terça-feira, 17 de dezembro de 2019

A MAIS ANTIGA DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA EM NOSSO BRASIL



Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador, Bahia – 17 de dezembro de 2019

Poucos sabem, que aqui em nossas terras do Brasil, já no século XVI, precisamente na cidade do Salvador da Bahia, havia uma grande veneração a Santíssima Mãe de Deus. E os louvores em sua honra eram celebrados no dia 18 de dezembro, dia que ficou marcado como a sua memória litúrgica. Essa devoção foi iniciada com muito amor e dedicação por uma índia da tribo Tupinambá convertida ao catolicismo. Tão bela e muito eficaz foi essa devoção que ainda neste século XVI se espalhou para outras regiões do continente. Por isso podemos ver na história da cidade de Santos no estado de São Paulo, uma capela dedicada à mesma devoção, no ano de 1562. Pena que na urbanização da cidade de Santos, esta capela foi demolida no ano de 1903. Tão conhecida era a história da índia baiana, grande devota da Mãe de Deus, a qual lhe tinha construído para os louvores da Virgem Maria, uma ermida com o título de NOSSA SENHORA DA GRAÇA no atual bairro da Graça, Salvador, no ano de 1535. Outros autores colocam também como no ano de 1530.

A seu pedido, o marido construiu uma hermida de taipa que posteriormente passou a ser de pedra e cal, para onde foi trasladada e começou a ser venerada a imagem sob a invocação de Nossa Senhora da Graça em atenção à prodigiosa graça da aparição “em sonhos da Mãe de Deus a Catarina” (Mello Moraes).

Outro escritor assim nos fala reportando-se ao ano de 1535.

“Caramuru, constrói a pedido de Catharina, um oratório de taipa para abrigar a imagem da Virgem Maria. Essa capela, atual Igreja de Nossa Senhora da Graça, foi o primeiro templo religioso na Bahia e o primeiro mariano no Brasil”. (PORTO FILHO, 2012, p. 27)

E ainda: “Estava assim, em 1535, erguida a primeira igreja na Bahia, dedicada a Mãe de Jesus, que depois receberia o nome de Ermida de Nossa Senhora da Graça”. (PORTO FILHO, 2012, p. 18)

E depois trazendo a memória o ano de 1585 nos diz:

“Catharina Paraguassú, introdutora da devoção mariana no Brasil, comanda as festividades pelos 50 anos da construção da sua capela, erguida em louvação à Nossa Senhora da Graça”. (PORTO FILHO, 2012, p. 28)

Assim, para perpetuar o mesmo culto a soberana Senhora da Graça, essa ermida foi doada a recém-chegada Ordem do Patriarca São Bento em 16 de julho do ano de 1586 da qual até os dias de hoje os monges beneditinos cuidam com muito zelo desse importante patrimônio da Bahia. O interessante é que não foi doada apenas a ermida mas uma grande extensão de suas terras para a subsistência da nova Ordem recém-fundada no Brasil, no ano de 1582. Hoje, o imponente Mosteiro de São Bento da Bahia, o arquicenóbio do Brasil.

Sempre que mencionamos a devoção a NOSSA SENHORA DA GRAÇA, às pessoas pensam ser esta devoção aquela nascida na cidade de Paris no ano de 1830, na qual a Virgem Santíssima apareceu a Santa Catarina Labouré, pedindo-lhe que fosse cunhada uma medalha, a qual posteriormente ficou conhecida mundialmente como a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças, por causa dos muitos milagres ocorridos pela intercessão de Nossa Senhora das Graças, imagem revelada a Santa Catarina. Não é desta linda e eficaz devoção que aqui me refiro. O meu desejo é fazê-los conhecer um pouco da história da importante, e da mais antiga devoção que vem desde os primórdios do nosso Brasil, a DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DA GRAÇA. Neste mesmo dia, essa memória também é conhecida com o nome de Expectação do parto de Maria Santíssima. Porque a Graça é o Cristo Salvador que Maria nos traz.

