Dom Gilvan
Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge
Beneditino)
Salvador, Bahia – 23 de outubro de 2024
"Houve, contudo, também
falsos profetas no seio do povo, como haverá entre vós falsos mestres, os quais
trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou e trazendo sobre
si repentina destruição. Muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e, por causa
deles, o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com
discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios; mas seu julgamento há muito
está em ação e a sua destruição não tarda”. (2Pd 2,1-3).
Já tendo analisado um pouco como devemos ser verdadeiros cristãos (I), agora passemos a análise de alguns absurdos que aparecem constantemente em relação ao seguimento da nossa fé cristã. Problemas sérios que afetam diretamente a nossa vida como um todo.
A história da humanidade, das religiões, das instituições, das seitas, das famílias, em fim, das relações humanas em geral, sempre foram muito complexas e delicadas. Sempre houve, há, e haverá muitos absurdos referentes a fé e a vida cristã e não só a elas, mas, em qualquer outra crença abraçada. O homem, por estar sempre buscando respostas pelo que não conhece completamente, ou seja, o mistério, muitas vezes criam ou se agarram a coisas que não estão em conformidade com o modo de vida que ele diz abraçar. Isso é muito comum, principalmente na sociedade atual. A insegurança na crença que diz ter, a falta do conhecimento do que segue e do que acreditam, faz o seguidor se desviar do caminho que dizem seguir. Não se aprofundam mais no seguimento escolhido. Escutamos muito essa expressão: “Eu gosto dessa linha de seguimento, então, eu sigo sem problema nenhum para o que eu acredito”. Isso é uma falácia. Há muitas coisas que gostamos, sim, fora da nossa crença, mas não convém a fé que abraçamos. Isso é em relação a qualquer outra crença e não só a cristã. Por causa desse pensamento temos muitas dificuldades no caminho escolhido, muitas discórdias, divisões e diversos sofrimentos.
As relações humanas com o cosmos, com o seu próximo, com os animais, com a natureza, etc, na mais da vezes sempre foram e são muito complexas, conflituosas e confusas. Isso é tão certo, que muitas realidades humanas não entendemos nem em relação a nós mesmos; certos atos nossos e reações que praticamos, seja em relação a nós mesmos, ou ao que está fora, a nossa volta. É justamente isso que nos tornam seres tão complexos. Porquanto, todo esse emaranhado de coisas e reações nossas são a causa muitas vezes dos conflitos gerados em nós, e entre nós humanos, também com a natureza e os outros seres, ou seja, a causa de muitos sofrimentos na história universal.
Vemos surgir a cada dia opiniões muitas vezes estranhas a sociedade, a fé, aos bons costumes; opiniões e conceitos que estão fora da caridade e das outras virtudes. Conceitos bizarros em relação a vida, a religião, a família, a educação. Notícias falsas de todos os tipos, constantes golpes, crimes cometidos em nome de Deus e da religião, profecias falsas que a muitos deixam aterrorizados, e estagnados no caminho, etc. Tudo isso, estão deixando as pessoas anestesiadas, impermeabilizadas, desconfiadas uma das outras, enlouquecidas diante das relações com os outros e tudo o que está a sua volta. Pessoas tão perdidas nos seus conceitos cristãos que não conseguem mais caminhar naturalmente na fé. Vemos uma grande quantidade de pessoas com depressão, ansiedades, com diversos problemas de saúde, com doenças de todos os tipos e psicologicamente perturbadas. Isso é um fato e uma séria realidade social e eclesial. O corpo humano não consegue guardar e digerir tantas informações e mudanças repentinas, bem como uma grande injeção de coisas nocivas a sua existência e a sua fé. Parece-me que não mais estão percebendo a gravidade dessas mudanças sociais e eclesiais que a cada dia só pioram. Portanto, faz-se necessário pararmos um pouco para refletirmos a cada dia como estamos seguindo a nossa fé cristã. Não só a cristã, mais qualquer outra linha de pensamento que abraçamos para a nossa vida, e, com isso, nos perguntemos sempre diante dessas situações mundiais: como estou vivendo em meio a tantas coisas nocivas que nos apresentam constantemente? E, O que devo guardar dos conceitos constantemente apresentados, para que eu tenha uma vida saudável? Devemos ficar alerta, pois muitas coisas são apresentadas como boas, mas por trás não são. Então, mais cedo ou mais tarde, nos fará um grande mal.
