segunda-feira, 25 de novembro de 2024

ALGUMAS DIFICULDADES ATUAIS NA CAMINHADA DA VIDA CRISTÃ (III)

 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 25 de novembro de 2024


"É necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia”. (Lc 9,22)

Dou início a essa reflexão com o versículo acima citado onde São Lucas nos ensina a termos forças para seguir a Jesus Cristo, nessa perícope ele vem nos mostrar que o percurso da vida humana não é fácil; principalmente em relação ao seguimento religioso. Mas, fiquemos certos de que Deus não se alegra com os sofrimentos dos homens, pois se ele sentisse prazer nisso, ele seria um Deus masoquista, sádico, e isso não faz parte da sua natureza. Ele nos criou para a felicidade, porém com o ingresso do mal no mundo, ingressou também o pecado e os sofrimentos. (Cf. Gn 3,1-24; 4,1-26). Portanto, vivemos imersos nas alegrias e também nas amarguras, as quais nos seguirão até alcançarmos a felicidade plena e eterna como nos prometeu Jesus Cristo em seus ensinamentos. Os verdadeiros cristãos devem ter essa consciência das promessas de Jesus.

Constantemente vemos uma parcela significativa de pessoas que não conseguem mais enxergar a vida como um conjunto de sentimentos, ações, relações. Uns ficam presos na busca desenfreada pela felicidade plena aqui neste mundo, e sabemos bem que isso não é possível; enquanto outros acreditam na inexistência da felicidade vivendo num constante sofrimento o que também não é correto pensar. Enquanto estivermos nesse corpo mortal viveremos as duas realidades, ou seja, momentos de alegrias e sucessos, bem como momentos de tristezas, perdas e fracassos. Podemos até dizer que isso é natural em nossa existência humana.

Na vida cristã há diversas dificuldades a serem enfrentadas por nós e será algumas delas que iremos analisar aqui.

A primeira delas é o avanço da secularização um fator preocupante em relação a busca de Deus e da felicidade e também das relações humanas. Por causa disso, os homens estão se isolando praticamente de tudo o que é necessário para a vida em sociedade. Não sabendo ele que esse comportamento a longo ou curto prazo lhe trará sérios problemas corporais, espirituais e psicológicos.

Com a chegada das redes sociais e o seu mau uso o homem tornou-se mais pobre de conhecimentos sólidos, portanto, suscetível a abandonarem suas crenças, abalando assim a sua fé e seu credo. Com isso não desejo dizer que as redes sócias sejam ruim; ela é uma ferramenta extraordinária para fazer o bem, para evangelizar, para a ciência e tantas outras áreas do conhecimento. O problema está no uso incorreto desses meios de comunicação. Vemos e escutamos todos os dias tantos e variados crimes cometidos através da internet e outros meios de comunicações sociais. É devido a esse mau uso que os homens ficam titubeante e perdidos num turbilhão de informações de todos os tipos que aparecem constantemente em nossas casas ou setores de trabalhos, em relação não só a fé, mas a outras realidades de nossas vidas. Por essa razão, eles não conseguem enxergar ou com muito custo, analisarem questões sociais e religiosas a sua volta, assim não sabendo firmar-se numa linha de pensamento e muito menos ancorar-se naquilo que lhe foi passado pelos seus antepassados, seus pais e educadores. Eis o grande problema atual. A cada avanço e a cada dia percebemos claramente ser uma geração enfraquecida. Existem muito vazio, e daí nascem muitas doenças psicológicas, psicossomáticas, depressão, ansiedades, desavenças entre famílias, entre amigos, nos setores de trabalho e muitas coisas nocivas à saúde e a vida do homem na terra.

Diante dessa realidade perigosa, e sufocante a fé fica comprometida e os homens tornam-se fracos em todos os aspectos, gerando situações nunca vistas, mudando assim o curso de suas vidas e o curso natural da história universal.

É interessante que todos esses problemas atuais atingem de forma significativa a nossa fé cristã e também a todos os outros credos. Jesus já advertia os apóstolos quando perguntava aos discípulos: “que diz os homens que eu sou?” Eles responderam: “uns pensam que és Elias ou alguns dos Profetas”. Mas Jesus lhes pergunta querendo assim saber se eles estavam mesmo firmes no que acreditavam: “e voz quem dizeis que eu sou?” Fazendo essa pergunta, Jesus quer deixar claro que devemos ter certeza do que acreditamos e o que seguimos, e a resposta de São Pedro é bem direta. “Tu és o Cristo filho de Deus vivo”. Isso sim, é ter a certeza no que se acredita. Isso é ter fé.

Se formos a segunda epístola a São Timóteo, assim ele se expressa: “Eis por que sofro estas coisas. Todavia não me envergonho, porque eu sei em quem depositei a minha fé, e estou certo de que ele tem o poder para guardar o meu depósito, até aquele dia”. (2Tm 1,12). Ou seja, até o dia da nossa pascoa definitiva para Deus. Portanto a certeza no que e em quem acreditamos é imprescindível para a caminhada cristã de fé.

As constantes e as rápidas mudanças, bem como as muitas informações que são transmitidas e muitas vezes impostas sobre nós, continuam a nos empobrecer a cada dia mais. Tornando assim mais difícil conseguirmos nos firmar num assunto ou mesmo em uma linha de pensamento que nos ajude nas nossas questões pessoais, religiosas e sociais. Muitos não conseguem mais ter consistência e uma certa consciência no que expõem e bem menos no que acreditam. As vezes ficam mirabolando em assuntos que nem tem competência para expor, falando e fazendo coisas absurdas em relação a sua crença e as dos outros. Uma coisa detestável aos olhos de Deus. Pois Deus é pura verdade e caridade (amor). Em razão disso, vemos tantas pessoas com deficiências cognitivas, com défice de atenção, falando e fazendo tantas coisas estranhas que as vezes custamos a acreditar em certas atitudes e falas de muitos. Vivendo de aparências. Pessoas de plástico.

Essas pessoas que vivem de aparências geralmente em nada conseguem se firmar e na mais das vezes não tem a capacidade de aprenderem o que quer que seja. As suas mentes estão atrofiadas. Isso é uma questão humana muito séria. Por isso vemos os conflitos nos relacionamentos o esfriamento nas amizades, a preguiça para as resoluções de questões sociais sérias, e necessárias, bem como muitos outros males que surgem a cada dia.

Portanto, nós cristãos devemos estar atentos todos os dias as nossas atitudes humanas e as nossas relações humanas; principalmente aos nossos comportamentos em relação a fé e a religião que seguimos e acreditamos. A nós que dizemos seguir e amar a Jesus Cristo nosso Mestre, dizemos constantemente sermos cristãos, mas, muitas vezes as nossas ações dizem o contrário. Cuidado! E cuidemo-nos! Só seremos cristãos verdadeiros se realmente nos configurarmos a Cristo o Senhor da vida e da História. Por conseguinte, devemos nos perguntar todos os dias ou mesmo várias vezes durante o dia:  Somos bons e verdadeiros cristãos? (Cf. verdadeiros cristãos. I) Eu estou configurado ao meu Senhor Jesus Cristo a quem eu acredito, amo e sigo? (Cf. Os absurdos atuais em relação a fé cristã. II) Basta aqui essas duas perguntas para refletirmos na nossa caminhada de fé.  Em detrimento de ambas, a resposta nós a daremos com as nossas ações e o conhecimento que tivermos do Cristo Jesus.