Essa devoção à Virgem da Graça já existia em Portugal desde o século XIV, quando uns pescadores resgataram uma bela imagem da Virgem Maria, e com o descobrimento da imagem da Santíssima Senhora, ocorreu também um milagre. Os pescadores vendo-se diante de uma pesca milagrosa onde veio em suas redes juntamente com a imagem de Nossa Senhora uma grande quantidade de peixes, com isso, eles deram a essa imagem o título de Nossa Senhora da Graça. Esse fato milagroso ocorreu na cidade de Cascais, em Portugal.

Porém, aqui no Brasil essa devoção apareceu no século XVI, através de uma importante figura que hoje é conhecida como a Matriarca do Brasil. Uma ilustre senhora dos primórdios do nosso continente brasileiro. Essa personalidade chamava-se Catarina Paraguaçu (1512-1589), uma índia Tupinambá, filha do cacique Taparica. Catarina, após a sua conversão para o catolicismo ao receber o sacramento do santo Batismo, ela recebeu o nome de Catherine du Brezil. Esta era a esposa do português náufrago, Diogo Álvares Correa, o Caramuru (1490-1554). Existem muitas lendas sobre a história dessa índia e da sua relação matrimonial com Diogo Álvares. Mais aqui, não desejo falar desses pormenores. O meu intento é mostrar sua devoção à Senhora da Graça, a qual ela tanto amou e honrou construindo-lhe uma ermida/capelinha para os louvores da Santíssima Senhora. Vejamos um pouco da história que é bastante contada nos antigos documentos.

Houve uma história em terras baianas que marcou o início dessa devoção, mesmo antes da colonização oficial do Brasil (entre 1500 e 1532). Numa manhã, Catarina revelou a Diogo Álvares que, durante a noite, tivera um sonho repetido várias vezes: contemplava em uma grande praia um barco destroçado, com homens brancos passando fome e frio, e junto deles uma bela senhora com uma criança nos braços. Devido à credulidade da época e à insistência da jovem Paraguaçu, Caramuru mandou explorar a costa, mas nada foi achado. Mais uma vez o sonho se repetiu, mais uma investigação, e desta vez realmente acharam o tal navio (que era espanhol) e sua tripulação, na ilha de Boipeba. Sem demora foi o socorro prestado, mas, quanto à presença de uma mulher entre os castelhanos, não foi confirmada. Estando a índia Paraguaçu triste pelo não encontro da senhora, visto que esses assuntos eram muito sérios naqueles dias, durante a noite a senhora apareceu nos sonhos da índia e disse que a fossem buscar e lhe fizessem uma casa. Acordando, insistiu com seu esposo, e ele, devido ao sucesso das primeiras informações, acreditou que poderia encontrar alguma coisa. Uma nova expedição foi feita, até que encontrou uma imagem da Virgem Maria em uma palhoça, recolhida por um nativo do lugar; era a imagem da Mãe de Jesus com seu filho nos braços, que foi transportada para sua aldeia. Erigiu-se uma pequena capela em 1530, dando-lhe o nome de Nossa Senhora da Graça pelo efeito extraordinário ali ocorrido. Essa mesma ermida foi doada aos monges da Ordem de São Bento em 1586 pela própria Catarina Paraguaçu e seu esposo - assim ficavam garantidos o culto e a continuação de sua obra tão pia. Mais tarde, foi substituída por uma igreja de maior porte. (Francisco Carballa*)

Essa história ficou muito conhecida popularmente a ponto de chegar até a Vila de Santos, como já mencionado acima, onde também foi construída uma capela para a mesma Senhora da Graça. Esta Capela da Graça, que possivelmente seria do ano de 1562, permaneceu até o ano de 1903, e era localizada na antiga Rua Santo Antônio, atualmente a Rua do Comércio, denominada Rua do Sal.

