sábado, 13 de dezembro de 2025

 

VIDA E MORTE DO MUITO REV.DO Pe. PREGADOR FREI ANTÔNIO (FLORÊNCIO) VENTURA, FUNDADOR DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA - 1582

 

- Em 1581 foi decidido pelo Capítulo Geral da Congregação Lusitana com Sede no Mosteiro de São Martinho de Tibães, Portugal a fundação do Mosteiro da Bahia no Brasil.

 

- Pela Páscoa do ano de 1582 com a vinda dos monges foi fundado o Mosteiro de São Bento na cidade do São Salvador na Bahia – Brasil, tendo como seu primeiro superior o Muito Reverendo Padre Abade Frei Antônio (Florêncio) Ventura.

 

- A 13 de outubro de 1584 o Mosteiro foi erigido em Abadia (primeira Abadia em toda a América).


13 DE DEZEMBRO

O primeiro monge que faleceu neste Mosteiro foi o seu fundador, o Muito Reverendo Padre Pregador, FREI ANTONIO VENTURA. A vida e a morte deste primeiro Prelado e fundador deste Mosteiro eram dignas de uma pena, que com vivas expressões soubesse representar à posteridade as heróicas ações de seu zelo, de seu trabalho e de seu desvelo.

Em idade avançada se achava este perfeito religioso quando lhe deram a notícia de que ele fora nomeado para a fundação da religião beneditina nos estados do Brasil. Não deixaram de se lhe apresentar as dificuldades do emprego, porém ele fiado nos acertos da obediência, sem repugnância se encarregou dos trabalhos que sabia que o esperava por mar e por terra. Vencidos os primeiros e chegando a essa terra, tomou posse das casas e capelas que lhe foram entregues. Elegeu por seu Prior o Padre Frei Antônio Ferraz e presentes os demais religiosos lhes apresentou a importância do negócio a que vieram e o trabalho de que estavam encarregados, como era o de fundar um convento; que eles tinham achado pela mercê do mesmo Senhor as vontades dos moradores e agora de sua parte lhes podia empenhar-se com todas as forças, primeiramente no serviço de Deus e depois no trabalho da religião, para o qual estavam destinados, e finalmente lhes advertia tanto das esmolas para fundar o Mosteiro, como do patrimônio para a sustentação dos monges.

Estes e outros paternais avisos e suaves conselhos receberam os súditos com as lágrimas nos olhos e com o respeito devido a um Prelado cheio de zelo da honra de Deus e adiantamento da sua religião. Mandou dar princípio à obra com tanto fervor, que logo deu a conhecer Deus, dentro e fora do Mosteiro, que o adotara de valor e disposição para as causas grandes.

Já entre os monges não se fala mais de descanso, todos trabalham, todos desvelam, nenhum se isenta, estão prontos para tudo. Como a obra corria por conta de Deus, em breve tempo se viu com grandes aumentos de sorte que o fundador em seus dias chegou a ver o convento quase pronto e completo, e com patrimônio suficiente para aumentar os religiosos que bastassem para cumprir com as obrigações do coro e outros atos da comunidade.

Divulgada a fama pelas partes do Brasil, que nesse tempo estavam descobertas do muito que se empregavam aqueles perfeitos religiosos nos divinos louvores, de dia e de noite, como também a grande aceitação com que estavam na opinião de todos, adquiridas não pelos caminhos da lisonja mas sim pelos exercícios das virtudes, os moradores da cidade do Rio de Janeiro solicitaram do Muito Reverendo Padre Fundador que lhes mandassem monges para nela levantarem um Mosteiro, para o qual queriam concorrer com o necessário para lhe dar princípio. Ele, condescendendo com os seus louváveis desejos, lhes mandou aqueles dois exemplares da paciência, o Padre Frei Pedro Ferraz, que era seu Prior, e o Padre Frei João Porcalho por seu companheiro, os quais partiram deste Mosteiro na opinião mais bem fundada no fim do ano de 1586. Naquelas terras, onde primeiro que eles tinha chegado a notícia de suas virtudes, desempenharam com o acerto das disposições e com a exemplaridade de suas vidas tudo o que se esperava de sua perfeita observância.