Analisando várias situações diárias, quantas vezes nós dizemos em vários momentos que seguir a Cristo não é fácil. Pois para isso, implica renúncias, dores físicas e espirituais, humilhações e perdas e tantas outras dificuldades e muitos sofrimentos. Fazemos belos discursos, homilias, conferências para retiros, etc, em relação a esse seguimento e ao amor que devemos ter para com Jesus, mas na prática tudo é bem diferente das teorias e das palavras que proferimos. É muito comum o nosso desejo de seguir a Cristo com uma vida cômoda, feliz, isento de problemas e dores. É verdadeiramente aí que nascem as complicações da vida e da caminhada de fé. A falta de coerência, a hipocrisia e outros vícios que cultivamos e mimamos em nossas almas.

Não há outro caminho para seguir a Cristo que não seja pelo sofrimento. Isso não quer dizer que o homem deve ser amargurado, abatido. Nada disso. O verdadeiro cristão não se abate e muito menos se amargura diante dos sofrimentos. Ele vive e enfrenta tudo com força, resignação e fé n’Aquele que ele diz ser seu Deus e o seu Mestre, o próprio Jesus Cristo. Vemos que muitas vezes as dificuldades e dores são para nos fortalecermos mais na fé. Sabemos que o sucesso sempre vem pelos trabalhos que desempenhamos bem, ou seja, o nosso coroamento pelas fadigas enfrentadas com coragem.

Jesus na sua humanidade era um homem pleno, apesar de tantos sofrimentos desde o seu nascimento, infância, juventude, até a sua morte a qual foi tão violenta. Mas no final dos sofrimentos humanos ele ressuscitou glorioso como o Senhor de tudo com o Pai. Por isso, ele nos ensinou: Dizia ele a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a salvará. Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se se perder ou arruinar a si mesmo? Pois quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, o Filho do Homem dele se envergonhará, quando vier em sua glória e na do Pai e dos santos anjos. (Lc 9,23-26). Cf. Lc 14,27; Mt 10,38; 16,24-27; Mc 14,27; Jo 12,25.

Então diante das dificuldades que aparecerem na nossa caminhada da vida cristã não fujamos dela; enfrentemo-la com coragem. Não sejamos como o Profeta Jonas que ao ser chamado por Deus para ir a pregar na cidade de Nínive, ele foge da missão recebida. Muitas vezes essa também é a nossa atitude diante da missão que recebemos de Deus. Fugirmos da sua face e missão. “A palavra de Iahweh foi dirigida a Jonas, filho de Amati: “Levanta-te, e vai a Nínive, a grande cidade, e anuncia contra ela que a sua maldade chegou até mim”. E Jonas levantou-se para fugir para Társis, para longe da face de Iahweh. Ele desceu a Jope e encontrou um navio que ia para Társis, pagou a passagem e embarcou para ir com eles para Társis, para longe da face de Iahweh”. (Jn 1,1-3). Nós somos como Jonas. É bom lermos todo o livro para que entendamos bem o que Deus lhe pede. E ainda podemos ver no capítulo quarto o profeta aborrecido com a ação de Deus. (Jn 4,6-11). Esse livro é importante para a nossa missão.

Realmente as coisas acontecem dessa maneira: quando estamos bem de saúde, de vida estabilizada, de bem com os amigos e familiares, etc. Falamos a Deus que o amamos e jamais o deixaremos; bem como tantas outras juras de amor fazemos diante d’Ele, no entanto, quando acontece qualquer sofrimento ou perda ou até um aborrecimento qualquer, as vezes dificuldades pequenas e já mudamos de atitude diante de Deus. Já o vemos com outros olhos. Tudo o que dissemos anteriormente, parece que esquecemos completamente. Dizemos que ele nos puniu, nos esqueceu, nos abandonou, perguntamos onde Ele estava? Por que deixou isso acontecer comigo ou com o outro? E outros inúmeros questionamentos sem fundamento nenhum que verdadeiros cristãos que dizemos ser, jamais deveríamos fazer a Deus, que é onisciente (sabe de tudo). Pois é! É bom constantemente nos perguntarmos. Onde está o bom cristão que dizíamos ser enquanto estávamos bem? Estas são algumas das dificuldades atuais; a falta de conhecimento e de fé no que acreditamos. A cada dia a Igreja encontra e enfrenta inúmeras dificuldades diante de uma geração enfraquecida e perdida nos seus conceitos principalmente os da fé. Geração que trazem muitas bagagens teóricas, porém, pouco aprofundamento nelas. Portanto, tudo isso atinge de modo direto e indireto a caminhada e a vida da Igreja. Diante de todas essas e outras dificuldades que nos aparecer estejamos atentos para não sermos enganados pelo inimigo de Cristo. Peçamos sempre a luz do Espírito Santo para que ele nos guie e nos ilumine na grande caminhada que nos conduz a Deus. Também nos lembremos sempre do que nos disse o nosso bom Pastor Jesus Cristo: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas”. (Jo 10,14-15).


Cf. Devemos ser verdadeiros cristãos. (I)

Cf. Os absurdos atuais em relação a fé cristã. (II)


REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57,9)

 


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

OS ABSURDOS ATUAIS EM RELAÇÃO A FÉ CRISTÃ. (II)

 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 23 de outubro de 2024


"Houve, contudo, também falsos profetas no seio do povo, como haverá entre vós falsos mestres, os quais trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou e trazendo sobre si repentina destruição. Muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e, por causa deles, o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios; mas seu julgamento há muito está em ação e a sua destruição não tarda”. (2Pd 2,1-3). 

Já tendo analisado um pouco como devemos ser verdadeiros cristãos (I), agora passemos a análise de alguns absurdos que aparecem constantemente em relação ao seguimento da nossa fé cristã. Problemas sérios que afetam diretamente a nossa vida como um todo.

A história da humanidade, das religiões, das instituições, das seitas, das famílias, em fim, das relações humanas em geral, sempre foram muito complexas e delicadas. Sempre houve, há, e haverá muitos absurdos referentes a fé e a vida cristã e não só a elas, mas, em qualquer outra crença abraçada. O homem, por estar sempre buscando respostas pelo que não conhece completamente, ou seja, o mistério, muitas vezes criam ou se agarram a coisas que não estão em conformidade com o modo de vida que ele diz abraçar. Isso é muito comum, principalmente na sociedade atual. A insegurança na crença que diz ter, a falta do conhecimento do que segue e do que acreditam, faz o seguidor se desviar do caminho que dizem seguir. Não se aprofundam mais no seguimento escolhido. Escutamos muito essa expressão: “Eu gosto dessa linha de seguimento, então, eu sigo sem problema nenhum para o que eu acredito”. Isso é uma falácia. Há muitas coisas que gostamos, sim, fora da nossa crença, mas não convém a fé que abraçamos. Isso é em relação a qualquer outra crença e não só a cristã. Por causa desse pensamento temos muitas dificuldades no caminho escolhido, muitas discórdias, divisões e diversos sofrimentos.

As relações humanas com o cosmos, com o seu próximo, com os animais, com a natureza, etc, na mais da vezes sempre foram e são muito complexas, conflituosas e confusas. Isso é tão certo, que muitas realidades humanas não entendemos nem em relação a nós mesmos; certos atos nossos e reações que praticamos, seja em relação a nós mesmos, ou ao que está fora, a nossa volta. É justamente isso que nos tornam seres tão complexos. Porquanto, todo esse emaranhado de coisas e reações nossas são a causa muitas vezes dos conflitos gerados em nós, e entre nós humanos, também com a natureza e os outros seres, ou seja, a causa de muitos sofrimentos na história universal.