Incentivados pelo ocorrido, quando os portugueses começaram sua colonização, os padres que por aqui estavam evangelizando os ameríndios, sabedores dos fatos ocorridos na Bahia, encontraram nessa simples história um sinal do céu para seu sucesso na empreitada. Assim, os padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta muito devem ter contado e recontado esse evento pelo litoral e interior, onde trabalhavam evangelizando e cuidando do rebanho de Cristo, daí inúmeras capelas com esse mesmo título ou humildes peanhas receberam uma imagem sob essa invocação da Virgem Maria. (Francisco Carballa*)

A igreja de Nossa Senhora da Graça é uma pérola da cidade do Salvador da Bahia e também do Brasil, pois é a mais antiga em honra a Nossa Senhora. Vejamos o que nos diz o escritor Ubaldo Marques ao se referir a uma celebração na cidade do Salvador ocorrida no ano de 1549, ano da fundação desta cidade:

No dia 31 de março, em solenidade presidida pelo jesuíta Manuel da Nobrega, foi celebrada a primeira festa mariana do Brasil, na Ermida de Nossa Senhora da Graça, com uma missa em honra à chegada de Tomé de Souza, que esteve presente, juntamente com membros da sua comitiva, de vários índios e do primeiro casal cristão do Brasil, Catharina e Caramuru. (PORTO FILHO, 2012, p. 27)

Nos registros da capela podemos ver com o tempo os melhoramentos dos seus espaços para as celebrações litúrgicas bem como outros trabalhos aí realizados. No ano de 1770 o nosso muito Reverendíssimo Dom Abade Frei Ignacio da Piedade Peixoto reedifica a capela, data que podemos ver atualmente no frontispício da igreja. Inscrição: “Frei Ignacio da Piedade Peixoto mandou principiar a reedificar esta Igreja de Nossa Senhora da Graça aos 11 de outubro de 1770”. Tanto a igreja como o mosteirinho anexo a ela, passaram por várias reformas nos anos de 1881, 1924, 1935 etc. E atualmente foi feita a restauração de toda a igreja e alguns reparos na parte do mosteiro para uma utilização mais adequado dos seus espaços em 2017-2018. Também aí foi criado o COMPLEXO CULTURAL NOSSA SENHORA DA GRAÇA o qual está ligado ao Mosteiro de São Bento da Bahia o proprietário deste Santuário de Nossa Senhora. Esses espaços serão usados para eventos culturais e outras atrações (cf. endereço abaixo).

Um registro bastante importante que não poderíamos deixar de citá-lo aqui é as datas referentes a criação do Mosteiro de Nossa Senhora da Graça chegando a ser uma Abadia. A qual anos mais tarde foi supressa pela Sé Apostólica e anexada ao Arquicenóbio da Bahia o Mosteiro de São Bento que se encontra no centro da cidade do Salvador. Assim nos deixou escrito o monge Dom José Lohr Enres, O.S.B, monge da Arquiabadia de São Sebastião da Bahia o registro muito importante sobre o Mosteiro da Graça.

Fundado no ano de 1647 e Presidência a 13 de janeiro de 1694, foi ereto em Abadia a 05 de fevereiro de 1697. Voltou a ser Presidência no ano de 1707 e foi 2ª vez elevado à Abadia a 27 de fevereiro de 1720. Por Decreto da Santa Sé de 20 de janeiro de 1906 foi supresso e incorporado à Abadia de São Sebastião do Salvador da Bahia, continuando até o presente como Priorado Claustral (ENDRES, p. 74).


