São Bento - Montecassino - Itália
Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador - BA – 1º de julho de 2016
A Ordem do Patriarca São Bento foi a primeira a ser
instituída na Igreja, pois antes já existiam monges eremitas e algumas
comunidades monásticas no oriente e ocidente. O próprio São Bento chama a São
Basílio de pai na sua Regra, bem como ele próprio foi convidado na gruta em que
vivia na solidão como eremita a três anos, para ser Abade dos monges de
Vicovaro. “Ele por muito tempo recusou o
convite, porque previa que os costumes daqueles irmãos não estavam de acordo
com os seus. Mas depois, vencido pela insistência, acabou por aceitá-lo”
(Diálogo cap. 3).
Vicovaro era um mosteiro próximo dali, em que o Abade
daquela comunidade havia morrido e onde Bento sofreu uma tentativa de
assassinato pelos membros da mesma comunidade, por não ser o novo Abade
conivente com suas práticas perversas. Com isso, Bento levanta sereno de sua
mesa e volta a sua amada solidão na gruta em que antes vivia.
A tentativa de assassinato deu-se na hora da refeição
quando os monges descontentes com o Abade Bento, apresenta-lhe uma taça de
vinho contendo veneno. Quando o Abade abençoa aquela bebida mortífera a taça se
parte derramando assim aquela bebida mortal. Por causa desse fato São Bento é
representado na arte cristã com uma taça na mão contendo nela uma serpente. São
Bento que possuía o dom de ler os espíritos, vendo a maldade daqueles monges,
exorta-os com brandura e bondade e volta a sua vida de eremita na gruta de
Subiaco. Ouçamos São Gregório Magno a respeito deste fato:
“Levantando-se imediatamente da mesa, mas
mantendo inalteradas a suavidade do rosto e a tranquilidade do espírito, reuniu
os monges ao seu redor e disse-lhes: “Deus onipotente vos perdoe, irmãos. Porque
fizeram isto contra mim? Eu não vos disse que os meus costumes não se
conciliariam com os vossos? Portanto, procurem um pai que esteja em
conformidade com os vossos costumes, porque depois do que aconteceu não poderei
continuar como vosso abade” (Diálogo cap. 3).
O milagre da taça de vinho com veneno que se
quebrou com a bênção de São Bento
Outro fato marcante na vida do Servo de Deus foi outra
tentativa de assassinato por um sacerdote chamado Florêncio. Nos diz São
Gregório:
“Sabe-se que os maus invejam as virtudes dos
bons e nada fazem para conquistá-las. Ora, aconteceu que o sacerdote de uma
igreja vizinha, chamado Florêncio, antecessor do nosso subdiácono Florêncio,
instigado pelo diabo, começou a invejar o bem que o santo fazia, a denegrir o
seu modo de viver e a dissuadir tantos quantos pudesse a que não o visitassem.
Mais viu que não podia impedir os seus progressos, ou melhor, apecebeu-se que a
fama se difundia cada vez mais e que muitos se voltavam a vida monástica,
atraídos pela sua santidade. Florêncio, devorado pela inveja, tornou-se ainda
pior, pois desejava para si os louvores que Bento recebia pela sua vida santa,
sem que ele próprio tivesse uma vida louvável” (Diálogo Cap. 8).
Sabendo este sacerdote perverso que não tinha como
atingir Bento, toma a decisão de assassiná-lo enviando-lhe um pão envenenado. “A inveja o cegou de tal maneira que chegou
a mandar ao santo um pão envenenado, como se fosse pão abençoado. O homem de
Deus aceitou, agradecendo calorosamente, mas não lhe ficou oculta a cilada que
se ocultava no pão” (Diálogo Cap. 8). A hora da refeição São Bento
alimentava um corvo e pede a esta ave que leve aquele pão envenenado e o
esconda onde ninguém possa encontrá-lo. A ave exita por um instante em obedecer
a ordem dada por Bento mas com a insistência do servo de Deus obedece. Por isso
São bento também pode ser representado com um corvo.
A gruta onde São Bento viveu por três anos
No entanto, aquele homem de Deus não poderia permanecer
escondido naquela gruta. Através dos seus exemplos de santidade, lhes aparecem
várias pessoas desejosas em seguir a mesma vida do servo de Deus, obrigando-o
assim a formar comunidades a sua volta pela grande quantidade de seguidores que
a Subiaco acorrem. Como nos diz São Gregório Magno nos seus Diálogos: “Pela vida santa que levava, o seu nome
agora tornara-se famoso” (Diálogo Cap. 3). Com isso, Bento começa a
organização da comunidade. Organização tal que a Igreja mais tarde toma estas
normas de vida comunitária (Regra dos Mosteiros), para todas as comunidades
nascentes posteriores. Essas normas eram chamadas Regra dos Mosteiros, e hoje a
chamamos de Santa Regra ou Regra de São Bento nela encontramos
todos os ensinamentos de Nosso Pai São Bento.