Vemos surgir a cada dia opiniões muitas vezes estranhas a sociedade, a fé, aos bons costumes; opiniões e conceitos que estão fora da caridade e das outras virtudes. Conceitos bizarros em relação a vida, a religião, a família, a educação. Notícias falsas de todos os tipos, constantes golpes, crimes cometidos em nome de Deus e da religião, profecias falsas que a muitos deixam aterrorizados, e estagnados no caminho, etc. Tudo isso, estão deixando as pessoas anestesiadas, impermeabilizadas, desconfiadas uma das outras, enlouquecidas diante das relações com os outros e tudo o que está a sua volta. Pessoas tão perdidas nos seus conceitos cristãos que não conseguem mais caminhar naturalmente na fé. Vemos uma grande quantidade de pessoas com depressão, ansiedades, com diversos problemas de saúde, com doenças de todos os tipos e psicologicamente perturbadas. Isso é um fato e uma séria realidade social e eclesial. O corpo humano não consegue guardar e digerir tantas informações e mudanças repentinas, bem como uma grande injeção de coisas nocivas a sua existência e a sua fé. Parece-me que não mais estão percebendo a gravidade dessas mudanças sociais e eclesiais que a cada dia só pioram. Portanto, faz-se necessário pararmos um pouco para refletirmos a cada dia como estamos seguindo a nossa fé cristã. Não só a cristã, mais qualquer outra linha de pensamento que abraçamos para a nossa vida, e, com isso, nos perguntemos sempre diante dessas situações mundiais: como estou vivendo em meio a tantas coisas nocivas que nos apresentam constantemente? E, O que devo guardar dos conceitos constantemente apresentados, para que eu tenha uma vida saudável? Devemos ficar alerta, pois muitas coisas são apresentadas como boas, mas por trás não são. Então, mais cedo ou mais tarde, nos fará um grande mal.

Sabemos que sempre houve na história muitas interpretações falsas e com isso também muitas profecias falsas na caminhada da Igreja e da humanidade. Porém, nos dias atuais estas falsas interpretações e falsas profecias se tornaram mais perigosas em detrimento das redes sociais, a globalização, e o alcance mundial que tem as plataformas digitais. O que hoje é lançado, mesmo de um lugar remoto, repercute no mundo inteiro com mais ou menos intensidade, porém repercute. E numa rapidez impressionante. Vemos as claras um turbilhão de maluquices, memes pesados com as coisas sagradas, sátiras em relação a sérios assuntos humanitários e instituições, interpretações de todos os tipos por muitos que não tem nenhuma competência filosófica nem teológica, os quais fazem muitos cristãos que não tem uma boa instrução teológica e muitas vezes formação adequada, ao menos o básico, caírem em muitas heresias e desvios da fé. Heresias, estas que já foram resolvidas por séculos pelos Concílios da Igreja com a inspiração do Espírito Santo. É por causa disso, que vemos uma grande quantidade de gente na Igreja ou em qualquer outra credo, que nada fazem ou mesmo perturbam a estrutura. Estão ali apenas por estar. São seguidores falaciosos que carregam apenas o nome da religião que dizem seguir.

Para nós cristão, as sagradas Escrituras será sempre o livro inspirado onde devemos como verdadeiros cristãos, buscar as respostas do bom seguimento do Senhor Jesus Cristo e não nos deixarmos enganar por qualquer profecias ou interpretações errôneas que escutarmos. São Pedro, na sua carta, com muita sabedoria nos alerta sobre isso, ao dizer: “Temos, também por mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d'alva em nossos corações. Antes de mais nada, sabei isso: que nenhuma profecia da Escritura resulta de interpretação particular, pois que a profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens impelidos pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus”. (2Pd 1,20-21). Portanto, tenhamos muito cuidado e atenção quanto a isso! Há muitos falsos doutores que nada tem de inspiração divina, mas deseja guiar a muitos nos seus próprios rebanhos e não no rebanho do Senhor Jesus Cristo.

Muitos atualmente por não se encontrarem mais consigo mesmos, nem com os outros, criam seus próprios mundos, suas ideias e seus conceitos sobre tudo, principalmente sobre as religiões. Estes, tentam colocar, quase que impondo na cabeça das pessoas, conceitos errôneos sobre as religiões, os governos, os sistemas a séculos já consolidados e corretos, propagando pensamentos de ódio e muitas vezes até contra a vida. Eles, não querem mais se adequar a nada que esteja fora do seu pensamento e das suas ideias, daí nascem as desmistificações das coisas imprescindíveis a vida humana, que é a caridade fraterna, a amizade, o cuidado do corpo, e da natureza em geral. Na mais das vezes, estas pessoas não possuem um vasto conhecimento dos assuntos que eles vomitam e querem impor para a sociedade, são rasos e vazios. Portanto, tenhamos cuidado com o que concordarmos e o que devemos guardar em nossas mentes ou repassarmos para outros!

Os dias atuais como os de outrora, estão cheios de falsos doutores. Enganamo-nos ao dizermos que os tempos antigos eram melhores que os atuais. Cada tempo tem as suas particularidades. A história sempre se repete, apenas de uma forma diferente. Tudo o que vemos nos dias atuais, sempre existiu. Hoje, de forma diferente, porque são tempos diferentes, é claro. São Pedro na sua carta nos dirá: “Houve, contudo, também falsos profetas no seio do povo, como haverá entre vós falsos mestres, os quais trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou e trazendo sobre si repentina destruição. Muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e, por causa deles, o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios; mas seu julgamento há muito está em ação e a sua destruição não tarda”. (2Pd 2,1-3). Tudo isso que São Pedro ensina e alerta os cristãos nos primeiros séculos da Igreja, acaso há diferença nos dias atuais?

Por essa razão que devemos estar sempre atentos para não cairmos em ciladas. Fugamos das paixões e sigamos a justiça, numa luta contra os perigos atuais dos falsos doutores e profetas, os perigos da globalização. Na epístola segundo São Timóteo temos vários conselhos para um bom seguimento de Cristo. Um deles é este: “Foge das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, a caridade, a paz com aqueles que, de coração puro, invocam o Senhor. Repele as questões insensatas e não educativas. Tu sabes que elas geram brigas. Ora, o servo do Senhor não deve brigar; deve ser manso para com todos, competente no ensino, paciente na tribulação. É com suavidade que deve educar os opositores, na expectativa de que Deus lhe dará não só a conversão para o conhecimento da verdade, mas também o retorno à sensatez, libertando-os do laço do diabo, que eu tinha cativos de sua vontade”. (2Tm 2,22-26).

Para um melhor esclarecimento leiamos todo o capítulo terceiro da segunda carta de São Timóteo, que tem como título: Advertência contra os perigos dos últimos tempos, o qual nos ensina com muita sabedoria e inspiração do Espírito Santo sobre os assuntos que estamos tratando. Ele, assim nos fala:

“Sabe, porém, o seguinte: nos últimos dias sobrevirão momentos difíceis. Os homens serão egoístas, gananciosos, jactanciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; guardarão as aparências da piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Afasta-te também destes. Entre estes se encontram os que se introduzem nas casas e conseguem cativar mulherzinhas carregadas de pecados, possuídas de toda sorte de desejos, sempre aprendendo, mas sem jamais poder atingir o conhecimento da verdade. Do mesmo modo como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, assim também estes se opõem à verdade; são homens de espírito corrupto, de fé inconsistente. Mas eles não irão muito adiante, pois a sua loucura será manifesta a todos, como o foi a daqueles. Tu, porém, me tens seguido de perto no ensino, na conduta, nos projetos, na fé, na longanimidade, na caridade, na perseverança, nas perseguições, nos sofrimentos que conheci em Antioquia, em Icônio, em Listra. Que perseguições eu sofri! E de todas me livrou o Senhor! Aliás, todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão perseguidos. Quanto aos homens maus e impostores, progredirão no mal, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as sagradas Letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra”. (2Tm 3,1-17). Esse capítulo é muito importante porque faz uma análise minuciosa da época, mostrando assim as dificuldades no seguimento de Cristo, os erros daquele que não querem seguir os caminhos de Jesus e termina dando importantes conselhos e pistas para uma boa vida e vivência cristã.

