Encontro da imagem de Nossa Senhora da Cabeça, século XIII – Espanha.
Memória dia 12 de agosto.
Memória 2º domingo de dezembro.
Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
Salvador - BA - 27 de fevereiro de 2021
- Num mundo de situação pandêmica do coronavírus e também outros males onde muitas pessoas ficaram e estão ainda ficando com problemas psíquicos e muitos outros males, é mister que nos apeguemos as coisas do bom Deus; aos tesouros que ao longo da história ele nos concedeu para o nosso socorro nas necessidades da nossa vida e da própria história do mundo. Portanto, as devoções são um meio bastante eficaz não só para nos tornarmos pessoas melhores, mas também para nos aproximar mais de Deus. (Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B).
Deus, tanto ama os seus filhos, pois sempre no momento oportuno e de grandes dificuldades individual, comunitária e universal, Ele nos envia o seu precioso e tão esperado auxílio. Ele nos revelou e nos deu o seu próprio Filho unigênito, Jesus Cristo, para a nossa salvação como nos diz São João no Evangelho: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (Jo 3,16-18).
Portanto, de diversas maneiras se mostra Deus, a nós, no decorrer da história da humanidade. Inumeráveis revelações, alocuções, visões de anjos, de Santos e muitas outras formas de auxílio foi-nos concedida ao longo da nossa história as quais a tradição da Igreja guarda com muito zelo e devoção. Pois bem, falando de aparições se formos catalogar apenas as aparições de sua Santíssima Mãe a Virgem Maria, veremos centenas delas por todo o orbe terrestre. Aqui veremos um pouco da história de duas delas ocorridas uma na Espanha no século XIII, intitulada de Nossa Senhora da Cabeça, e outra no Brasil com o título de Nossa Senhora de Santa Cabeça, no século XVIII.
Vemos que muitas pessoas confundem estas duas devoções. Elas aconteceram em séculos diferentes e em ocasiões diferentes apesar de terem nomes um pouco semelhantes. Entremos agora na narração dos fatos.
Contasse que na Serra Morena na Andaluzia, Espanha, precisamente no mais alto de seu pico o qual é conhecido como o Pico da Cabeça, vivia um soldado das cruzadas que era natural da cidade de Granada. Outras fontes falam que ele era prisioneiro dos mouros e conseguiu fugir refugiando-se na Serra Morena onde viviam outros pastores de ovelhas. Este se chamava Juan Alonso Rivas. Juan Rivas por ter mutilado um de seus braços na luta contra os muçulmanos, foi ser pastor de ovelhas próximo ao povoado de Andajur. Este tinha uma grande devoção a Nossa Senhora. Rezava constantemente por si e por sua família pedindo a maternal proteção da Mãe de Deus.
Certo dia quando pastoreava as suas ovelhas próximo ao Pico da Cabeça, viu um grande clarão e um toque de sineta a qual estava presa a um galho e não parava de tocar. E ficou curioso com o que vira. Ele se aproximou e viu dentro de uma gruta no cume do monte, uma linda imagem de Nossa Senhora. Era o dia 12 de agosto do ano de 1227.
Juan Alonso Rivas, diante desse acontecimento ficou assustado, mas uma voz celestial logo o tranquiliza. Esta lhe pede que ele se dirija ao povoado de Andajur e fale da visão que teve. Pediu-lhe também que construísse ali uma igreja e que ele dissesse a todas as pessoas do povoado que Deus desejava a conversão de todos. O vidente receoso que os moradores do povoado não acreditassem no seu relato, este pediu a nossa Senhora um sinal para que se confirmasse a visão diante do povo e eles acreditassem na sua visão. E assim o primeiro milagre ali mesmo no monte ocorreu. O seu braço que fora mutilado pela guerra contra os mulçumanos estava agora reconstituído milagrosamente. Ele, repleto de alegria pelo milagre, corre ao povoado para dar a notícia e o recado da Virgem Maria. Ao verem com o seu braço em perfeito estado, pois era bastante conhecido no povoado, todos ficaram maravilhados pelo milagre e acreditaram em Juan Alonso Rivas.
Diante isso, o vigário de Andajur e o povo se dirigiram a Serra Morena, Pico da Cabeça, para verem a imagem de Nossa Senhora e venerá-la. Por esse motivo, esta imagem foi chamada de Nossa Senhora da Cabeça. Até que fosse construída a igreja pedida pela Virgem, a imagem foi trazida em procissão para o povoado. No local, posteriormente foi construída uma grande igreja para o louvor e veneração da Mãe de Deus como foi solicitado a Juan Rivas; o povo se converteu como foi pedido pela Virgem e faziam peregrinações a Serra Morena. Assim nasceu esta bela devoção a Nossa Senhora da Cabeça.
Com as peregrinações os milagres se multiplicaram e a devoção a Nossa Senhora da Cabeça se espalhou por toda região. E com a graça de Deus 400 anos depois chega aqui no nosso Brasil por volta do ano de 1604 através de dona Maria de Mendonza y Benevides que era espanhola e lhe tinha grande devoção.
Um outro fato muito curioso ocorreu com um homem nobre que fora condenado injustamente a forca e por intercessão da Virgem da Cabeça conseguiu livrar-se da injusta condenação. Contasse que: “Um homem condenado à morte, jurando inocência, pediu um milagre para Nossa Senhora da Cabeça. Então, na hora de sua execução, chegou um mensageiro do Rei trazendo o perdão do condenado, dizendo que haviam errado em seu julgamento. Imediatamente todos começaram a gritar como sendo mais um milagre de Nossa Senhora da Cabeça. O homem mandou fazer uma cabeça de cera (ex-voto) e a depositou aos pés da imagem em agradecimento.” (1)
A partir desse fato a imagem de Nossa Senhora foi representada com uma cabeça em sua mão. Por isso, os seus fiéis começaram a pedir a proteção da Virgem Maria por aqueles que sofrem com dores de cabeça e também outros males corporais.