Passados sete anos e alguns meses em contínuo trabalho de dia e de noite, depois de deixar fundado um mosteiro estabelecido com patrimônio suficiente para a sua conservação, destituído já de forças para a vida laboriosa, entrou a preparar-se para a morte, que todos os dias esperava. Foi nele aumentando uma moléstia que padecia e desenganado de estarem completos os seus dias, mandou chamar os religiosos e fazendo uma prática em que lhes advertia como Prelado e os avisava como pai a que fossem perfeitos. Se despediu de todos com muitas lágrimas e eles com muitas mais, por se verem privados da companhia de um Prelado que por mar e por terra sempre os tratava com amizade e amor de pai. Entregou ao seu Prior, Frei Plácido da Esperança, o governo da casa e dispondo-se com muitos atos de piedade e amor de Deus, falecendo com a graça dos sacramentos. Pôs termo a sua peregrinação, deixando-nos o exemplo de sua ajustada vida como um a certado ditame para conseguirmos a perfeição religiosa. Faleceu em 13 de dezembro de 1591.

Governou três anos como Abade e três como Presidente, por falecimento de seu sucessor, o Muito Reverendo Padre Frei Luiz do Espirito Santo, que morreu vindo embarcado para esta terra. Na pedra de sua sepultura se descobrem as letras do seu nome, na porta da sacristia, onde foi enterrado com as honras devidas ao se lugar e pessoa. (DB – 001)


LÁPIDE TUMULAR DO FREI ANTÕNIO VENTURA SITUADA À PORTA DA SALA CAPITULAR DO MOSTEIRO.



RESTOS MORTAIS DO NOSSO MUITO REV.DO Pe. PREGADOR FREI ANTÔNIO (FLORÊNCIO) VENTURA, FUNDADOR DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA NO ANO DE 1582 E FALECIDO EM 13 DE DEZEMBRO DE 1591.



REFERÊNCIAS

DIETÁRIO dos monges que faleceram no Arquicenóbio da Bahia. Unificado – primeira impressão (vol. 31 da memória da comunidade). Salvador – Bahia, MMVI


Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)

 

 


sábado, 1 de novembro de 2025

 

UMA ROTA A SEGUIR SEM SE PERDER

Dom Gilvan Francisco dos Santos, OSB

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 1º de novembro de 2025

Quem não possui um foco, uma direção para seguir, e um lugar para chegar, certamente se perderão no seu trajeto. Pois, para quem devemos olhar? Para onde se dirigir? Em qual lugar devemos chegar? A nossa caminhada de fé deve ser assim. Portanto, todo cristão deve ter em mente um foco que é Jesus Cristo, o caminho que nos dará a direção para seguir, que é o mundo com seus mais variados momentos felizes e tristes, e o lugar da chegada, que é o céu. Se assim não for, não terá nenhum sentido a nossa vida cristã. Para seguir nessa trilogia cristã, sem se perder nessa rota, o próprio Jesus nos dirá: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12). Este é um conselho valioso do Senhor para todos nós. Leiamos a passagem anterior a essa, e veremos que ocorre aquele importante episódio da mulher pega em adultério, e diante desse contexto Jesus vai se mostrar como a luz do mundo. Ou seja, quem anda com Jesus, estará na luz e não se perderá no caminho por mais difícil que este seja, ou por mais que o homem tenha pecado em sua vida. Portanto, deve haver uma conversão de vida. Jesus é pura compaixão e amor.

Nesse contexto da conversão, eu comparo a caminhada de fé cristã com uma longa viagem que todos nós teremos que fazer, porém, não uma viagem confortável de automóvel e sempre em caminhos asfaltados e belos. Tenhamos a certeza que essa longa ou curta viagem, nós a faremos em uma densa, perigosa e grande floresta, onde, nela encontraremos de tudo um pouco. Iremos encontrar pessoas de todos os tipos; boas e más, de diversas faixas etárias, com diversos poderes aquisitivos diversos. Porém, encontraremos também flores, deliciosas frutas, sombra, água fresca, bem como espinhos, pedras grandes e pequenas para removermos ou para escalarmos, barrancos íngremes, rios caudalosos, pântanos, lamaçais, animais de todas as espécies e uma infinidade de outros obstáculos, de coisas boas e más. Cada um no seu trajeto saberá das suas dificuldades nessa densa floresta que terá que atravessar para chegar ao seu destino.