A VALIOSA E SAGRADA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA

A sagrada imagem de Nossa Senhora da Graça é bem distinta e de uma beleza ímpar. Possivelmente a sua policromia atual não é a mesma, aquela do século XVI do tempo de Dona Catarina Paraguaçu. Atualmente imagem está bem preservada. Podemos ver a Santíssima Senhora de pé, com seu amado Filho Jesus Cristo em seus sagrados braços, o rosto lindamente sereno, com os cabelos soltos, coberto com um véu, tendo a mão direita numa posição de segurar um cetro ou algum outro objeto. Não se sabe que objeto estaria segurando. Certamente perdeu-se ao longo dos anos. A linda Senhora está com uma bela coroa de prata em sua cabeça, pois Ela é a nossa Mãe e Rainha. A seus santos pés vemos lindos Anjos, por ser, Ela, a Rainha dos Anjos. O sagrado menino Jesus também sereno e de grande beleza, vemo-lo como num gesto de movimentar-se em seus braços materno, trazendo na sua cabeça um lindo esplendor de prata.

Um outro autor assim nos deixou o relato em relação a Sagrada Imagem da Mãe da Graça:

A imagem da Mãe de Deus que a piedade venera no altar-mor da Igreja, bela escultura de madeira, perfeitamente trabalhada, tendo no braço esquerdo a Jesus Menino, é a mesma do sonho de (Catarina) Paraguassú, aquela milagrosa Imagem que, destinando-se às terras do Prata, quis ficar conosco.

Que bela devoção! Quantos milagre deu a esta cidade do Salvador, e a outras regiões do nosso querido continente americano, a Santíssima Mãe do bom Deus na invocação de Nossa Senhora da Graça! Devoção tão antiga quanto o nosso Brasil.

Tudo podemos alcançar se pedirmos com fé a Mãe de Deus, pois Ele tudo lhes concede. Nenhum rogo de Maria diante de Deus, dos Anjos, ou dos Santos, ficam sem resposta. Através dela, alcançaremos de Cristo nosso Senhor e Salvador, tudo o que lhe pedimos. Por isso, sempre a invoquemos com fé a sua materna intercessão e proteção. Ó Augusta Rainha dos céus, Ó Soberana Senhora dos Anjos e dos Santos! Vós que recebestes do Senhor o poder de ser a nossa intercessora e protetora, concedei-nos o que Vos pedimos com fé. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Santíssima Virgem da Graça, intercedei a Deu por nós agora e na hora da nossa morte. Amém.

 

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DA GRAÇA 


Ó Deus, eterno e todo-poderoso, bondade infinita, que cumulastes de graças a Santíssima Virgem Maria, com a encarnação do vosso Verbo Divino em seu seio, pelo poder do Espírito Santo. Ele, que é a verdadeira Graça. Pelo amor que tendes por nós, e para nos enriquecer mais com vossos dons e auxílio, fizestes que a tua serva Catarina Paraguaçú, já nos primórdios do nosso continente, recebesse de vossa Santíssima Mãe, uma admirável visita em sonho, para o louvor do vosso nome e honra da mesma Virgem, nesta terra de Santa Cruz. Sendo Ela, venerada em nossa terra com o título de Virgem da Graça. Pela intercessão da augustíssima Senhora da Graça, concedei-nos, vos pedimos com fé e perseverança, se assim for da vossa vontade, a graça de .............. que tudo seja para o crescimento do Vosso Reino e, no final da nossa vida alcançarmos a vossa Salvação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.

                                                                           Composição: 
Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
                                                                                  Salvador, 28 de julho de 2019  


















Para os interessados, temos neste local a FACULDADE LIVRE DA MATURIDADE/SÃO BENTO que é um curso livre de atualização cultural e qualidade de vida. Oferece atividades para um bem-estar físico, mental, social e espiritual e é direcionada a homens e mulheres com idade a partir de 50 anos.


HORÁRIOS DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS:

Segunda a sábado 
- Missa às 7h 
- Domingos às 8h


EXPEDIENTES: 
Segunda a sábado 
- Das 6h às 17h

Domingos 
- Das 6h às 9h


A FACULDADE LIVRE DA MATURIDADE

HORÁRIOS 
Segunda a sexta 
- Das 14h às 17h

CONTATOS: 
Coordenação Graça Senna 
Fone: Whatsapp: 99137-4965 / 99158-3807 

Avenida Princesa Leopoldina, 133 – Graça 
Salvador – BA 
CEP. 40150-082


REFERÊMCIA

ENDRES, Lohr José. Catálogo dos Bispos- Gerais-Provinciais-Abades e mais cargos da Ordem de São Bento do Brasil 1582-1975. – Salvador – BA: Editora Beneditina Ltda, 1976.

