Dom Gilvan
Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador, Bahia
– 29 de junho de 2018
INTRODUÇÃO
A nossa Sagrada Ordem Beneditina tem um acervo
cultural e espiritual incomparável, bem como, uma multidão de santos, que nem
mesmo, nós, os monges, conhecemos toda a sua riqueza. Ao adentrarmos na
história monástica e na sua espiritualidade, ficamos sempre perplexos ao
descobrirmos coisas novas e sempre atuais com as quais podemos sem dúvida
alguma ajudar os nossos irmãos, para o crescimento do reino de Deus.
Nesta vastidão de tesouros, aqui, concedo aos meus
leitores, quatro grandes mulheres, verdadeiras jóias da Igreja e do monaquismo,
principalmente o monaquismo germânico. Estas viveram no século XIII no mesmo
Mosteiro, na importante Abadia de Helfta na Alemanha. Mulheres que, abertas a
graça de Deus, foram iluminadas pelo Espírito Santo, por isso, deixaram elas um
legado para toda a humanidade e jamais serão esquecidas no tempo como afirma o
Livro dos Provérbios: “Todos esses
foram honrados por seus contemporâneos e glorificados já em seus dias. Alguns
deles deixaram um nome que ainda é citado com elogios (Pr 44, 7-8).
Na Abadia de Helfta, viveram no mesmo período, a
grande Abadessa Gertrudes de Hackeborn, sua irmã Santa Matilde ou
Mectilde de Hackeborn, Santa Gertrudes de Helfta ou Magna,
discípula de Santa Matilde e Santa Matilde ou Mectilde de Magdeburgo.
Por muitos confundirem estas santas monjas, dar-vos-ei uma breve explicação da
vida de cada uma delas, quem ingressou primeiro no Mosteiro e suas obras, para
que assim saibam distingui as Gertrudes e as Matilde ou Mectilde do Mosteiro
de Helfta.
Que Nosso Patriarca São Bento interceda por todos
nós e nos guie sempre Àquele que ele tanto amou e hoje está com Ele no céu. Amém.
AS SANTAS GERTRUDES E
AS MATILDES OU MECTILDES DO MOSTEIRO DE HELFTA – ALEMANHA, AS JOIAS DO
MONAQUISMO GERMÂNICO
Santa Gertrudes de Helfta ou a Grande, O.S.B (1256-1302), é sempre confundida com uma outra
grande Abadessa da importantíssima Abadia de Helfta na Alemanha, a Abadessa Santa Gertrudes de Hackeborn, O.S.B
(1231/32-1291/92). Também são
confundidas outras duas Santas da mesma Abadia. São elas: Santa Matilde ou Mectilde de
Hackeborn, O.S.B (1241/42-1298),
esta era irmã de sangue de Santa Gertrudes de Hackeborn e a outra era Santa Matilde ou Mectilde de Magdeburgo, O.S.B (1207-1282).
Estas quatro Santas são para a Germânia verdadeiras pérolas do cristianismo.
Pois bem,
entendamos como foram as relações dessas Santas e o que representaram na vida
da importante e imponente Abadia de Helfta.
No
imponente Mosteiro de Helfta já existia Gertrudes
de Hackeborn, a qual teve um longo e frutuoso abaciado de 40 anos. Numa
audiência dada pelo nosso querido Papa emérito Bento XVI, em 29 de setembro de
2010, o Pontífice nos fala de Gertrudes de Hackeborn. Nos diz ele:
O Barão já tinha dado ao mosteiro
uma filha, Gertrudes de Hackeborn
(1231/1232 — 1291/1292), dotada de uma personalidade acentuada, Abadessa por
quarenta anos, capaz de dar um cunho peculiar à espiritualidade do mosteiro,
levando-o a um florescimento extraordinário como centro de mística e de
cultura, escola de formação científica e teológica. Gertrudes ofereceu às
monjas uma elevada educação intelectual, que lhes permitia cultivar uma
espiritualidade fundada na Sagrada Escritura, na Liturgia, na Tradição
patrística, na Regra e na espiritualidade cisterciense, com preferência
especial por São Bernardo de Claraval e Guilherme de Saint-Thierry. Foi uma
verdadera mestra, exemplar em tudo, na radicalidade evangélica e no zelo
apostólico. Desde a infância, Matilde acolheu e saboreou o clima espiritual e
cultural criado pela irmã, oferecendo depois a sua contribuição pessoal (BENTO
XVI. Audiência geral - 29 de setembro de 2010).
A sua
irmã Matilde ou Mectilde de Hackeborn, como
queira chama-la, ainda muito jovem, ao visitá-la, na Abadia, fica encantada com
a vida monástica e decide também ingressar para o Mosteiro. Ouçamos mais uma
vez o Papa em sua audiência sobre Santa Matilde de Hackeborn:
Matilde (Hackeborn)
nasce em 1241, ou 1242, no castelo de Helfta; é a terceira filha do Barão. Com
sete anos de idade, visita com a mãe a irmã Gertrudes no mosteiro de
Rodersdorf. Fica tão fascinada por aquele ambiente, que deseja ardentemente
fazer parte dele. Entra como educanda e, em 1258, torna-se monja no convento
que, entretanto, se tinha transferido para Helfta, na quinta dos Hackeborn.
Distingue-se por humildade, fervor, amabilidade, pureza e inocência de vida,
familiaridade e intensidade com que vive a relação com Deus, a Virgem e os
Santos. É dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, como «a
ciência, a inteligência, o conhecimento das letras humanas, a voz de uma
suavidade maravilhosa: tudo a tornava apta para ser no mosteiro um autêntico
tesouro, sob todos os aspectos» (Ibid., Introdução). Assim, «o rouxinol de
Deus» — como é chamada — ainda muito jovem, torna-se diretora da escola do
mosteiro, diretora do coro, mestra das noviças, serviços que desempenha com
talento e zelo incansável, não só em vantagem das monjas, mas de quem quer que
desejasse haurir da sua sabedoria e bondade (BENTO XVI. Audiência geral - 29 de
setembro de 2010).
E
continua o Papa:
A discípula Gertrudes (Santa Gertrudes de Helfta ou a Grande)
descreve com expressões intensas os últimos momentos da vida de Santa Matilde
de Hackeborn, duríssimos mas iluminados pela presença da Beatíssima Trindade,
do Senhor, da Virgem Maria e de todos os Santos, mas inclusive da irmã de
sangue, Gertrudes. Quando chegou a hora em que o Senhor quis chamá-la para
junto de Si, ela pediu-lhe para poder viver ainda no sofrimento, para a
salvação das almas, e Jesus compadeceu-se deste ulterior sinal de amor. […] Matilde
tinha 58 anos. Percorreu a última etapa caracterizada por oito anos de graves
doenças. A sua obra e a sua fama de santidade difundiram-se amplamente. Quando
chegou a sua hora, «o Deus de Majestade... única suavidade da alma que O ama...
cantou-lhe: Venite vos, benedicti Patris mei... Vinde, ó vós que sois os
benditos do meu Pai, vinde receber o reino... e associou-o à sua glória»
(Ibid., VI, 8). (BENTO XVI. Audiência geral - 29 de setembro de 2010).
Aconteceu
que quando Matilde completou 20 anos de idade, ingrassa também uma menina em
tenra idade, chamada Gertrudes;
aquela que depois ficou conhecida como Santa
Gertrudes de Helfta ou a
Grande. Ela é bastante conhecida por causa das visões do Sagrado
Coração de Jesus e por escrever um livro sobre as revelações de Jesus feitas à
Santa Matilde de Hackeborn. Santa Gertrudes de Helfta era discípula de Santa
Matilde de Hackeborn, e tinha outra discípula amiga de Gertrudes, a qual não
conhecemos o seu nome. Gertrudes, juntamente com essa monja foi quem escreveram
um livro onde contam as revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Matilde
de Hackeborn. Pois Santa Matilde de Hackeborn não queria essas revelações
escritas. Por isso, as duas monjas sem que Matilde soubesse iam redigindo tais
revelações. Ao saber, Matilde, dos empreendimentos das suas monjas discípulas,
ficou muito triste e, com isso, queixa-se a Jesus. Porém, Jesus aprova o
trabalho de suas duas discípulas e pede que continuem a escrever o livro que
ainda não tinha terminado de escrever, porque este traria muitas graças para um
grande número de almas. Esta Obra chama-se: “Das graças especiais”.
Por conta desse fato, Santa Matilde de Hackeborn fica no anonimato e Gertrudes
de Helfta em evidência. De Santa Gertrudes nos diz o nosso Santo Padre Bento
XVI:
Em 1261 chegou ao convento uma
criança de cinco anos, chamada Gertrudes: é confiada aos cuidados de Matilde,
com apenas vinte anos, que a educa e guia na vida espiritual, a ponto de fazer
dela não só a discípula excelente, mas também a sua confidente (BENTO XVI.
Audiência geral - 29 de setembro de 2010).