Nessa caminhada de fé cada um de nós é que iremos resolver a nossa vida em face dos obstáculo que aparecerem, seja na tristeza ou na felicidade. Claro que nos ajudando uns aos outros, mas dependerá de nós como viveremos nessa grande floresta do mundo. Nesse trajeto muitos pararão diante dos elementos que foram apresentados e outros. Uns se perderão no caminho, outros pararão cansados e dormirão. Outros ficarão inebriados com a beleza das flores, as águas frescas e das sombras das árvores. Outros com o peso cansaço desfalecerão sem ânimo religioso. Outros ainda não saberão mais porque estão caminhando e para onde vão. Perderão assim o seu foco, a sua direção para seguir, e o lugar onde deveria chegar.

Nesse trajeto da fé, muitas vezes olharemos para o céu, mas não o enxergaremos por causa das copas das árvores com suas densas folhagens e da imensidão da floresta com os seus muitos obstáculos. Por isso, muitos cristãos caem no desespero achando que tudo está acabado em sua vida. Com o verdadeiro cristão isso não deve acontecer. Os verdadeiros seguidores de Jesus não esquecem o que o seu Mestre lhes disse: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12). Portanto, deveremos ser resolutos em tudo o que fizermos e termos a convicção que o foco central é Jesus Cristo nosso Senhor, que a caminhada com suas mais variadas formas é necessária para a nossa vida neste mundo, e em qual lugar iremos chegar, que é o céu, o Reino de Deus. Tenhamos coragem! Sejamos sempre prudentes diante das dificuldades. Nelas, paremos um pouco, reflitamos a situação para acharmos soluções. Depois recobremos as nossas forças e sigamos em frente na direção que almejamos, ou seja, o Cristo e o Reino de Deus.

Sabemos que o caminho da fé não é fácil, mas o Senhor nos ensinou: Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a salvará. Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se se perder ou arruinar a si mesmo? Pois quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, o Filho do Homem dele se envergonhará, quando vier em sua glória e na do Pai e dos santos anjos. (Lc 9,23-26). Cf. Lc 14,27; Mt 10,38; 16,24-27; Mc 14,27; Jo 12,25. Então diante das dificuldades que aparecerem na nossa caminhada da vida cristã, não fujamos dela; enfrentemo-la com coragem; o Senhor mais uma vez nos diz: No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57,9)

 


domingo, 16 de março de 2025

VOCAÇÃO - UM PRESENTE DE DEUS PARA NÓS

Dom Gilvan Francisco dos Santos, OSB

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 16 de março de 2025

2º Domingo da Quaresma

A verdadeira Vocação acontece quando ouvimos a voz de Deus que nos diz: “Sai da tua terra” ou “Segue-me” e, ao ouvi-lo, deixamos imediatamente tudo e o seguimos com ardor e amor ao seu chamado; fortalecendo-se sempre a cada dia pela oração e os trabalhos diários esse convite de Deus, em união com Jesus Cristo nosso Mestre, para o crescimento do seu Reino na terra. (Dom Gilvan Francisco, O.S.B).

A Vocação, seja ela qual for, é um presente de Deus para nós. Pois, ela é um chamado de Deus para uma missão ou uma função específica para ser desempenhada na vida social, leiga, matrimonial e profissional ou especificamente na vida eclesial, ou seja, na vocação sacerdotal e religiosa.

