quinta-feira, 30 de junho de 2016

A SAGRADA ORDEM DO PATRIARCA SÃO BENTO E A CONGREGAÇÃO BENEDITINA DO BRASIL

São Bento - Montecassino - Itália

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador - BA – 1º de julho de 2016

A Ordem do Patriarca São Bento foi a primeira a ser instituída na Igreja, pois antes já existiam monges eremitas e algumas comunidades monásticas no oriente e ocidente. O próprio São Bento chama a São Basílio de pai na sua Regra, bem como ele próprio foi convidado na gruta em que vivia na solidão como eremita a três anos, para ser Abade dos monges de Vicovaro. “Ele por muito tempo recusou o convite, porque previa que os costumes daqueles irmãos não estavam de acordo com os seus. Mas depois, vencido pela insistência, acabou por aceitá-lo” (Diálogo cap. 3). 

Vicovaro era um mosteiro próximo dali, em que o Abade daquela comunidade havia morrido e onde Bento sofreu uma tentativa de assassinato pelos membros da mesma comunidade, por não ser o novo Abade conivente com suas práticas perversas. Com isso, Bento levanta sereno de sua mesa e volta a sua amada solidão na gruta em que antes vivia.

A tentativa de assassinato deu-se na hora da refeição quando os monges descontentes com o Abade Bento, apresenta-lhe uma taça de vinho contendo veneno. Quando o Abade abençoa aquela bebida mortífera a taça se parte derramando assim aquela bebida mortal. Por causa desse fato São Bento é representado na arte cristã com uma taça na mão contendo nela uma serpente. São Bento que possuía o dom de ler os espíritos, vendo a maldade daqueles monges, exorta-os com brandura e bondade e volta a sua vida de eremita na gruta de Subiaco. Ouçamos São Gregório Magno a respeito deste fato:

“Levantando-se imediatamente da mesa, mas mantendo inalteradas a suavidade do rosto e a tranquilidade do espírito, reuniu os monges ao seu redor e disse-lhes: “Deus onipotente vos perdoe, irmãos. Porque fizeram isto contra mim? Eu não vos disse que os meus costumes não se conciliariam com os vossos? Portanto, procurem um pai que esteja em conformidade com os vossos costumes, porque depois do que aconteceu não poderei continuar como vosso abade” (Diálogo cap. 3).  

O milagre da taça de vinho com veneno que se 
quebrou com a bênção de São Bento

Outro fato marcante na vida do Servo de Deus foi outra tentativa de assassinato por um sacerdote chamado Florêncio. Nos diz São Gregório:

“Sabe-se que os maus invejam as virtudes dos bons e nada fazem para conquistá-las. Ora, aconteceu que o sacerdote de uma igreja vizinha, chamado Florêncio, antecessor do nosso subdiácono Florêncio, instigado pelo diabo, começou a invejar o bem que o santo fazia, a denegrir o seu modo de viver e a dissuadir tantos quantos pudesse a que não o visitassem. Mais viu que não podia impedir os seus progressos, ou melhor, apecebeu-se que a fama se difundia cada vez mais e que muitos se voltavam a vida monástica, atraídos pela sua santidade. Florêncio, devorado pela inveja, tornou-se ainda pior, pois desejava para si os louvores que Bento recebia pela sua vida santa, sem que ele próprio tivesse uma vida louvável” (Diálogo Cap. 8).

Sabendo este sacerdote perverso que não tinha como atingir Bento, toma a decisão de assassiná-lo enviando-lhe um pão envenenado. “A inveja o cegou de tal maneira que chegou a mandar ao santo um pão envenenado, como se fosse pão abençoado. O homem de Deus aceitou, agradecendo calorosamente, mas não lhe ficou oculta a cilada que se ocultava no pão” (Diálogo Cap. 8). A hora da refeição São Bento alimentava um corvo e pede a esta ave que leve aquele pão envenenado e o esconda onde ninguém possa encontrá-lo. A ave exita por um instante em obedecer a ordem dada por Bento mas com a insistência do servo de Deus obedece. Por isso São bento também pode ser representado com um corvo. 

A gruta onde São Bento viveu por três anos

No entanto, aquele homem de Deus não poderia permanecer escondido naquela gruta. Através dos seus exemplos de santidade, lhes aparecem várias pessoas desejosas em seguir a mesma vida do servo de Deus, obrigando-o assim a formar comunidades a sua volta pela grande quantidade de seguidores que a Subiaco acorrem. Como nos diz São Gregório Magno nos seus Diálogos: “Pela vida santa que levava, o seu nome agora tornara-se famoso” (Diálogo Cap. 3). Com isso, Bento começa a organização da comunidade. Organização tal que a Igreja mais tarde toma estas normas de vida comunitária (Regra dos Mosteiros), para todas as comunidades nascentes posteriores. Essas normas eram chamadas Regra dos Mosteiros, e hoje a chamamos de Santa Regra ou Regra de São Bento nela encontramos todos os ensinamentos de Nosso Pai São Bento.
Manuscrito da Santa Regra de São Bento

Manuscrito da Santa Regra

Os ensinamentos de Nosso Pai São Bento, espalhou-se pelo mundo com a fundação de Mosteiros por todo o orbe; organizando as culturas os povos, engrandecendo a arte, a escrita, fundando universidades, organizando a vida espiritual dos homens, etc.

