolada do deserto, sem a consolação de outrem, e aptos para combater com as
próprias mãos e braços, ajudando-os Deus, contra os vícios da carne e dos
pensamentos. O terceiro gênero de
monges, e detestável, é o dos sarabaítas, que, não tendo sido provados,
como o ouro na fornalha, por nenhuma regra, mestra pela experiência, mas
amolecidos como uma natureza de chumbo, conservam-se por suas obras fiéis ao
século, e são conhecidos por mentir a Deus pela tonsura. São aqueles que se
encerram dois ou três ou mesmo sozinhos, sem pastor, não nos apriscos do
Senhor, mas nos seus próprios; a satisfação dos desejos é para eles lei, visto
que tudo quanto julgam dever fazer ou preferem, chamam de santo, e o que não
desejam repudiam ilícito. O quarto
gênero de monges é o chamado de giróvagos, que por toda a sua vida se
hospedam nas diferentes províncias, por três ou quatro dias nas celas de outros
monges, sempre vagando e nunca estáveis, escravos das próprias vontades e das
seduções da gula, e em tudo piores que os sarabaítas. Sobre o misérrimo modo de
vida de todos esses é melhor calar que dizer algo. (RB 1, 1-12).
Há monges cristãos e de outras
confissões. Em nosso país não conhecemos muito a vida destes homens fortes que
se doaram e ainda se doam totalmente no serviço do Reino de Deus e dos seus irmãos
mais necessitados. Se nos voltarmos para a história do Oriente, veremos em
grande número estes homens e também mulheres que viveram santamente em seus
Mosteiros ou nos desertos, ou seja, os Santos monges e monjas.
Um gênero de grande importância para a
vida da Igreja e os quais trago uma grande admiração, são os monges e monjas
eremitas, homens e mulheres que vivem isolados do convívio social (moram nas grutas e nos desertos, ou mesmo em
Mosteiros; rezando, trabalhando, estudando e fazendo penitências), no
Brasil temos como exemplo deste gênero, os monges Cartuxos (Ordem Cartusiana fundada por São Bruno no
século XII. No Brasil existe apenas um Mosteiro masculino desta Ordem).
Os monges cenobitas (este gênero é o mais conhecido) que são
aqueles que vivem em comunidade (Coenóbium)
e são dirigidos por um superior, um Abade. Os monges budistas,
não-cristãos (estes são bastante
conhecidos) que seguem a doutrina de Buda. Os monges Ortodoxos,
cristãos (em grande número no Oriente,
estes trazem uma espiritualidade mística, interior, valiosíssima na vida de
todos nós), e os MONGES BENEDITINOS, (este gênero está intimamente ligado a
história da Europa e também de outros países como o nosso Brasil. Chegaram em
nosso país já no início da colonização, precisamente no ano de 1582, se
estabelecendo na cidade de São Salvador, Bahia). São cristãos que seguem a
Regra de São Bento os quais são cenobitas, ou seja, vivem em comunidade.
Citado acima, o nosso Patriarca São
Bento ao falar dos gêneros dos monges, no primeiro capítulo da Regra, também
vos digo; deixemos de parte as outras espécies, vamos dispor, com o auxílio do
Senhor, sobre o poderosíssimo Gênero dos monges beneditinos.
Como já foi dito, Beneditino provém do
nome Bento, por ser esta Ordem fundada por São Bento de Núrcia, Abade
(480-547). Também em alguns lugares nós monges éramos chamados de, os monges
negros ou os Padres negros por causa da cor dos nossos hábitos, que é da cor
preta. No entanto, nem todos os Mosteiros vestem o hábito negro. Existem
Mosteiros que adotaram outras cores como: a cinza, a creme e branca. Apesar da
cor preta se estabelecer na tradição monástica. Em relação a cor dos nossos hábitos
a Regra diz: “Não se preocupe os monges
com a cor e a qualidade de todas essas coisas, mas sejam as que se puderem
encontrar no lugar onde moram e as que puderem ser adquiridas mais barato”
(RB 55, 7).