Na
mesma Abadia de Helfta, pouco tempo depois, aparece uma outra Matilde ou Mectilde; a de Magdeburgo, que também começa a ter
visões e revelações do Sagrado Coração de Jesus. Escrevendo, esta, uma
importante Obra chamada “A luz fulgurante da aurora”.
Neste livro ela narra o amor do Sagrado Coração, fala sobre a esposa do Cântico
dos Cânticos, do jardim, sobre a água, dos pássaros, etc. Ouçamos o mesmo
Pontífice falar de Matilde de Magdeburgo:
Em 1271, ou 1272,
entra no mosteiro também Matilde de Magdeburgo. Assim, o lugar acolhe quatro
grandes mulheres — duas Gertrudes e duas Matilde — glória do monaquismo
germânico (BENTO XVI. Audiência geral - 29 de setembro de 2010).
E
ainda:
As suas visões, os
seus ensinamentos e as vicissitudes da sua existência são descritos com expressões
que evocam a linguagem litúrgica e bíblica. É assim que se entende o seu
profundo conhecimento da Sagrada Escritura, que era o seu pão de cada dia.
Recorre a ela continuamente, quer valorizando os textos bíblicos lidos na
liturgia, quer haurindo símbolos, termos, paisagens, imagens e personagens. A
sua predileção é pelo Evangelho: «As palavras do Evangelho eram para ela um
alimento maravilhoso e suscitavam no seu coração sentimentos de tanta
docilidade, que muitas vezes, pelo entusiasmo, não conseguia terminar a sua
leitura... O modo como lia aquelas palavras era tão fervoroso, que em todos
suscitava a devoção. Assim também, quando cantava no coro, vivia totalmente
absorvida em Deus, transportada por tanto ardor que às vezes manifestava os
seus sentimentos com gestos... Outras vezes, como que arrebatada em êxtase, não
ouvia quantos a chamavam ou a moviam, e mal conseguia retomar o sentido das coisas
exteriores» (Ibid., VI, 1) (BENTO XVI. Audiência geral - 29 de setembro de
2010).
Tão importante são estas santas mulheres
do Mosteiro de Helfta, que o escritor e Poeta italiano, Dante Alighieri (1265-1321), faz referência, em sua Obra, a uma
delas - Matilde. Porém, não sabemos, por certo, de qual Matilde ele se refere. Se
a de Hackeborn ou a de Magdeburgo.
Peçamos
sempre ao bom Deus a sua iluminação para que possamos a exemplo dessas
ilustríssimas e santas mulheres ser um sinal de bênçãos para os nossos irmãos e
que contribuamos para o crescimento do seu Reino na terra.
AS QUATRO PÉROLAS DO MOSTEIRO
DE HELFTA – ALEMANHA
A GLÓRIA DO
MONAQUISMO GERMÂNICO
1- Abadessa Gertrudes de
Hackeborn, O.S.B
(1231/32-1291/92)
2- Santa Matilde ou Mectilde de
Hackeborn, O.S.B
(1241/42-1298)
3- Santa Gertrudes de Helfta
ou Magna, O.S.B
(1256-1302)
4- Santa Matilde ou Mectilde de
Magdeburgo, O.S.B
(1207-1282)
REFERÊNCIAS
GERTRUDES, Santa. Segredos do Coração de Jesus. Revelações
de Santa Gertrudes, livro II / Santa Gertrudes; [tradução: Celso da Costa
Carvalho Vidigal]. – Artpress – São Paulo, 2011.
______, Santa. Mensagem do amor de Deus. Revelações de Santa
Gertrudes, livro III / Santa Gertrudes; [tradução: Celso da Costa Carvalho
Vidigal]. – Artpress – São Paulo, 2009.
MARTIRIOLÓGIO
ROMANO-MONÁSTICO. Abadia de São Pierre de Solesmes / traduzido e adaptado para
o Brasil pelos monges do Mosteiro da Ressurreição / Ponta Grossa, PR - Mosteiro
da Ressurreição, edições, 1997.
Ut In Omnibus Glorificetur Dei (RB 57, 9)
Boa tarde. Aonde posso comprar o livro "das graças especiais"? Obrigado
ResponderExcluirNão tenho conhecimento de nenhuma livraria que possa vender tal obra. São Obras já esgotadas.
ExcluirSim. Você pode comprar em português, um bom resumo do "Livro da Graça Especial. Revelações a Santa Mechtilde de Hackeborn":
Excluirlivro "O Amor do Sagrado Coração" do Padre Granger, O.S.B. Editora da Divina Misericórdia Ltda. 2017. 231 p. Belo Horizonte. Fone (31)3461.5489