Portanto, podemos ver a ação de Deus nesta Ordem que já possui mais de 1500 anos de fundação e ainda hoje vigora com a ajuda do Espírito Santo na promoção dos seres humanos para o crescimento do reino de Deus no mundo.

O Abade Bento

São Bento e o rei Tótila

Refeição na comunidade

São Bento com os seus monges


São Mauro e São Plácido São entregues aos cuidados de São Bento

São Bento saindo para fundar Montecassino

São Bento e Santa Escolástica são representados com o rei de França

A morte do Glorioso Pai São Bento

Túmulo do Nosso Pai São Bento

Urna com as relíquias de São Bento 



FUNDAÇÃO DA CONGREGAÇÃO BENEDITINA DO BRASIL

Armas da Congregação Beneditina do Brasil 


Brasão da Congregação Beneditina do Brasil
Para uma melhor compreensão, as quatro abadias fundadas no século XVI no novo mundo, foram: Abadia de São Sebastião a primeira a ser fundada em 1582 no Estado da Bahia em São Salvador, a segunda fundação deu-se em 1586 e 1592 no Estado de Pernambuco em Olinda tendo como padroeiro  São Bento, a terceira realizou-se em 1590 no Estado do Rio de Janeiro a qual foi dedicada a Nossa Senhora de Montserrate e finalmente a quarta em 1598 no Estado de São Paulo também dedicada a Virgem Maria, com o nome de Abadia de Nossa Senhora da Assunção.

Pois bem, estas Abadias estiveram ligadas a Portugal até o ano de 1827 quando foram desligadas da Congregação Luzitana, com Sede no Mosteiro de Tibães.
A Congregação de Portugal foi criada pelo Santo Padre o Papa Pio V. Dom José Endres nos diz:

“Entretanto o Santo Padre o Papa Pio V, concedeu as bulas desejadas. Por isso, o Senhor Cardeal D. Enrique pediu ao Geral da Espanha enviasse pela 2ª vez o Pe. Fr. Pedro de Chaves para a execução delas. Em Alcobaça deram-lhe o Rei e o Senhor Cardeal, executor das bulas de SS. o Papa Pio V. o título e dignidade de Dom Abade de Tibães, Casa destinada a ser a cabeça da nova Congregação em Portugal, a 22 de julho de 1569. Foi nomeado Geral por 10 anos, conforme o decreto pontifício que lhe facultava designar Geral e Abades para qualquer mosteiro que vagasse” (ENDRES, p. 29).

Sendo assim, tudo que era executado nos mosteiros do Brasil dependia do aval da Abadia de São Martinho de Tibães em Portugal. Isso ocorreu até 1º de julho do ano de 1827 quando da criação da Congregação Beneditina do Brasil, desligando assim as citadas Abadias brasileiras, da Congregação Luzitana, pela Bula “Inter gravissimas curas” do Santo Padre o Papa Leão XII. Assim proclama o Papa no valioso documento:

“Sendo…efetivamente constituída a nova Congregação dos monges de S. Bento do Império do Brasil, nós lhe liberalizamos, para sempre, todos os privilégios, isenções, honrarias prerogativas de que consta que dantes foram ligitimamente concedidos à congênere Congregação existente em Portugal” (Bula “Inter gravissimas curas” de 1 de julho de 1827. Col. Doc. n.º 26 e 27). (ENDRES, p. 142).

Papa Leão XII


Brasão do Papa Leão XII

Glorificação de São Bento - Montecassino - Itália

Glorificação

Aqui, desejo reverenciar também a figura veneranda daquele que diante de muitos sofrimentos não permitiu que a Ordem de São Bento acabasse no Brasil, o grande restaurador o Abade Frei Domingos da Transfiguração Machado, nosso primeiro Abade Geral vitalício. 

Abade Geral vitalício Frei Domingos da Transfiguração Machado 




Que Nosso Pai São Bento interceda por todos nós! Amém.


REFERÊNCIAS

ENDRES, Lohr José. A Ordem de São Bento no Brasil quando Província 1582-1827. Salvador – BA: Editora Beneditina Ltda.


GREGÓRIO MAGNO, São. São Bento: Vida e Milagres / São Gregório Magno; Dom Gregório Paixão, O.S.B. Salvador: Edições São Bento, 2002. 


Ut In Omnibus Glorificetur Dei

Nenhum comentário:

Postar um comentário