No Mosteiro vivemos do nosso trabalho.
A comunidade monástica tem seu roteiro de orações, seguindo os vários sistemas
do Ofícios, que são divididos em A, B e C. Isso fica a critério de cada comunidade monástica estabelecer
qual sistema irão usar. Assim como os horários de suas orações, o Ofício Divino
da Igreja. Nós, os monges, rezamos o Ofício da Igreja, porém com um rito
próprio monástico. Nos horários estabelecidos na comunidade todos os monges são
convocados/chamados pelo sino a igreja monástica para rezarem as Horas
Canônicas da Igreja, o Ofício Divino durante várias vezes ao dia, como verão
abaixo no horário da comunidade da Arquiabadia de São Sebastião da Bahia.
É muito comum às pessoas pensarem que
os monges só rezam e estudam. Enganam-se quem pensa assim. Trabalhamos muito e
rezamos. Por causa disso, muitos procuram os Mosteiros, mas, ao depararem-se
com a realidade monástica, todo aquele ideal que tinha, de monges, apenas
orante e estudiosos, desvanecem e vão embora, muitas vezes decepcionados.
Talvez nem por falta de vocação, mas, porque já vieram para o Mosteiro com
projetos prontos. Raramente isso dá certo. E pasmem! Não era diferente também
entre muitos discípulos de Jesus Cristo, que ficavam escandalizados diante da
vida simples de Cristo e muitos deles abandonavam o Mestre (Jo 6, 60 e 67).
A beleza da nossa Ordem Beneditina
está na variedade de estilo de vida nos nossos Mosteiros. Temos vários tipos de
trabalhos, interno e externo. Possuímos várias linhas de estilos de Mosteiros.
Uns mais reclusos e fechados, outros, mais na linha social, que trabalham com
educação, pastoral, etc. Por isso, nós os monges, deixamos um grande legado
para toda a humanidade. Os conhecedores da História Universal sabem muito bem o
que falo. Grandes arquitetos, Papas, físicos, médicos e médicas, reis e rainhas
príncipes e princesas, inventores, gente de todas as esferas, etc. No entanto,
não só essas pessoas de posses fizeram parte da nossa Ordem, mas também pessoas
de baixo poder aquisitivo. Daí, termos tantos santos, monges e monjas
canonizados em número de mais de 5. 000 cinco mil santos e santas para a glória
do Reino de Deus na terra.
Que Nosso Pai São Bento interceda por
todos nós. Amém.
HORÁRIOS
DA COMUNIDADE
Arquiabadia de São Sebastião da Bahia
Mosteiro de São Bento da Bahia (1582)
Salvador, Bahia – Brasil
Segunda-feira
a sexta-feira
Vigília
às 5: 30
Laudes
com Missa Conventual às 7: 00
Hora
Meridiana às 12: 00
2ª
Missa às 12: 20
Vésperas
às 17: 50
Completas
às 19: 10
Sábado
Vigília
às 5: 30
Laudes
com Missa Conventual às 7: 00
Hora
Meridiana (individual)
Vésperas
às 18: 40
Completas
(individual)
Domingo
Vigília
às 5: 30
Laudes
6: 50
Missa
Conventual às 10: 00
Hora
Meridiana às 12: 00
Vésperas
às 17: 15
Completas
às 19: 10
ALGUNS TIPOS DE MONGES E MONJAS
Monges Beneditinos
Monjas Beneditinas
Monges e monjas Cartuxos
Monges e monjas Cistercienses
Monges Budistas
Monges Ortodoxos
REFERÊNCIAS
ENOUT, Evangelista João. A Regra de São Bento. Latim-Português.
Tradução D. João Evangelista Enout, O.S.B; Rio de Janeiro: LUMEM CHRIST, 1992.
Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 59,7)
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