Mesmo diante de tantas dificuldades, sofrimentos e fadigas, sejamos sempre fortes na fé que abraçamos. Ninguém ressuscita se não morrer, ou seja, para conseguirmos a coroa de glória que Deus preparou para cada um de nós, teremos que passar pela cruz. O próprio Jesus Cristo nos mostrou isso com a sua santa vida. Ele passou pela Paixão, Morte e, por fim a Ressurreição. Fugir da cruz não é atitude de verdadeiro cristão. Abracemos com amor e resignação a cruz que foi posta ou imposta em nossos ombros, pois cada um sabe bem qual é a sua. Saibamos que, a nossa fé sempre será provada como o ouro na fornalha. Não permitamos que a nossa fé seja vacilante. Ouçamos a São Tiago nos ensina: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam”. (Tg 1,12).

Diante de tudo, que, aqui, foi explanado, estejamos sempre atentos todos os dias as nossas atitudes e relações humanas; principalmente relativos aos nossos comportamentos em relação a fé cristã e a religião que seguimos e acreditamos. 


Cf. Devemos ser verdadeiros cristãos. (I)


REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)


sábado, 28 de setembro de 2024

DEVEMOS SER VERDADEIROS CRISTÃOS. (I)

 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 28 de setembro de 2024


"Aquele que não toma sua cruz e não me segue não é digno de mim”. (Mt 10,38). 

 Em todas as religiões, bem como nas outras denominações cristãs, ouvimos constantemente os seus seguidores falarem: Eu sou cristão! Eu sigo a Jesus Cristo! Eu pratico os seus ensinamentos. E, tantas outras justificativas que damos quando nos perguntam sobre a nossa religião e o nosso seguimento cristão. Mas, será que isso é uma verdade? Seguimos verdadeiramente a Cristo? Somos mesmo verdadeiros cristãos? Estas são perguntas importantes para nós todos que nos denominamos cristãos. Mas, o que é ser um verdadeiro cristão? A resposta, entre muitas outras, a mais correta e direta é: O verdadeiro cristão é aquele que está configurado com Jesus Cristo. Ou seja, estar sempre caminhando com Jesus, ajustado aos seus ensinamentos, fazendo a opção de segui-lo em tudo e ser sempre fiel a essa promessa. Sabemos que está configurado implica no permanecer nas definições as quais foram configuradas por nós. Pois, configurar é uma definição de opções ou parâmetros, um ajuste a uma pessoa, a um sistema informático, um objeto ou a algum equipamento.

Mas, quando e onde surgiu essa nomenclatura de cristãos para os discípulos seguidores de Jesus? Se formos aos Atos dos Apóstolos, veremos que o autor desse livro nos diz: “Entretanto, partiu Barnabé para Tarso, a procura de Saulo. De lá, encontrando-o, conduziu-o a Antioquia. Durante um ano inteiro, conviveram na Igreja e ensinaram numerosa multidão. E foi em Antioquia que os discípulos, pela primeira vez, receberam o nome de “cristãos”. (At 11,25-26). Foram os ensinamentos, e mais ainda, os testemunhos de Paulo e Barnabé, com os outros discípulos os quais trabalhavam incansavelmente, pondo em prática com firmeza tudo o que pregavam. Esse foi o motivo de serem chamados cristãos, ou seja, eles estavam de acordo com a doutrina e ensinamentos de Jesus Cristo, portanto, configurados com ele. Só assim seremos verdadeiros cristãos. Não há outra maneira. O verdadeiro cristão vive configurado ao Cristo. Dessa resposta partem todas as outras possibilidades de seguimentos e resoluções na caminhada para Deus.

É muito reconfortante e revigorante para nós que verdadeiramente seguimos a Jesus Cristo, sabermos os caminhos que deveremos percorrer e os ensinamentos verdadeiros que devemos seguir, para que assim possamos chegar a glória do Pai. Mas, quais ensinamentos devemos seguir e quais caminhos percorrer? O próprio Jesus nos dirá que deveremos seguir os seus ensinamentos, os quais são verdadeiros, e percorrer os caminhos do amor, dos sofrimentos, da paz, da esperança, etc, porém, todos eles passam pela cruz. É justamente essa configuração com a cruz do Senhor, que muitos fogem, como fez o jovem rico que não quis distribuir as suas posses para os pobres e seguir o Mestre. Interessante nesse diálogo, é, que, após, Jesus, lhes mostrar os Mandamentos de Deus, o jovem lhe responde que guarda a todos, e pergunta a Jesus, o que me falta ainda? Quando Jesus lhe diz: “se desejas ser perfeito, venda tudo o que tens e dê para os pobres”, então, o moço, se entristece e vai embora. (cf. Mt 19,16-22). Aqui, vemos como abraçar a cruz é custoso para nós cristãos.

Todos nós que nos denominamos cristãos deveremos estar em conformidade com a sua doutrina e sua cruz. Por isso, o verdadeiro cristão segue com serenidade os difíceis caminhos. Foi o próprio Senhor quem nos mandou percorrê-los, e foi ele quem nos mostrou com a sua santa vida, como seriam estes caminhos. Não foram os anjos. Os profetas do Antigo Testamento. Os Apóstolos e os santos. Não! Nenhum deles nos mandou nem nos mostrou, por primeiro, estes seguimentos. O próprio Jesus nos ensinou e nos mostrou o caminho para o Pai.

Em várias passagens dos Evangelhos e de todo o Novo Testamento, os autores sagrados nos mostram e afirmam com ênfase quem nos mandou percorrê-los, na alegria e paciência, para assim podermos permanecer firmes nos difíceis caminhos para o céu. Sabemos bem que as vitórias não se conquistam com facilidade, e, em vista disso, costumo dizer sempre para as pessoas que vem em busca de conselhos, que: “Ninguém vai para o céu de sapatilhas”, ou seja, temos que pisar em pedras, espinhos, lamas, ter perdas, as vezes nos rebaixarmos para não gerar contendas, nos calarmos, etc, para lá chegar. Tudo isso, foi o próprio Jesus Cristo quem nos ensinou. Como deveremos segui-lo e como deveremos nos configurarmos a ele, quando ele nos fala: Aquele que não toma sua cruz e não me segue não é digno de mim. Aquele que acha a sua vida, a perderá, mas quem perde sua vida por causa de mim, a achará”. (Mt 10,38). Pois bem! Jesus não vem a nós com meias palavras, dando aquele jeitinho como nós costumamos fazer. Ele diz: Tome a sua cruz e siga-me. Ou seja, não há outra maneira de imitar-me senão pela cruz. Venham atrás de mim e não errarão jamais. Por causa disso, vemos na história da humanidade uma constelação de pessoas de todas as idades, raças, línguas e condições sociais que se santificaram por que levaram a sério em suas vidas a configuração ao Cristo Jesus, nosso Senhor.

Portanto, não basta apenas crê, é preciso praticar os ensinamentos daquele a quem temos por Mestre. Muitas vezes ficamos apenas na teoria, dizendo tenho fé, sou cristão, mas não progredimos no seguimento de Jesus. Por isso, Jesus fala para os judeus: “Disse, então, Jesus aos judeus que nele haviam crido: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8,31-32). Esse permanecer significa a prática dos ensinamentos. Jesus, assim falou, porque sabia bem que os judeus conheciam bastante os mandamentos, mas tinham dificuldades em praticá-los. Por isso, vemos em outras passagens onde Jesus vai ser bem categórico e duro com eles, dizendo que eles impunham fados pesados sobre os ombros dos outros, onde não tocam nem com um só dedo, e, assim, lança sobre os fariseus e escribas, aqueles que tem essa prática, sete maldições (cf. Mt 23,13-39). “[...] não imiteis suas ações, pois dizem mas não fazem. Amarram fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se dispõem a movê-los. Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos homens”. (Mt 23,2-5). Jesus abomina a hipocrisia e a injustiça.

