Desenho montado por Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B, em 29/02/2016.
(Monge Beneditino)
Salvador - BA - 25 de fevereiro de 2016
Porque escrever é uma arte?
Sabemos muito bem que arte não consiste apenas numa escultura, uma pintura, o
fabricar de um belo móvel etc. Escutamos muito as pessoas dizendo no dia-a-dia
uma frase que muitas vezes não damos quase atenção a ela. Qual seja? “Hoje,
contemplei uma bela obra de arte!”; dirigindo-se assim a um belo
bosque, a um corpo humano, ou a uma simples estante bem arrumada em sua casa ou
em casa de seu amigo. Enfim… a tanta coisa que lhe causou conforto,
alegria, entusiasmo etc. Corretíssima é essa afirmação! Pois, arte é
tudo aquilo que enche os nossos olhos, o que causa um certo alívio no
nosso espírito, estupor, contemplação, alegria, prazer, calma; em resumo, tudo
o que move o nosso espírito para o bem e as virtudes.
Pois bem, o escrever eu
considero uma arte! E, lhes direi o porque considero.
Ao referir-me a escrita não me
limito a beleza das letras bem desenhadas, as cores que usamos o decoro do
livro, ou ao papel no qual escrevemos. Mas, a própria atitude do escrever. É
bem verdade que estes materiais dão uma beleza, um outro tom, uma aguçada na
visão de quem contempla a obra completa.
A satisfação que temos em colocar
de forma organizada as nossas ideias, os nossos anseios, os pensamentos que
formulamos em nossa memória é simplesmente a isso que me refiro como arte.
Ao sentarmos para escrever
qualquer texto, a primeira coisa que fazemos é vasculharmos a nossa mente
formulando de maneira organizada o turbilhão de coisas que escutamos ao longo
da nossa vida, bem como as ideias que temos daquilo que aprendemos. Coisas as
quais nem sabemos quando aprendemos ou quando as escutamos. Apenas surgem em
nossa memória, e assim passamos para o papel ou memória digital. Isso é o
formidável! É esta a arte do escrever que me refiro.
Um gramático que possui muito
saber, ou uma pessoa simples que não entende absolutamente nada da gramática, o
processo é o mesmo no que ousadamente chamarei aqui de: “o êxtase no
escrever”. O que acontece é apenas a maneira de expressar o que cada um
deles quer passar para a sua escrita, o seu texto.
O primeiro, com um texto mais
rebuscado, porque este tem o manejo nas palavras. Assim, expõem de maneira bela,
o assunto que deseja transmitir. Enquanto o segundo, na sua linguagem simples,
mais também bela, tanto quanto o primeiro, traz a sua beleza própria. Cada um
expressando-se como sabe e o que sabe. Nisto está a beleza da
escrita.
Sugiro a você. Faça uma
experiência e assim você sentirá esta sensação da qual me refiro. Tente
encontrar um texto que você escreveu em algum momento passado de sua vida.
Leia-o, e o sinta. Você verá que a experiência que sentirá será completamente
diferente daquela quando foi escrito. Até a maneira de pensar você perceberá a
diferença. Com isso, você verá se houve progresso na sua vida intelectual, espiritual
ou não. Este exercício ajudará bastante no seu crescimento intelectual, moral e
espiritual.
O que desejo expressar aqui não é
aquele sentido de que fala Schopenhauer no seu livro “A arte de escrever”,
onde o filósofo faz variadas críticas aos que escrevem, pensam etc. Meu
intento aqui, é mostrar a beleza do escrever, o gozo, “o êxtase” que
sentimos na execução desta arte de grande valor. O poder do nosso pensar,
da nossa mente. Porém, não devemos banalizar esta belíssima arte,
escrevendo de modo aleatório tudo o que vem em nossa memória, pois nela também
trazemos coisas nocivas a nossa vida e a vida dos outros. Portanto, fiquemos
atentos a nossa arte da escrita. Este presente valiosíssimo que recebemos dos
nossos queridos pais, professores e outros que nos ajudaram na caminhada. Pois,
por meio do que escrevemos podemos fazer grandes coisas! Sejam boas ou más.
Portanto, aproveitemos este dom dado a nós por Deus e, façamos o bem a todos aqueles
que entrarem em contato com nossa bela arte, o Escrever.
Ut In Omnibus
Glorificetur Deus (RB 57,9)
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