A Sagrada imagem espanhola é diferente da que vemos hoje no Brasil. Pois ela tem a cor escura, meia morena e tem na sua mão direita um fruto chamado medronho. Quanto a imagem brasileira esta é de coloração branca e está segurando uma cabeça em sua mão direita, representação do ex-voto do milagre do homem que fora condenado injustamente.
No Brasil esta devoção chega no século XVII, por volta do ano 1604, através da esposa de Martinho Correia de Sá (1575-1637) que era o governador da capitania do Rio de Janeiro, Dona Maria de Mendoza y Benevides, (2) espanhola e muito devota de Nossa Senhora da Cabeça. Ela trouxe para o Brasil duas imagens de Nossa Senhora da Cabeça que infelizmente se perderam com o passar dos anos. Uma delas ficava na capela de Nossa Senhora da Cabeça no jardim botânico do Rio de Janeiro e a outra na catedral de São Sebastião, situada no morro do castelo, Rio de Janeiro a qual foi demolida no início do século vinte juntamente com o morro.
Na catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, a devoção a Nossa Senhora da Cabeça tornou-se mais conhecida e cultuada desde o ano de 1910.
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DA CABEÇA
“Aqui estou, prostrado a vossos pés, ó Mãe do Céu e Senhora nossa. Tocai o meu coração a fim de que deteste sempre o pecado, e ame sempre a vida austera e cristã, que exiges de vossos devotos. Tende piedade das minhas misérias espirituais. E, ó Mãe terna, não vos esqueçais também das misérias que afligem o meu corpo e enchem de amargura a minha vida terrena. Dai-me saúde e forças para vencer todas as dificuldades que me opõe o mundo. Não permitais que minha pobre cabeça seja atormentada por males que me perturbem a tranquilidade da vida. Pelos merecimentos de vosso Divino Filho, Jesus Cristo, e pelo amor a que ele consagrais, alcançai-me a graça que agora vos peço, (fazer o pedido), aí tendes, ó Mãe poderosa, a minha humilde súplica. Se quiserdes, ela será atendida. Nossa Senhora da Cabeça, rogai por nós. Amém.”
No decorrer do século XVIII, no Brasil, ocorre um milagre! Distinto daquele outrora ocorrido na Espanha do século XIII. Porém, é semelhante no nome dado a devoção. E, por essa razão, muitos confundem estas duas devoções.
Lembremo-nos também que no século XVIII houve o encontro de uma Sagrada imagem de terracota de Nossa Senhora da Conceição que depois foi concedido o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, episódio ocorrido no mês de outubro do ano de 1717, no Rio Paraíba do Sul, em São Paulo, por três pescadores. Hoje, Santuário nacional e também a ela foi proclamada a padroeira do Brasil. No entanto, o que nos interessa aqui é outra devoção que não é tão conhecida como a história de Nossa Senhora Aparecida. Vejamos como se deu esse milagre do Deus altíssimo para nós em nosso país.
Dois simples pescadores encontram no Rio Tietê em São Paulo, a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora. Até aí podemos dizer que não vemos nada de extraordinário. A cabeça da imagem que fora encontrada pelos pescadores foi entregue a um negociante tropeiro que vinha do Rio Grande do Sul e se dirigia para o Rio de Janeiro. Em Cachoeira Paulista, Silveiras era a antiga estrada que ligava Rio – SP, rodovia dos tropeiros.
O tropeiro chamava-se senhor José o qual fez uma paragem para almoçar, como era o costume dos tropeiros na época, na casa de uma senhora chamada dona Joana e em agradecimento pela acolhida o senhor José pergunta a dona Joana se queria a cabeça de uma imagem de Nossa Senhora que tinha conseguido com uns pescadores a qual estava em seu alforje e que poderia se quebrar. Dona Joana aceita com alegria o artefato pois por ser devota de Nossa Senhora, aquele objeto para ela era sagrado e por isso coloca a Cabeça da imagem em seu oratório. Nesse período era bastante comum às pessoas rezarem terços, novenas, ladainhas e outras orações nas casas. Ali diante da pequenina cabeça de Nossa Senhora o povo da região começou a alcançar milagres abundantes de Deus por intermédio da Santíssima Virgem Maria diante daquela pequenina Cabeça. Assim começou a devoção a Nossa Senhora da Santa Cabeça.
Anos mais tarde foi construída uma igreja para abrigar a Sagrada e miraculosa Cabeça de Nossa Senhora com o título de Nossa Senhora da Santa Cabeça. A construção da igreja foi no ano de 1928 na cidade de São Paulo, o único santuário do mundo que traz esse título.
Em ambas as devoções os fiéis pedem alívio ou cura para os problemas neurológicos ou outros males e enfermidades.
Portanto, agradeçamos sempre a Deus pelos inúmeros benefícios e valimentos que nos concedeu na sua grande e infinita bondade através dos tempos. Peçamos também a Santíssima Virgem Maria o seu precioso e tão necessário valimento para nós e para o mundo, principalmente nestes tempos e dias de grandes dificuldades e de pandemia e tantos outros males que assolam a humanidade toda. Ela que é a despenseira das graças do seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Virgem Santa, rogai por todos nós. Amém.
REFERÊNCIA
(1)https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-nossa-senhora-da-cabeca/22/102/ - Acesso em 26/02/2021.
(2)https://pt.wikipedia.org/wiki/Martim_Correia_de_S%C3%A1#Casamento_e_descend%C3%AAncia - Acesso em 27/02/2021.
Ut In Omnibus Glorificetur Deus (RB 57, 9)