PORTO FILHO, Ubaldo Marques. Catharina Paraguassú, matriarca do Brasil / Ubaldo Marques Porto Filho. Salvador: Acirv, 2012.

* http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0188x.htm  - Acessado em 02/12/2019.


Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)


sábado, 24 de agosto de 2019

BIOGRAFIA DE SÃO GENÉSIO DE ROMA E SÃO GENÉSIO DE ARLES E OUTROS SANTOS COM O MESMO NOME


Representações de são Genésio de Roma, Mártir 

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador, Bahia – 24 de agosto de 2019


INTRODUÇÃO

Muitos confundem SÃO GENÉSIO DE ROMA com o jovem BEM-AVENTURADO GENÉSIO DE ARLES. Ambos viveram nos primórdios da Igreja, e derramaram o seu sangue em defesa da sua fé em Jesus Cristo. O primeiro viveu no século III, d.C, e o segundo no século IV, d.C. 

São Genésio de Roma foi martirizado sob o imperador Diocleciano, enquanto o Bem-Aventurado Genésio de Arles sofreu o martírio sob o império de Maximiano. Além desses dois santos temos outros que trazem o mesmo nome. Temos SÃO GENÉSIO DE CLERMONT, que foi bispo. Sua memória é celebrada no dia 03 de junho. SÃO GENÉSIO DE BRESCELLO, bispo de Brescello morto no ano de 399 (Itália), que viveu também no século IV. SÃO GENÉSIO DE THIERS, que também sofreu o martírio. Sua memória é celebrada no dia 28 de outubro. E, SÃO GENÉSIO DE LYON, bispo. Sua memória é celebrada no dia 03 de novembro.

Estes insignes santos, deixaram para o cristianismo, suas importantes contribuições para o crescimento do reino de Deus, uns, através do seu sangue derramado por causa da sua profissão de fé em Cristo e, outros pelos seus grandes trabalhos de evangelização como bons pastores do seu rebanho.

Que eles intercedam no céu por todos nós, que ainda estamos em marcha para a vida eterna com Cristo. Amém.

SÃO GENÉSIO DE ROMA, ATOR E MÁRTIR
(Viveu no século III, d.C e foi martirizado por volta do ano 250) 
Memória, 25 de agosto 


São Genésio de Roma é um santo mártir que viveu durante a grande perseguição aos cristãos no século III. Ele era ator profissional e comediante do imperador Diocleciano e também líder de um grupo de teatro.

Segundo a tradição, quando Genésio estava se apresentando para o imperador Diocleciano, numa persa onde era ridicularizados os mistérios da fé dos cristãos, principalmente a recepção do Sacramento do Batismo, foi ele tocado pela graça de Cristo e, assim, se converteu a fé cristã milagrosamente. Por causa disso, o imperador Diocleciano, achando-o realista demais, a sua encenação, mandou Plautius, que era o prefeito de praetorium, torturá-lo com a intenção de voltar a sacrificar para os deuses pagãos. São Genésio não atendendo os desejos dos seus carrascos e insistindo em defender o cristianismo, este valoroso santo resistiu às torturas, e assim bradou diante daqueles que desejavam que renegasse a sua fé em Cristo: “Não há outro rei senão Cristo”! fazendo com que Platius mandasse decapitá-lo. Seu martírio ocorreu por volta do ano 250.

Este santo foi muito venerado no século IV por isso uma igreja foi construída em sua honra e, posteriormente, restaurada e ampliada pelo papa Gregório III no ano de 741, mas, com tudo isso, alguns ainda duvidam de sua existência.