É importante estarmos sempre atentos a que tipo de vocação nós fomos chamados a desempenhar e se verdadeiramente somos felizes na missão que recebemos de Deus e aceitamos. Por esse motivo, é importante sempre nos perguntarmos: Qual a missão que eu recebi de Deus? Como eu devo agir diante da missão que eu recebi? Eu sou feliz na missão que Deus me concedeu? Essas perguntas são importantes para sabermos se estamos no caminho certo indicado pelo Senhor. Sabemos que cada chamado acontece de forma individual, mesmo sendo este para uma mesma missão, a forma do chamado e o trabalho que será executado em qualquer instituição, será sempre diferente para cada pessoa. É bom sempre sabermos que que o chamado divino é também um precioso convite para uma grande aventura da fé, pois sempre haverá incertezas na caminhada missionária e grandes desafios, caminhos estreitos, pedregosos, espinhosos e portas apertadas para entrar (cf. Mt 7,13-14; 10,38; Lc 9,62; 10,1-16; 13,24; At 20,23-24). Nós cristãos já conhecemos bem a história do Patriarca Abraão, o pai da fé, o primeiro a ser chamado por Deus nas Escrituras; vemos isso com clareza na narração do livro do Gênesis. Como Deus outrora falou para Abraão, assim nos fala ainda hoje: Sai da tua terra (Gn 12,1) e, no Evangelho, Jesus vai chamar os seus primeiros discípulo dizendo: Segue-me(Mt 4,19.21), tanto Abraão, quanto os discípulos de Jesus, não hesitaram em escutar e seguir imediatamente ao chamado de Deus.

Para uma melhor compreensão do termo Vocação, etimologicamente essa palavra vem do latim vocare, que significa "chamar", "convocar" ou "escolher". A cada pessoa Deus chama, escolhe de um modo diferente. Chamado e vocação estão interligados. A Vocação é um chamado específico de Deus para uma missão específica a ser desempenhada. Portanto, não esqueçamos que todos nós somos chamados por Deus, por primeiro, para santidade. Pois, essa é a missão de todo cristão. E dentro desse chamado a santidade, somos escolhidos para uma missão específica; o que chamamos propriamente de vocação.

A resposta a Deus caberá somente a nós; pois, temos a liberdade de dizermos sim ou não ao seu chamado. Um outro grande presente de Deus, ou seja, a nossa liberdade. Ele nada impõe ao ser humano. Essa é a beleza do cristianismo.

Para uma melhor análise da questão vocacional, vejamos quais são os tipos de vocação propriamente ditas? São elas: A Vocação laical, a Vocação religiosa, Vocação sacerdotal, Vocação matrimonial e Vocação profissional. Todas elas tem o seu próprio campo de ação pastoral. Nenhuma delas é menos importante que a outra.

Já vimos que nas sagradas Escrituras, Abraão é a primeira pessoa a ser chamado por Deus para uma vocação e missão específica. (Gn 12,1-3). Dele, partem todos os outros chamados do Antigo e do Novo Testamento. Por esse motivo, temos Abraão como o pai da fé.


Iahweh disse a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai e vai para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serão benditos todos os clãs da terra. E Abrão partiu, como lhe disse Iahweh. (Gn 12,1-4).

Interessante que Deus usa o verbo hebraico halak e, este é usado no imperativo, ou seja, “Sai” (sair, partir, andar). E Abraão na sua liberdade tem duas opções, aceitar ou não ao chamado de divino. Mas ele aceitou a proposta de Deus. “Abraão creu no Senhor, e lhe foi tido em conta de justiça” (Gn 15,6). No Novo Testamento, São Paulo, nas suas cartas, vai se valer dessa passagem de Gênesis (cf. Rm 4; Gl 3,6ss).

No Novo Testamento, Jesus, faz o seu primeiro chamado. Ao encontrar os dois irmãos Simão Pedro e André, os convoca para segui-lo: “Estando ele a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: “Segue-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Eles deixando imediatamente as redes, o seguiram (Mt 4,18-20). E, mais adiante, Jesus chama a Tiago filho de Zebedeu, e também o seu irmão João. “Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, a concertar as redes. E os chamou. Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram (Mt 4,21-22).

Assim Jesus vai escolhendo todos os seus seguidores. Com Levi (Mateus), o cobrador de impostos, Jesus faz a mesma proposta dos primeiros a serem chamados: “E tornou a sair para a beira-mar, e toda a multidão ia até ele; e ele os ensinava. Ao passar, viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: “Segue-me”. Ele se levantou e o seguiu (Mc 2,14; Mt 9,9; Lc 5,27-28). Atualmente não é diferente o chamado que Jesus nos faz. O Segui-me está direcionado a todos os cristãos que amam a Deus.