Sabemos que sempre houve na história muitas interpretações falsas e com isso também muitas profecias falsas na caminhada da Igreja e da humanidade. Porém, nos dias atuais estas falsas interpretações e falsas profecias se tornaram mais perigosas em detrimento das redes sociais, a globalização, e o alcance mundial que tem as plataformas digitais. O que hoje é lançado, mesmo de um lugar remoto, repercute no mundo inteiro com mais ou menos intensidade, porém repercute. E numa rapidez impressionante. Vemos as claras um turbilhão de maluquices, memes pesados com as coisas sagradas, sátiras em relação a sérios assuntos humanitários e instituições, interpretações de todos os tipos por muitos que não tem nenhuma competência filosófica nem teológica, os quais fazem muitos cristãos que não tem uma boa instrução teológica e muitas vezes formação adequada, ao menos o básico, caírem em muitas heresias e desvios da fé. Heresias, estas que já foram resolvidas por séculos pelos Concílios da Igreja com a inspiração do Espírito Santo. É por causa disso, que vemos uma grande quantidade de gente na Igreja ou em qualquer outra credo, que nada fazem ou mesmo perturbam a estrutura. Estão ali apenas por estar. São seguidores falaciosos que carregam apenas o nome da religião que dizem seguir.
Para nós cristão, as sagradas Escrituras será sempre o livro inspirado onde devemos como verdadeiros cristãos, buscar as respostas do bom seguimento do Senhor Jesus Cristo e não nos deixarmos enganar por qualquer profecias ou interpretações errôneas que escutarmos. São Pedro, na sua carta, com muita sabedoria nos alerta sobre isso, ao dizer: “Temos, também por mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d'alva em nossos corações. Antes de mais nada, sabei isso: que nenhuma profecia da Escritura resulta de interpretação particular, pois que a profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens impelidos pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus”. (2Pd 1,20-21). Portanto, tenhamos muito cuidado e atenção quanto a isso! Há muitos falsos doutores que nada tem de inspiração divina, mas deseja guiar a muitos nos seus próprios rebanhos e não no rebanho do Senhor Jesus Cristo.
Muitos atualmente por não se encontrarem mais consigo mesmos, nem com os outros, criam seus próprios mundos, suas ideias e seus conceitos sobre tudo, principalmente sobre as religiões. Estes, tentam colocar, quase que impondo na cabeça das pessoas, conceitos errôneos sobre as religiões, os governos, os sistemas a séculos já consolidados e corretos, propagando pensamentos de ódio e muitas vezes até contra a vida. Eles, não querem mais se adequar a nada que esteja fora do seu pensamento e das suas ideias, daí nascem as desmistificações das coisas imprescindíveis a vida humana, que é a caridade fraterna, a amizade, o cuidado do corpo, e da natureza em geral. Na mais das vezes, estas pessoas não possuem um vasto conhecimento dos assuntos que eles vomitam e querem impor para a sociedade, são rasos e vazios. Portanto, tenhamos cuidado com o que concordarmos e o que devemos guardar em nossas mentes ou repassarmos para outros!
Os dias atuais como os de outrora, estão cheios de falsos doutores. Enganamo-nos ao dizermos que os tempos antigos eram melhores que os atuais. Cada tempo tem as suas particularidades. A história sempre se repete, apenas de uma forma diferente. Tudo o que vemos nos dias atuais, sempre existiu. Hoje, de forma diferente, porque são tempos diferentes, é claro. São Pedro na sua carta nos dirá: “Houve, contudo, também falsos profetas no seio do povo, como haverá entre vós falsos mestres, os quais trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou e trazendo sobre si repentina destruição. Muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e, por causa deles, o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios; mas seu julgamento há muito está em ação e a sua destruição não tarda”. (2Pd 2,1-3). Tudo isso que São Pedro ensina e alerta os cristãos nos primeiros séculos da Igreja, acaso há diferença nos dias atuais?