São Genésio é o santo patrono dos atores e dos músicos. Também ele é invocado contra aqueles que sofrem de epilepsia. Sua memória litúrgica é celebrada no dia 25 de agosto. Nas suas pinturas ou esculturas ele está representado segurando umas máscaras de teatro, violino, ou violão, palma do martírio, instrumentos que são os seus atributos.  

O martirológio romano monástico assim descreve a vida de São Genésio de Roma:

“Em Roma, São Genésio. Nascido no paganismo, era ator profissional. Um dia, quando se apresentava ao imperador Diocleciano, ao parodiar os mistérios cristãos foi subitamente tocado pela graça, e pediu o batismo. Por ordem do imperador foi batizado em seu próprio sangue, enquanto clamava: “Não há outro rei senão Cristo”!” (Martirológio, 1997, p. 278).

Portanto, peçamos sempre a intercessão e a proteção de São Genésio de Roma diante das dificuldades no seguimento de Cristo, nosso verdadeiro Rei e Senhor. 






BEM-AVENTURADO GENÉSIO DE ARLES 
(+303 ou 308), ESCRIVÃO E MÁRTIR
(Viveu no século IV, d.C) 
Memórias, 25 de agosto

O jovem escrivão Bem-Aventurado Genésio de Arles não deve ser confundido com São Genésio de Roma. Pois, este era o chanceler de Arles na França, morto no ano de 303 ou 308, o qual se recusando a transcrever o edito de perseguição contra os cristãos, dado pelo imperador Maximiano, no século IV, foi decapitado por causa da sua fé em Cristo.

Vejamos o que nos diz o martirológio romano monástico sobre a vida do jovem Bem-Aventurado Genésio de Arles:

“Em Arles, o Bem-Aventurado Genésio, jovem escrivão do tribunal, decapitado por ter se recusado a registrar os decretos de condenação de cristãos inocentes. Diversas localidades da França ainda trazem seu nome” (Martirológio, 1997, p. 277). 

Vejamos também na Acta Sanctorum:

“Genésio, natural de Arles, era um soldado conhecido por sua maestria por escrito, para o qual foi nomeado secretário do magistrado romano de Arles. No desenvolvimento das funções de seu cargo, ele foi indicado para ser escrivão do decreto de perseguição dos cristãos. Indignado em seu ideal de justiça, o jovem catecúmeno jogou as tábuas de cera onde tomou suas anotações aos pés do magistrado e fugiu. Ele foi capturado e executado e recebeu o batismo em seu próprio sangue”. (Acta Santorum, Aug., V, 123, y Thierry Ruinart, 559) 

São Genésio de Arles é o santo patrono dos secretários, notários e escrivães. Ele é representado segurando um rolo de pergaminho, livro e palma do martírio. Sua memória litúrgica é celebrada no dia 25 de agosto. 

Bem-Aventurado Genésio de Arles, rogai por nós. Amém.


ORAÇÃO A 
SÃO GENÉSIO DE ROMA, MÁRTIR
(+ Por volta de 250) 
Senhor Jesus Cristo, Rei dos mártires, Vós que destes a São Genésio de Roma a coroa do martírio, pela fidelidade de sua fé e proclamação da Vossa Divindade, não temendo ele a ordem do ímpio imperador, nem a espada do seu carrasco. Por sua profissão de fé, deu este teu servo, novo vigor a vossa Igreja, com o derramamento do seu sangue por Vossa causa. Concedei-nos, por sua intercessão, a graça de sermos sempre fiéis a sua Igreja, e aos Mistérios da nossa fé. Vós que viveis e reinais com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Amém. 

Composição: 
Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
Salvador, Bahia - 24 de agosto de 2019. 