Só seremos verdadeiros discípulos de Jesus, quando vivemos com amor e ardor a nossa verdadeira vocação recebida de Deus. Assim, com a nossa vida podemos glorificar a Deus com a missão que nos concedeu. O próprio Jesus nos ensina: “Meu Pai é glorificado quando produzis muito fruto e vos tornais meus discípulos” (Jo 15,8). Por isso, uma vocação frustrada não poderá glorificar a Deus e nem dá frutos para a vida eterna; e, dessa maneira, não seremos discípulos de Jesus. Daí a importância de sempre nos perguntarmos: Será que esta é verdadeiramente a Vocação / Missão a que Deus me chamou, ou é apenas um capricho meu, uma fuga? A isso, somente cada um poderá responder para Deus e para si mesmo.

Há muitas vocações frustradas que nada fazem para o Reino de Deus; e ainda perturbam os que querem seguir verdadeiramente ao seu chamado. Geralmente aqueles que não se encontraram na sua vocação, sofrem, e fazem outros sofrerem com ele, por diversos meios comunitários e sociais. Por isso, nós devemos ter a certeza do que queremos e o amor ao que abraçamos. É muito importante o discurso de Jesus para aqueles que desejavam segui-lo, mas sem a certeza da missão divina que receberiam. Por esse motivo, ouçamos o Evangelho:


Enquanto prosseguiam viagem, alguém lhe disse na estrada: “Eu te seguirei para onde quer que vás”. Ao que Jesus respondeu: “As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Disse a outro: “Segue-me”. Este respondeu: Permite-me ir primeiro enterrar meu pai”. Ele replicou: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus”. Outro disse-lhe ainda: “Eu te seguirei, Senhor, mas permite-me primeiro despedir-me dos que estão em minha casa”. Jesus, porém, lhe respondeu: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Mt 9,57-62).

Dando seguimento a esse discurso do chamado, Jesus envia em missão setenta e dois discípulos dando-lhes as instruções e as propostas da missão, “[...] A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita” (Lc 10,1-12). Interessante que Jesus nesse capítulo do envio, ele vai proferir alguns “ais” para aqueles que não receberem bem os seus enviados. “Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nós a sacudimos para deixa-la para vós. [...]. Ai de ti, Corazim! A de ti, Betsaida! [...]. E tu, Cafarnaum, te elevarás até o céu? Antes, até o inferno descerás! (Lc 10,10-15). E termina o seu discurso dizendo: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou” (Lc 10,16).

Todos nós temos uma vocação na vida e quem tem a certeza da sua vocação no mundo, creia que isso é uma grande graça de Deus.

É preocupante e muito triste vermos muitas pessoas com vocações erradas e infelizes na sua escolha de vida. Porém, muitas das vezes o comodismo e a vida fácil para eles, em algumas das instituições que escolheram, os levaram a fazerem essa escolha; porém, a curto ou longo prazo, aparecerão os problemas próprios da tal escolha que fizeram. Por isso, vemos tantos escândalos espalhados pelo mundo em todas as esferas sociais e religiosa. O Papa Francisco constantemente alerta a Igreja e o mundo para essa situação delicada.


Nos últimos anos, o Papa Francisco tem denunciado repetidamente a dinâmica de poder dentro da Igreja, criticando abertamente os padres movidos por ambições pessoais, chamando-os de "carreiristas", "mundanos" e "clericais". No entanto, observando as realidades eclesiais, emerge claramente que o problema mais urgente e em muito maior quantidade são os "leigos autoritários", que usam a Igreja como um espaço para consolidar seu poder pessoal. [...] relatou frequentemente episódios que destacam como alguns indivíduos, para emergir no panorama eclesial, recorrem a métodos vergonhosos com falsas acusações para destruir aqueles que não lhes deram o que queriam ou que são aqueles que os impedem de obtê-lo. Este fenômeno é transversal e está presente em vários contextos: paróquias, oratórios, dioceses, conventos, seminários e até mesmo no Vaticano. Muitas vezes, são jovens que, não conseguindo encontrar seu próprio espaço na sociedade civil, buscam refúgio em estruturas eclesiásticas. Alguns tentam entrar em seminários ou mosteiros, mas são rejeitados por falta de adequação. Contudo, o que os atrai não é o desejo de servir a Deus e à sua Igreja, mas sim a possibilidade de usar um hábito – a batina ou o hábito – como símbolo de autoridade. (Cf. https://silerenonpossum.com/it/pontificioateneosantanselmo-marcocardinali-scandalo).