Por essa razão que devemos estar sempre atentos para não cairmos em ciladas. Fugamos das paixões e sigamos a justiça, numa luta contra os perigos atuais dos falsos doutores e profetas, os perigos da globalização. Na epístola segundo São Timóteo temos vários conselhos para um bom seguimento de Cristo. Um deles é este: “Foge das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, a caridade, a paz com aqueles que, de coração puro, invocam o Senhor. Repele as questões insensatas e não educativas. Tu sabes que elas geram brigas. Ora, o servo do Senhor não deve brigar; deve ser manso para com todos, competente no ensino, paciente na tribulação. É com suavidade que deve educar os opositores, na expectativa de que Deus lhe dará não só a conversão para o conhecimento da verdade, mas também o retorno à sensatez, libertando-os do laço do diabo, que eu tinha cativos de sua vontade”. (2Tm 2,22-26).
Para um melhor esclarecimento leiamos todo o capítulo terceiro da segunda carta de São Timóteo, que tem como título: Advertência contra os perigos dos últimos tempos, o qual nos ensina com muita sabedoria e inspiração do Espírito Santo sobre os assuntos que estamos tratando. Ele, assim nos fala:
“Sabe, porém, o seguinte: nos últimos dias sobrevirão momentos difíceis. Os homens serão egoístas, gananciosos, jactanciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; guardarão as aparências da piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Afasta-te também destes. Entre estes se encontram os que se introduzem nas casas e conseguem cativar mulherzinhas carregadas de pecados, possuídas de toda sorte de desejos, sempre aprendendo, mas sem jamais poder atingir o conhecimento da verdade. Do mesmo modo como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, assim também estes se opõem à verdade; são homens de espírito corrupto, de fé inconsistente. Mas eles não irão muito adiante, pois a sua loucura será manifesta a todos, como o foi a daqueles. Tu, porém, me tens seguido de perto no ensino, na conduta, nos projetos, na fé, na longanimidade, na caridade, na perseverança, nas perseguições, nos sofrimentos que conheci em Antioquia, em Icônio, em Listra. Que perseguições eu sofri! E de todas me livrou o Senhor! Aliás, todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão perseguidos. Quanto aos homens maus e impostores, progredirão no mal, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as sagradas Letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra”. (2Tm 3,1-17). Esse capítulo é muito importante porque faz uma análise minuciosa da época, mostrando assim as dificuldades no seguimento de Cristo, os erros daquele que não querem seguir os caminhos de Jesus e termina dando importantes conselhos e pistas para uma boa vida e vivência cristã.
Mesmo diante de tantas dificuldades, sofrimentos e fadigas, sejamos sempre fortes na fé que abraçamos. Ninguém ressuscita se não morrer, ou seja, para conseguirmos a coroa de glória que Deus preparou para cada um de nós, teremos que passar pela cruz. O próprio Jesus Cristo nos mostrou isso com a sua santa vida. Ele passou pela Paixão, Morte e, por fim a Ressurreição. Fugir da cruz não é atitude de verdadeiro cristão. Abracemos com amor e resignação a cruz que foi posta ou imposta em nossos ombros, pois cada um sabe bem qual é a sua. Saibamos que, a nossa fé sempre será provada como o ouro na fornalha. Não permitamos que a nossa fé seja vacilante. Ouçamos a São Tiago nos ensina: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam”. (Tg 1,12).
Diante de tudo, que, aqui, foi explanado, estejamos sempre atentos todos os dias as nossas atitudes e relações humanas; principalmente relativos aos nossos comportamentos em relação a fé cristã e a religião que seguimos e acreditamos.
Cf. Devemos ser verdadeiros cristãos. (I)
REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.
Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)
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