Manuscrito da Santa Regra
Os ensinamentos de Nosso Pai São Bento, espalhou-se pelo
mundo com a fundação de Mosteiros por todo o orbe; organizando as culturas os
povos, engrandecendo a arte, a escrita, fundando universidades, organizando a
vida espiritual dos homens, etc.
Portanto, podemos ver a ação de Deus nesta Ordem que já
possui mais de 1500 anos de fundação e ainda hoje vigora com a ajuda do Espírito
Santo na promoção dos seres humanos para o crescimento do reino de Deus no
mundo.
O Abade Bento
São Bento e o rei Tótila
Refeição na comunidade
São Bento com os seus monges
São Mauro e São Plácido São entregues aos cuidados de São Bento
São Bento saindo para fundar Montecassino
São Bento e Santa Escolástica são representados com o rei de França
A morte do Glorioso Pai São Bento
Túmulo do Nosso Pai São Bento
Urna com as relíquias de São Bento
FUNDAÇÃO DA CONGREGAÇÃO
BENEDITINA DO BRASIL
Para uma melhor compreensão, as quatro abadias fundadas
no século XVI no novo mundo, foram: Abadia
de São Sebastião a primeira a ser fundada em 1582 no Estado da Bahia em São
Salvador, a segunda fundação deu-se em 1586 e 1592 no Estado de Pernambuco em
Olinda tendo como padroeiro São
Bento, a terceira realizou-se em 1590 no Estado do Rio de Janeiro a qual foi
dedicada a Nossa Senhora de Montserrate
e finalmente a quarta em 1598 no Estado de São Paulo também dedicada a Virgem
Maria, com o nome de Abadia de Nossa
Senhora da Assunção.
Pois bem, estas Abadias estiveram ligadas a Portugal até
o ano de 1827 quando foram desligadas da Congregação Luzitana, com Sede no Mosteiro
de Tibães.
A Congregação de Portugal foi criada pelo Santo Padre o
Papa Pio V. Dom José Endres nos diz:
“Entretanto o Santo Padre o Papa Pio V,
concedeu as bulas desejadas. Por isso, o Senhor Cardeal D. Enrique pediu ao
Geral da Espanha enviasse pela 2ª vez o Pe. Fr. Pedro de Chaves para a execução
delas. Em Alcobaça deram-lhe o Rei e o Senhor Cardeal, executor das bulas de
SS. o Papa Pio V. o título e dignidade de Dom Abade de Tibães, Casa destinada a
ser a cabeça da nova Congregação em Portugal, a 22 de julho de 1569. Foi
nomeado Geral por 10 anos, conforme o decreto pontifício que lhe facultava
designar Geral e Abades para qualquer mosteiro que vagasse” (ENDRES, p. 29).
Sendo assim, tudo que era executado nos mosteiros do
Brasil dependia do aval da Abadia de São Martinho de Tibães em Portugal. Isso
ocorreu até 1º de julho do ano de 1827 quando da criação da Congregação
Beneditina do Brasil, desligando assim as citadas Abadias brasileiras, da
Congregação Luzitana, pela Bula “Inter
gravissimas curas” do Santo Padre o Papa Leão XII. Assim proclama o
Papa no valioso documento:
“Sendo…efetivamente constituída a nova
Congregação dos monges de S. Bento do Império do Brasil, nós lhe liberalizamos,
para sempre, todos os privilégios, isenções, honrarias prerogativas de que
consta que dantes foram ligitimamente concedidos à congênere Congregação
existente em Portugal” (Bula “Inter
gravissimas curas” de 1 de julho de 1827. Col. Doc. n.º 26 e 27). (ENDRES, p.
142).
Glorificação de São Bento - Montecassino - Itália
Glorificação
Aqui, desejo reverenciar também a figura veneranda
daquele que diante de muitos sofrimentos não permitiu que a Ordem de São Bento
acabasse no Brasil, o grande restaurador o Abade Frei Domingos da Transfiguração
Machado, nosso primeiro Abade Geral vitalício.
Abade Geral vitalício Frei Domingos da Transfiguração Machado
Que Nosso Pai São Bento interceda por todos nós! Amém.
REFERÊNCIAS
ENDRES, Lohr José. A
Ordem de São Bento no Brasil quando Província 1582-1827. Salvador – BA: Editora
Beneditina Ltda.
GREGÓRIO MAGNO, São.
São Bento: Vida e Milagres / São Gregório Magno; Dom Gregório Paixão, O.S.B.
Salvador: Edições São Bento, 2002.
Ut In Omnibus
Glorificetur Dei
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