Por isso ele nos ensinou: Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a salvará. Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se se perder ou arruinar a si mesmo? Pois quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, o Filho do Homem dele se envergonhará, quando vier em sua glória e na do Pai e dos santos anjos. (Lc 9,23-26). (cf. Mt 10,38; 16,24-27; Mc 8,34-38; Lc 14,27 e Jo 12,25). Estas são passagens importantíssimas para os verdadeiros cristãos, e para os que desejam ser.

Como já foi dito, conhecer apenas os mandamentos, isso não nos torna verdadeiros cristãos. Devemos conhecê-los e praticá-los. Isso é abraçar a cruz de Cristo.

Lembremo-nos da passagem em que Filipe conhecia bem os mandamentos e andava com Jesus, pois era o seu discípulo, mas ainda não conhecia bem o seu Mestre. Quando Jesus falava do Pai, ou seja, de si mesmo, Filipe ficava confuso e, por isso, ele lhe pergunta: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta!” Diz-lhe Jesus: “A tanto tempo estou convosco e tu não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como podes dizer: ‘Mostra-nos o Pai!’? Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim realiza suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim”. (Jo 14,8-10). Com isso, Jesus quis mostrar que, se ele estava no Pai, os seus discípulos também deveriam permanecer nele. E seguir os seus passos em tudo. Assim sendo, São Paulo na carta aos Gálatas nos diz: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim”. (Gl 2,20). E prossegui: “Doravante ninguém mais me moleste. Pois trago em meu corpo as marcas de Jesus”. (Gl 6,17).

Um belo Apoftegma dos Padres do deserto (antigos monges) traduzido do copta, exprime para nós, de modo muito belo a importância da vida interior, a perseverança que devemos ter na caminhada para Deus, e o foco que todos nós cristãos devemos ter na pessoa de Jesus Cristo.  Isso indispensável a toda existência e vivência cristã. A vida monástica a qual o texto se refere, cada um saberá na sua caminhada do que se tratará. Vejamos:


“Um monge encontra outro e lhe pergunta: “Por que tantos abandonam a vida monástica? Por quê? E o outro monge respondeu: “A vida monástica é como um cão que percebe uma lebre. Ele corre atrás da lebre latindo; muitos outros cães, ouvindo seu latido o alcançam e correm todos juntos atrás da lebre. Mas no fim de algum tempo, todos os cães que correm sem ver a lebre dizem: mas aonde é que nós vamos? Por que corremos? Eles se cansam, se perdem e param de correr, um depois do outro. Somente os cães que veem a lebre continuam a persegui-la até o fim, até que eles a apanhem”. E a história conclui: apenas aqueles que têm os olhos fixados na pessoa de Cristo na Cruz perseveram até o fim...

Portanto, devemos abraçar a cruz e permanecermos seguros no Cristo e nos seus ensinamentos, os quais nos conduzirão ao Reino de Deus. 

PASSAGENS RELATIVAS A

 CONFIGURAÇÃO COM CRISTO.

 

- Mt 19,16-22 – O jovem rico.

- Mt 23,27-32 – Crítica aos fariseus.

- Jo 6,60-69 – Alguns que não creem.

- At 11,26 – Chamados cristãos pela primeira vez.

- At 20,23-24 – Os sofrimentos.

- 1Cor 2,2 – Saber apenas do Cristo crucificado.

- 1Cor 1,23-24 – Pregar Jesus e não se escandalizar.

- 1Jo 5,4-5 – Vence o mundo quem nasce de Deus.

- Fl 3,18 – Inimigos de Cristo.

- Gl 2,20 – A glória da cruz. Crucificados com Cristo.

- Gl 5,24 – Crucificar a carne por amor a cristo.

- Gl 6,14-17 – Gloriar-me na cruz de Cristo. 


Cf. Os absurdos atuais em relação a fé cristã. (II)

Cf. Algumas dificuldades atuais na caminhada de fé da vida cristã (III).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)


segunda-feira, 26 de agosto de 2024

HISTÓRIA DO SAGRADO ÍCONE DE NOSSA SENHORA DE CZESTOCHOWA, A RAINHA DA POLÔNIA - Memória dia 26 de agosto

 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 26 de agosto de 2024

Na imponente e antiga cidade de Czestochowa, na Polônia, encontra-se o Sagrado Ícone da Mãe de Deus, belo e valioso não só para o povo polonês, mas também para o mundo inteiro, o qual, segundo a Tradição da Igreja, este ícone foi pintado pelo Apóstolo São Lucas, o Evangelista que mais escreveu nos Evangelhos sobre a Virgem Maria, a Mãe de Jesus.

O santo ícone de Nossa Senhora de Czestochowa chegou a Polônia na segunda metade do século XIV, precisamente por volta do ano de 1382 e até hoje muitas pessoas do mundo inteiro alcançam numerosas graças e milagres extraordinários sob a proteção e a invocação da mãe de Deus de Czestochowa.

Fiéis de todas as partes do mundo se ajoelham em veneração diante da Sagrada imagem da virgem Maria, a qual também é chamada de Virgem de Monte Claro ou Virgem de Jasna Gora. Ou como também a chamam de a Virgem Negra, por causa da cor escura do santo ícone. Esta sagrada pintura de Nossa Senhora encontra-se atualmente venerado no imponente Santuário na cidade de Czestochowa, na Polônia. Papas e Reis, ricos e pobres, governantes de países, se ajoelharam diante de Maria a Rainha do céu e da terra, colocando em suas mãos as suas vidas e as dos seus familiares, e dela, receberam favores espirituais e materiais. Pois, Nossa Senhora sempre socorre seus amados filhos, assim como nos ensina São Bernardo de Claraval: "Todos aqueles que recorrem a Maria, recebem muitas graças das mãos de Deus".

No século IX a valiosa pintura de Nossa Senhora, foi presenteada pelo Imperador Bizantino, da época, a uma princesa da Grécia que se casara com um nobre da Rutênia, região que compreendia parte dos atuais territórios da Bielorrússia, Rússia, Ucrânia e Polônia. Assim, o Sagrado ícone foi colocado no Palácio de Belz onde aí permaneceu por quase 600 anos.

A rainha Santa Edwiges e o seu esposo o rei Ladislau II, assumiram com grande amor a devoção à Virgem de Czestochowa e deram muitas de suas doações em agradecimento para o Santuário. E, a pedido do rei, o Papa Martinho V enriqueceu o Santuário de Monte Claro com diversas indulgências e com a bênção papal.

Ludovico, por volta do ano de 1380 tornou-se rei da Rutênia e o Príncipe Ladislau, polonês, sobrinho de Ludovico, o qual era muito piedoso, e grande devoto da Santíssima Virgem Maria, ao tomar posse do Castelo de Belz, encontrou nas dependências do Castelo o sagrado ícone, e, assim, tomou-o como objeto da sua devoção. O príncipe rezava todos os dias diante da sagrada imagem da Mãe de Deus.

Quando a cidade foi atacada pelos tártaros, o príncipe, temendo as pilhagens e as depredações dos invasores, resolveu transportar a imagem da Virgem Maria para a cidade de Opole, capital de seu principado na Polônia. É desde esse período que o sagrado ícone de Nossa Senhora, encontra-se nas terras polonesas.

No ano de 1382 o príncipe confiou o santo ícone sob a guarda dos monges Paulinos (Ordem de São Paulo) de cuja ordem ele era o benfeitor. Portanto, o príncipe mandou construir o mosteiro e o santuário de Monte Claro, ou Jasna Gora, próximo da cidade de Czestochowa. Também doou terras e aldeias próximas, a fim de garantir a preservação do centro de devoção à Mãe de Deus e para a subsistência dos monges Paulinos que eram os guardiões do Sagrado ícone.