REFERÊNCIAS

- MARTIROLÓGIO ROMANO-MONÁSTICO. Abadia de São Pierre de Solesmes / traduzido e adaptado para o Brasil pelos monges do Mosteiro da Ressurreição / Ponta Grossa, PR - Mosteiro da Ressurreição, edições, 1997.



Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)


quarta-feira, 22 de maio de 2019

SANTA MARINA OU MARGARIDA DE ANTIOQUIA (Século IV)

Belíssimo ícone de Santa Marina ou Margarida de Antioquia de origem Capadócia com características bizantinas. 



DADOS BIOGRÁFICOS

NASCEU: em Antioquia da Pisídia, Ásia Menor (Século IV).
PADROEIRA: das parturientes.
MARTÍRIO: no dia 17 de julho.
FESTA LITÚRGICA: dia 17 de julho para os orientais e 20 de julho para o ocidentais.
ATRIBUTOS: portando uma cruz, palma ou espada. Pisando um dragão, saindo de sua boca ou mesmo do seu ventre.



SANTA MARINA OU MARGARIDA DE ANTIOQUIA (Século IV) 

Devido à grande confusão que muitos fazem com o nome desta santa, desejei postar aos meus leitores um pequeno texto sobre esta mártir dos primeiros séculos da Igreja, que testemunhou sua fé em Cristo, no século IV, sob o Império de Diocleciano.

Segundo a tradição, esta Santa foi venerada pelos primeiros cristãos com o nome de Marina, portanto, este é o seu nome mais antigo. Porque ela também é chamada de Margarida de Antioquia. Ressalto que existem outras santas com o mesmo nome. Uma delas é Santa Marina que foi monja. Que viveu no mosteiro em Alexandria; conhecida por Marina de Alexandria ou Marina de Bitínia (715-790) ou mesmo, Marina o “monge”, porque esta ingressou num mosteiro masculino através do seu pai que também ingressou e viveram aí, ela, escondida, sob o hábito de monge, só se descobrindo que era uma mulher depois da sua morte. Temos igualmente outra santa cognominada de, Marina de Galícia ou de Orense. Uma outra mártir local que segundo uma tradição foi irmã de Quitéria. Esta tem sua história muito similar àquela de Antioquia. Daí, dada a grande confusão das santas. Por isso, neste pequeno texto, tentarei explicar-lhes para que possam distingui-las com mais clareza.

Pois bem! Marina ou Margarida de Antioquia, é a mesma pessoa. Às vezes muitos até a confundem com o ícone de Nossa Senhora, onde santa Marina está representada segurando um martelo, sujeitando o diabo pelos chifres e pisando no mesmo. Um belo ícone de origem capadócia e pintura bem bizantina, de uma beleza singular. Para quem olha com mais atenção esta bela pintura, verá que, abaixo, em pequenos quadros estão retratadas partes da vida da santa, seu martírio.

É de fundamental importância ter o conhecimento de arte religiosa, para poder identificar certos santos do cristianismo. Pois, cada santo, traz o seu atributo, ou seja, eles sempre estão portando um objeto que o identifica. Por exemplo: Santa Luzia está quase sempre representada com os olhos num prato ou em suas mãos e também com a palma do martírio, São Francisco de Assis com as Sagradas chagas de Cristo, ou animais, São Pedro com as chaves, São Sebastião com as flechas etc.

Margarida de Antioquia na Espanha é conhecida por Marina de Galícia, que é outra santa com a história bastante parecida com a da do século IV; daí a grande confusão. O culto a santa Marina de Antioquia é bastante antigo. Este vem dos primeiros séculos da Igreja, século IV. Durante a Idade Média este foi muito propagado. Podemos ver na Legenda Áurea (aprox. 1260), do Beato Jacopo dela Voragine, bispo (1228-1298), um texto sobre a vida de Santa Marina. O qual deu impulso a sua devoção. Com a chegada da Contra-Reforma, no século XVI seu culto teve um declínio, por surgirem certas dúvidas quanto a sua existência.