Em relação a estes problemas estamos atravessando uma crise gigantesca em todas as esferas sociais e eclesiais. Seja do lado do clero ou dos leigos, todos se encontram enquadrados nesse mal atual. Por isso, devemos cultivar, regar e ter a certeza da nossa vocação, seja ela qual for. Essa certeza nos faz felizes e nos ajuda a superar qualquer obstáculo que nos apareça. Daí a sua grande importância.

Para um melhor esclarecimento leiamos todo o capítulo terceiro da segunda carta de São Paulo a Timóteo, que tem como título: Advertência contra os perigos dos últimos tempos, o qual nos ensina com muita sabedoria e inspiração do Espírito Santo sobre os assuntos atuais que estamos tratando. Ele, assim nos fala:


Sabe, porém, o seguinte: nos últimos dias sobrevirão momentos difíceis. Os homens serão egoístas, gananciosos, jactanciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; guardarão as aparências da piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Afasta-te também destes. Entre estes se encontram os que se introduzem nas casas e conseguem cativar mulherzinhas carregadas de pecados, possuídas de toda sorte de desejos, sempre aprendendo, mas sem jamais poder atingir o conhecimento da verdade. Do mesmo modo como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, assim também estes se opõem à verdade; são homens de espírito corrupto, de fé inconsistente. Mas eles não irão muito adiante, pois a sua loucura será manifesta a todos, como o foi a daqueles. Tu, porém, me tens seguido de perto no ensino, na conduta, nos projetos, na fé, na longanimidade, na caridade, na perseverança, nas perseguições, nos sofrimentos que conheci em Antioquia, em Icônio, em Listra. Que perseguições eu sofri! E de todas me livrou o Senhor! Aliás, todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão perseguidos. Quanto aos homens maus e impostores, progredirão no mal, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as sagradas Letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra. (2Tm 3,1-17).

Esse capítulo é muito importante porque faz uma análise minuciosa da época, mostrando assim as dificuldades no seguimento de Cristo, os erros daqueles que não querem seguir os caminhos de Jesus, terminando com importantes conselhos e pistas para uma boa vida e vivência cristã, bem como os que permanecem firmes na fé e na vocação que abraçaram, certos que estão no caminho indicado por Deus, ou seja, a verdadeira Vocação.

Por isso, ouçamos sempre o nosso Mestre Jesus Cristo: “Disse, então, Jesus aos judeus que nele haviam crido: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8,31-32). Esse permanecer significa a prática dos ensinamentos divinos.

Peçamos sempre a iluminação do Espírito Santo na nossa caminhada de fé cristã, para que sejamos felizes na nossa missão recebida de Deus. Pois, repito com toda a certeza que: A nossa Vocação é um presente de Deus para nós!


TEXTOS BÍBLICOS SOBRE O CHAMADO

- Mc 3,14 – Jesus ora, escolhe e chama.

- Mt 19,16-22 – O jovem rico.

- Lc 6,12-13 – Jesus ora, escolhe e chama. (A escolha dos 12 Apóstolos).

- Lc 5,10 – Vocação dos quatros primeiros discípulos. A eles jesus diz: “Não tenhas medo”. E a Pedro diz: “Serás pescador de homens”.

- Cl 2,2 – Ânimo nos corações. O ardor na missão recebida.

- 2Cor 4,7 – Tesouro em vaso de barro.

- 2Cor 12,9 – Vencedor na fraqueza.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

Acesso em 03 de março de 2025:

https://silerenonpossum.com/it/pontificioateneosantanselmo-marcocardinali-scandalo/?fbclid=IwZXh0bgNhZW0CMTAAAR1HnrHYxqOWPOeas7cOdCdVmEKxE10AHlOGYEXgzhBdciudK4O6tpqUfVE_aem_uuHuj3h5wOYZRXg_lTEC1g

Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)