Segundo os relatos históricos, diante dos numerosos milagres que eram alcançados, às pessoas colocavam grandes doações diante da imagem de Nossa Senhora de Czestochowa em agradecimento. Joias, dinheiro e outros objetos valiosos, etc. Por esse motivo, despertou a cobiça de muitos ladrões. Assim se conta, que, na madrugada do Domingo de Páscoa do ano de 1430 um grupo de assaltantes invadiu o santuário em busca dos valiosos tesouros, mas, não encontrando as riquezas que procuravam, roubaram cálices, cruzes e outros objetos sagrados do Santuário; portanto, aborrecidos, por fim, voltaram-se para o ícone de Nossa Senhora e golpeando-o por três vezes feriram a sua santa face, marcas que vemos até os dias atuais. Eles roubaram-lhe o ouro e as joias, os ornamentos com os quais os fiéis tinham ornado o ícone. Após os golpes da espada em seu sagrado rosto, quebraram o suporte de madeira em que estava pintada a imagem.

Ao saberem desse episódio, toda a população ficaram consternados com o sacrilégio contra o sagrado ícone da Mãe de Deus e a sua excelsa Rainha. Entre lágrimas e súplicas ofereceram reparação a Deus e a Virgem Maria pela profanação que acontecera. Portanto, Levaram o santo ícone ao rei Ladislau para que fosse restaurado. E o rei enviou-o para vários artistas renomados na Europa para que assim fosse restaurado. Porém, os artistas vendo a sensibilidade do ícone, preservou as cicatrizes na face direita da Virgem, cobrindo-as com traços de tinta vermelha e até hoje podemos ver as marcas daquele atentado de 1430. O quadro após ser restaurado voltou para seu lugar de origem no santuário de Jasna Gora, recebendo os seus adornos de ouro, prata, pedras preciosas e uma maior segurança. E, até hoje, nesse local de culto, a Mãe de Deus continua a derramar muitas graças sobre todos aqueles que lhe procuram com fé e devoção, pois, ela é Mãe misericordiosa de todos os cristãos.

No ano de 1655 a Polônia foi invadida pelo exército sueco. As defesas já se haviam tomadas pelo invasor. O rei Casemiro refugiou-se num país estrangeiro ficando apenas 300 soldados que ainda ofereciam resistência às tropas suecas. Portanto, os monges do mosteiro Paulino de Monte Claro, que eram os guardiões da santa imagem de Nossa Senhora, se aliando aos poucos soldados que combatiam a tropa sueca, intercederam a Mãe de Deus com orações e com muita confiança, a sua poderosa proteção para a cidade e o país; fazendo procissões ao redor dos muros do seu convento, conduzindo o quadro milagroso de Nossa Senhora de Jasna Gora; abençoando com ele os defensores da cidade. Seis semanas depois o milagre acontece, através de Nossa Senhora sua protetora. Os suecos reconheceram a inutilidade de seus esforços contra a tomada da cidade e se retiram. A população novamente rendem graças a Santíssima Virgem Maria pelo prodigioso milagre que ocorrera diante da retirada sueca. O rei Casimiro retorna a sua corte e, solenemente consagra o seu reino a Nossa Senhora de Czestochowa, proclamando-a Rainha de toda a Polônia.

Porém, no ano de 1920 um outro confronto se inicia. Um confronto militar contra a Rússia e a Polônia estava a ponto de ser invadida e dominada. Os poloneses muito devotos da Virgem Maria de Czestochowa dirigiam-se todos os dias ao Santuário de Jasna Gora implorando o socorro da mãe de Deus. E, como sempre, mais uma vez, foram atendidos os seus rogos diante de Deus pelas mãos de Maria sua Mãe. Com isso, esse episódio ficou conhecido como: Milagre de fístula.

Vinte anos depois na Segunda grande Guerra Mundial (1939-1945) sobre a dominação dos nazistas as peregrinações ao Santuário de Czestochowa foram proibidas por esse regime. No entanto, muitos poloneses cultuavam secretamente a mãe de Deus no sagrado ícone e mais uma vez receberam dela valimento esperado; ou seja, que não fossem dominados pelos nazistas.  Portanto, ao terminar a grande e destruidora guerra, milhões de pessoas se reuniram na cidade Czestochowa para agradecer a Virgem Maria de Jasna Gora ou Monte Claro ou então a Virgem Negra como a chamavam, consagrando ao seu Sagrado Coração, mais uma vez, a sua querida Pátria. Nesse episódio, vemos, mais uma vez, outra tentativa histórica de deter o culto à Virgem Mãe de Deus, e assim, esse plano foi novamente frustrado, pois, o braço da poderosa Virgem Maria não pode ser atados por nenhum regime opressor.

Diante de tantos milagres e valimentos que os poloneses e as outras nações do mundo receberam de Nossa Senhora de Czestochowa, mais uma grande alegria e um presente de Deus e de Maria para aquele povo polonês e para o mundo cristão, ocorreu. Na noite do dia 16 de outubro do ano de 1978 a Polônia sentiu-se novamente agraciada por nossa senhora de Czestochowa ou Monte Claro. O júbilo apoderou-se de todos. O querido Cardeal polonês Karol Józef Wojtyła acabara de ser eleito Sumo Pontífice para Sé de São Pedro em na cidade de Roma, assumindo o nome de João Paulo II. Com isso, o culto a Nossa Senhora de Czestochowa se expandiria mais pelo mundo cristão. São João Paulo II fez questão de ressaltar a devoção a Maria com o lema: Totus tuus. "Todo teu". Assim, São João Paulo II envia uma carta ao Geral do mosteiro Paulino de Czestochowa acompanhada de duas coroas de flores para Nossa Senhora de Czestochowa com essas palavras de confiança e entrega a Mãe de Deus: Recomendo a nossa Pátria, toda a Igreja e a mim mesmo a vossa proteção maternal [...] “Totus tuus!".

Peçamos sempre a proteção materna de Nossa Senhora, nos seus milhares de títulos, que ao longo da história do cristianismo apareceu como uma forma de bondade de Deus para nós. Jesus Cristo está sempre pronto a nos atender pelas mãos de sua amada Mãe. Seja a Virgem Maria a nossa Mestra de Vida, pois ela nos leva sempre ao seu Filho Jesus.

Virgem de Czestochowa, intercedei a Deus por todos nós. Amém!


ORAÇÃO DE SÃO JOAO PAULO II A

NOSSA SENHORA DE CZESTOCHOWA

"Não poderíamos, pois, encerrar de modo melhor estas páginas dedicadas a Nossa Senhora de Czestochowa, do que fazendo eco à súplica que São João Paulo II a Ela dirigiu, numa de suas viagens ao Santuário de Monte Claro:”

“Mãe de Jasna Gora e Rainha, venho hoje a Ti numa peregrinação de fé, para Te agradecer a incessante proteção sobre a Igreja inteira e sobre mim. (...) Com grande confiança me apresento neste santo lugar na Colina de Jasna Gora, tão cara ao meu coração para mais uma vez exclamar: Mãe de Deus e nossa Mãe, agradeço-Te ser a Estrela Polar da construção de um futuro melhor para o mundo, a Padroeira da edificação da civilização do amor em todo o gênero humano. (...)

"Mãe da Igreja, Virgem Auxiliadora, na humildade da fé de Pedro trago aos teus pés a Igreja inteira, todos os continentes, países e nações, que acreditaram em Jesus Cristo e reconheceram n'Ele o sinal-guia no caminho através da história. Aqui trago, ó Mãe, a humanidade inteira, também aqueles que ainda estão em busca do caminho rumo a Cristo. Sê para eles guia e ajuda-os a abrirem-se ao Deus que vem. Trago-Te na oração os povos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e confio à tua solicitude materna todas as famílias das nações. (...)