Segundo a Legenda Áurea Santa Marina ou Margarida era filha de um sacerdote pagão chamado Onésimo o qual mais tarde se converteu ao cristianismo. Santa Marina nasceu em Antioquia da Pisídia – Ásia Menor. Não conhecemos a data do seu nascimento. Sua mãe morreu quando ela era ainda criança; a qual foi-lhe dada uma ama que era cristã secretamente, assim, lhes transmitindo a sua fé em Cristo. Certo dia, quando a santa estava no campo, pastoreando as ovelhas, o prefeito daquela região chamado Olibrio, se apaixona por ela e, este lhe faz uma proposta de casamento, recusando a jovem tal proposta. Diante disso, o prefeito lhe manda prender. Em sua prisão, lhe aparece o diabo em forma de um horrendo dragão querendo lhe devorar. Mas, graças a sua fé em Cristo, com a sagrada cruz do Salvador, ela conseguiu escapar ilesa da barriga desse monstro, que a devora, não conseguindo, este, mantê-la em seu ventre.  

Mesmo após esse milagre, a Santa teve muitas outras tentações e tormentos em sua vida. Santa Marina sofreu terríveis tipos de torturas para que renegasse sua fé em Cristo. Uma delas foi ser exposta nua em público para envergonhá-la. Tão cruéis eram seus carrascos que todo povo gritava de comoção diante de tanta crueldade, mas, mantendo-se, ela, sempre fiel à sua fé, Naquele que a salvou.

Os seus algozes não conseguindo os seus intentos perversos, dá-lhe a sentença da decapitação, recebendo, esta serva de Cristo, a coroa do martírio. A história do seu martírio é atribuída a um tal Teótimo que afirmou ser testemunha ocular do seu martírio. Segundo ele, esse episódio teria ocorrido no dia 17 de julho, sob o Imperador Diocleciano. Há quem diga ser uma lenda, principalmente o milagre do dragão.

A sua festa litúrgica é celebrada no dia 17 de julho para os orientais e 20 de julho para o ocidentais. Vemos uma menção ao seu nome no Martirológio de Rábano Mauro, Abade de Fulda, Arcebispo de Mainz (780-856).

Devido ao milagre da vitória sobre o dragão, ela tornou-se a padroeira das parturientes, por estas terem recebidos muitas graças através da sua intercessão. Santa Marina ou Margarida está quase sempre representada com um martelo em sua mão, segurando pelos chifres ou pisando num monstro que é a personificação do diabo e, também com a santa cruz em sua mão. Também podemos ver iconografias dela saindo do ventre ou da boca do dragão; ás vezes portando uma cruz, que é o símbolo da vitória sobre o mal.

Se não analisarmos com cuidado os elementos retratado na pintura de Santa Marina, poderemos muito bem confundi-la com Nossa Senhora, porque ela está quase sempre retratada vestida com uma túnica azul, às vezes, estrelada e, manto vermelho, símbolo do seu martírio. Cores que são bastante colocadas nas pinturas da Virgem Maria.

Ela não era venerada como grande Mártir só pela Europa católica, mas também pelas Igrejas orientais. Os ortodoxos a conhecem por Santa Marina e os católicos por Santa Margarida. Por isso alguns pensam ser duas santas. No Oriente ela aparece sujeitando o diabo pelos chifres, enquanto no Ocidente, ela está pisando num dragão.

Não nos preocupemos se a santa existiu ou não. O que importa é que o nome de Santa Marina, através dos séculos socorreu uma multidão de cristão necessitados da ajuda de Deus. Olhemos para o seu exemplo de virtude e coragem diante de tantos sofrimentos que suportou pela sua fé no verdadeiro Deus, o Cristo.

Peçamos também a sua poderosa intercessão. Santa Marina / Margarida, rogai por nós. Amém. 


OUTRAS BELAS PINTURAS QUE REPRESENTA SANTA MARINA OU MARGARIDA DE ANTIOQUIA








REFERENCIAS  








Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)