Virgem, Mãe de Deus, ajuda-nos a entrar no terceiro milênio do cristianismo através da porta santa da fé, da esperança e da caridade. Ó clemente, ó pia, ó doce Virgem Maria, aceita a nossa confiança, fortalece-a nos nossos corações e apresenta-a diante da face do Deus único na Santíssima Trindade. Amém!”. 

Oração do Papa São João Paulo II

no Santuário de Nossa Senhora de Monte Claro,

Cidade de Czestochowa, 04 de junho de 1997





Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)


quinta-feira, 4 de julho de 2024

BIOGRAFIA DO SERVO DE DEUS FREI BERNARDO VAZ LOBO TEIXEIRA DE VASCONCELOS, O.S.B, (1902-1932).

 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B

(Monge Beneditino)

Salvador, Bahia – 03 de julho de 2024

DADOS BIOGRÁFICOS

- NASCIMENTO: No dia 07 de julho do ano de 1902 em São Romão do Corgo, no município de Celorico de Bastos, arquidiocese de Braga – Portugal.

- NOME COMPLETO: Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos.

- PAIS: Dr. Manuel Joaquim da Cunha Maia Teixeira de Vasconcelos e Dona Filomena da Conceição Vaz Lobos.

- VIDA RELIGIOSA: Em 24 setembro de 1924, tomada de hábito e entrada no Noviciado, no mosteiro de Samos, Galiza – Espanha, com o nome onomástico de Frei Bernardo da Anunciada.

- PROFISSÃO SIMPLES (Trienal): No dia 29 Setembro de 1925, fez a sua Profissão simples como monge do Mosteiro de Singeverga - Portugal.

- ORDENS MENORES: No dia 05-06 de fevereiro de 1928, recebe as Ordens Menores, Na cidade do Porto - Portugal.

- PROFISSÃO PERPÉTUA: No dia 29 setembro de 1928, fez a sua Profissão Solene, na festa de São Miguel Arcanjo, na igreja de São José, na Póvoa.

- FALECEU: Santamente na Foz do Douro no dia 04 de julho de 1932. (Aos 29 anos de idade). Em três dias ele completaria seus trinta anos de idade.

- SEPULTURA: Foi sepultado no cemitério de Molares (Celorico de Basto) em 1932. Em 1933 a 04 julho, foi feita a trasladação dos seus restos mortais para o sepulcro em que jazem, na igreja paroquial de São Romão do Corgo (Celorico de Basto), sua terra natal.

- CAUSA DE BEATIFICAÇÃO: Foi promovida após 50 anos da sua morte. Assim foi constituído o tribunal ad hoc, por Dom Eurico Dias Nogueira a 04 de julho de 1983, sendo concluídos os trabalhos a 09 de outubro de 1987.

- VIRTUDES HEROICAS: Reconhecidas pelo Sumo Pontífice São João Paulo II com a Constituição Apostólica, “Divinus perfectionis magister” de 25 de janeiro de 1983. O Sumo Pontífice o Papa Francisco em 14 de junho de 2016, aprovou e assinou o decreto oficial declarando-o Venerável.


 BERNARDO O CANTOR DO AMOR DE DEUS

 

“Entre estes, em todos os tempos, Deus escolhe muitos para que, seguindo mais de perto o exemplo de Cristo, dêem testemunho glorioso do Reino dos céus com o derramamento de sangue ou com o exercício heroico das virtudes”. (Constituição apostólica, Divinus perfectionis Magister - 1983).

Este jovem viveu e morreu cantando o amor de Deus; comunicando a todos sua sede de ideal. Podemos ver nos seus escritos o seu grande desejo de santidade e pureza de vida. Assim foi a vida do jovem monge da Sagrada Ordem do Patriarca São Bento de Núrcia, (480-547), abade. Este monge em poucos anos de vida monástica, soube viver as virtudes teologais, a , a Esperança e a Caridade e, por esse motivo, foi colocado entre aqueles que estão a caminho dos altares. Um jovem bastante esclarecido na luz de Deus, e com certeza, podemos até dizer, que era um místico pelo valor espiritual de suas obras literárias, pois, soube viver com alegria, resignação em seus sofrimentos e humildade tudo o que escreveu. Portanto, ele galgou, com uma fé impressionante e com coragem, aquela escada que o nosso grande Patriarca dos monges, São Bento, nos mostra na Regra para os Mosteiros quando nos ensina:


“Se, portanto, irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, deve ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a Jacó, (Gn 28,12) na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. Essa descida e subida, sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce e pela humildade se sobe. Essa escada erecta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha. Quanto aos lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina”. (RB 7,5-9).

Este ensinamento de São Bento foi vivido pelo jovem BERNARDO VAZ LOBO TEIXEIRA DE VASCONCELOS que nasceu no dia 07 de julho do ano de 1902 em São Romão do Corgo, no município de Celorico de Bastos na arquidiocese de Braga - Portugal.

Filho do Dr. Manuel Joaquim da Cunha Maia Teixeira de Vasconcelos, e Dona Filomena da Conceição Vaz Lobos. Os quais no mês seguinte ao seu filho Bernardo para receber o Sacramento do Batismo, na igreja paroquial da sua terra natal precisamente no dia 05 de agosto do ano de 1902. E a sua infância corre normalmente como a de qualquer outra criança, fazendo sua escola Primária, a qual termina em julho de 1912.

Em 15 de outubro do mesmo ano, é matriculado no curso liceal, como aluno interno do Colégio de Lamego, dirigido pelo Pe. Alfredo Pinto Teixeira, e em 1914 no mês maio, recebe o Santo Sacramento do Crisma / Confirmação das mãos de Dom Francisco José de Brito, bispo de Lamego.

No mês de março de 1917, ele é acometido duma “peritonite bacilar”. E em 1918 no mês de outubro, matricula-se no 7° ano de Ciências no Colégio de São Pedro, em Coimbra.

Bernardo tinha o desejo de seguir a Marinha, portanto, faz a sua matrícula na Universidade de Coimbra em outubro de 1919. No ano seguinte, no dia 14 de março ele se afila ao CADC. (Centro Académico de Democracia Cristã), com o n° 398. E no mês de outubro do mesmo ano matricula-se, na cidade do Porto, no Curso Comercial e emprega-se num Banco.

O jovem Bernardo era Poeta, por isso, muito colaborou com poesias nas Flores Espirituais do Pe. José Lourenço. O.P. E no ano de 1922 ele volta a Lamego, onde completa o 7°ano de Letras.

Ele faz a sua matrícula na Faculdade de Direito, em Coimbra no dia 31 de outubro de 1922. E em 21 janeiro de 1923, inscreve-se na Conferência de São Vicente de Paulo, sendo assim, nomeado Vice-Presidente.

Bernardo sente o desejo de ingressar na Congregação dos Filhos de Maria em Coimbra. Assim nos deixa registrado no seu diário espiritual: Amanhã porei aos pés da Santíssima Virgem a intenção que Ela me inspirou de entrar na Congregação dos Filhos de Maria em Coimbra.

Certa vez Frei Bernardo foi fazer um retiro quase que a contragosto por obediência do seu diretor espiritual, e teve uma surpresa ao receber luzes nesse retiro, pois na segunda conferência do Pe. Raul Sarreira sobre a Graça, Bernardo fica profundamente comovido e registra esse acontecimento ocorrido em sua alma.


“Depois desta última conferência e por efeito dela, chorei amargamente. Bendito sejais, meu Deus, que Vos dignastes insuflar em mim a dor dos meus pecados. Bendito sejais meu Deus! Não foi em vão que eu Vos pedi de todo o meu coração, de toda a minha alma: - Vinde a mim, Senhor, vinde a mim. Eu nem sei como me sinto! É tão bom viver em Vós! Eu não sentia ânimo para vir a este retiro! ... Porquê? Quis dar a mim mesmo mil explicações ... Ah! mas eram respeitos humanos, era a falta de oração bem feita, era em última análise a falta de Fé. Vacilei... debati-me entre tudo o que me afastava do retiro e a Graça de Deus que me chamava aqui ... E vim ... Pouco compenetrado ainda do meu fim aqui. Mas aquelas palavras do meu diretor espiritual foram uma manifestação, uma expressão, tão simples - afinal - da Vontade de Deus. “Vá, vá... arrepender-se-á se não for” - me disse ele ... e vim. Bendito sejais, meu Deus!” (BERNARDO. Vida de Amor – 2002, p. 58).

A sua vida muda de curso quando conhece a vida dos monges beneditinos. Ao ter um contato com a vida monástica, Bernardo se encanta e se identifica com esse estilo de vida. Assim, no dia 23 dezembro de 1923, ele teve os primeiros contatos com os monges beneditinos sobre a sua vocação (carta a Dom António Coelho, OSB (*24.05.1892 +20.12.1937) o seu diretor espiritual). E, para conhecer mais de perto a vida dos monges, vai ao mosteiro e aí se hospeda do dia 14 a 22 março de 1924, passando uma semana na Abadia de Samos (Galiza – Espanha), junto da comunidade beneditina.

Foi pela primeira vez também ao mosteiro de Singeverga, Portugal, em junho de 1924. E no dia 24 setembro de 1924, faz a sua tomada de hábito e entrada no Noviciado, no mosteiro de Samos, Galiza – Espanha, com o nome onomástico de Frei Bernardo da Anunciada. Sendo muito devoto da Santíssima Virgem Maria, ele faz no dia 11 outubro de 1924 a consagração da sua cela monástica a Nossa Senhora. Sendo, ele, amante da pureza, dos bons costumes, e da obediência, no dia 08 dezembro do mesmo ano, faz um voto de viver sempre em santamente sendo obediente ao seu pai espiritual. Ele tem o conhecimento que a obediência é o caminho certo para a santidade e para o bem de todos que estão à sua volta. Caminho percorrido por todos os santos. Apesar das grandes dificuldades próprias que implicam nesse seguimento.

Terminado o período do seu noviciado canônico ele é aprovado pela comunidade monástica para professar os votos simples trienais, como monge do Mosteiro de Singeverga em 29 de setembro de 1925. No entanto, no ano seguinte quando estava na Bélgica, estudando teologia para a ordenação sacerdotal, a que tanto ansiava, foi diagnosticado no dia 20 de setembro com a doença mal de Pott e no dia 24 do mesmo mês partiu para o mosteiro de Mont-César, (Lovaina) para os estudos teológicos. Em 03 novembro de 1926, regressou a Portugal. E, aí começa o longo calvário de 6 anos, com alguns períodos no seio da comunidade, então instalada na Falperra, junto a Braga, e a maior parte do tempo por hospitais, na cidade do Porto ou na Póvoa de Varzim. Assim foi o longo calvário do Frei Bernardo.

Em 05-06 de fevereiro de 1928 Frei Bernardo recebe as Ordens Menores na cidade do Porto. Tinha um grande desejo de ser sacerdote para servir mais a Igreja, porém, devido a doença, isso não foi possível. Portanto, concluídos os três anos de sua profissão simples ele é admitido pela comunidade monástica para professar os Votos Solenes Perpétuos, celebração ocorrida no dia 29 de setembro de 1928 na festa do Arcanjo São Miguel, na igreja de São José, na Póvoa.

No dia 03 Julho de 1932, sai impresso o seu livro de poesias – Cântico de Amor. Uma obra magnífica e de grande valor espiritual. Nela, está contida a sua personalidade de místico, de poeta e o seu grande amor a Deus a Igreja e o seu desejo de santidade.

Frei Bernardo no seu calvário de dor se imolava como vítima por si e para o bem próximo deixando a todos que o visitavam encantados com sua bondade resignação perfeita. Em um depoimento diziam: A todos deixava envoltos num perfume bendito de bondade que era verdadeiramente a característica maior do seu caráter. 

Faltando três dias para completar seus trinta anos de idade, morre santamente o jovem monge Frei Bernardo de Vasconcelos na madrugada de 04 julho de 1932, na Foz do Douro, o monge que viveu, amou e cantou o amor de Deus; sendo ele sepultado no cemitério de Molares (Celorico de Basto). Suas últimas palavras no seu leito de morte foram: Não chorem. Eu vou para o céu. Jesus! Jesus! Eu sou todo de Jesus.

A trasladação dos seus restos mortais para o sepulcro em que jazem, na igreja paroquial de São Romão do Corgo (Celorico de Basto), sua terra natal, ocorreu no dia 04 de julho de 1933.

A sua causa de beatificação foi promovida após 50 anos da sua morte. Assim foi constituído o tribunal ad hoc, por Dom Eurico Dias Nogueira a 04 de julho de 1983, sendo concluídos os trabalhos a 09 de outubro de 1987.

As suas virtudes heroicas foram reconhecidas pelo Sumo Pontífice Papa São João Paulo II com a Constituição Apostólica, “Divinus perfectionis magister” de 25 de janeiro de 1983. O Sumo Pontífice o Papa Francisco, em 14 de junho de 2016, aprovou e assinou o decreto oficial declarando-o Venerável.

Frei Bernardo de Vasconcelos, rogai por nós.


NOVENA

Para obter graças de Deus, espirituais e temporais, por intercessão de Frei Bernardo de Vasconcelos, OSB.

Assista se puder, durante nove dias ao Santo Sanifico da Missa e participe dele pela Santa Comunhão.

Reze cada dia da Novena três vezes o Pai-Nosso, a Ave-maria e Glória em honra das Três Pessoas da Santíssima Trindade com a oração.


ORAÇÃO

Ó Deus, que manifestais a Vossa onipotência, principalmente perdoando as nossas iniquidades e compadecendo-Vos das nossas misérias, escutai propício as nossas humildes súplicas.

Invocamos com fé e confiança o Vosso Servo Bernardo de Vasconcelos, a quem escolhestes para ser na terra uma Hóstia em sangue imolada ao Vosso Amor, e a quem, depois da morte, ilustrastes com tantas graças. E pedimo-Vos, por sua intercessão, que nos atendais na presente necessidade (fazer a prece).

Concedei-nos, Senhor, esta graça que instantemente imploramos para Vossa maior honra e para glorificação do Vosso Servo, a quem desejamos venerar, imitar e invocar como modelo e protetor da juventude portuguesa. Amém.

+ Antônio

Arch. Primaz


ALGUMAS FOTOS E FRASES DO 

SERVO DE DEUS FREI BERNARDO, OSB














REFERÊNCIAS

ENOUT, Evangelista João. A Regra de São Bento. Latim-Português. Tradução D. João Evangelista Enout, O.S.B; Rio de Janeiro: LUMEM CHRIST, 1992.

FERREIRA, P. Jorge, OSB. Bernardo Vasconcelos – O Monge Poeta. Ano centenário do Nascimento, 7 de julho – 1902-2002. / Autor: P. Jorge Ferreira, OSB – Mosteiro de Singeverga, Portugal / Edições: ORA ET LABORA, 2002.

VASCONCELOS, Frei Bernardo de. Vida de amor: autobiografia de Bernardo de Vasconcelos / Frei Bernardo de Vasconcelos, O.S.B. / 7ª edição – Mosteiro de Singeverga, Portugal: ORA & LABORA, 2002. 

Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)