Dom Gilvan
Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge
Beneditino)
Salvador,
Bahia – 28 de novembro de 2018
INTRODUÇÃO
A santa vida de Líoba foi bastante
intensa, pois, ao sair de sua terra natal, a Inglaterra, a pedido do grande
Bispo São Bonifácio, ela foi responsável pela vida monástica feminina na
Alemanha, juntamente com as suas caras Irmãs da Abadia de Wimborne.
Ela nasceu em Wessex, sua mãe
chamava-se Ebba, e era parenta de São Bonifácio. Desde a infância, Santa Líoba,
foi entregue no Mosteiro de Wimborne, Dorsetshire sobre os cuidados da santa Abadessa
Tetta, que era uma mulher de grande erudição e de uma vida espiritual intensa. A entrega
foi feita devido uma promessa feita por seus pais a Deus, porque, eles, já chegando
a uma idade avançada não tinham tido nenhum filho.
Quando consultamos o Martirológio Romano-Monástico, assim está escrito sobre Santa Líoba: “Em Schornsheim, perto de Mongúncia, aproximadamente em 782, a volta
para Deus de Santa Líoba, Virgem. Parenta de São Bonifácio, deixou a
Inglaterra, seu país natal, para fundar mosteiros na Germânia”. Quanto a
data de sua passagem para Deus, temos o ano de 782 segundo o Martirológio Romano Monástico. Mabillon nos deixou o ano de 772 como a data de sua morte. No
entanto, outras biografias nos dá o ano de 779.
Que a Santa Líoba seja para nós um exemplo de entrega total a Deus, mesmo diante de tantos anos que ela habitou na terra, trabalhando incansavelmente para o crescimento do Reino de Deus; pois, já se
passaram mais de mil anos de seu nascimento, contudo, os seus feitos sempre estarão
atuais em nossa sociedade que está tão sedenta de Deus e de virtudes. Portanto, peçamos sempre
a ela sua intercessão. Amém.
Boa leitura!
A SANTA VIDA
DE LÍOBA, O.S.B, ABADESSA (700-779)
Sua memória é celebrada em 28 de
setembro.
Santa
Líoba não é uma santa que ouvimos falar com frequência, por aí, pois, pela
antiguidade do seu nascimento e por ser monja beneditina, faz dela, pelo menos
em nosso Brasil, um tanto desconhecida.
Líoba
é mais uma daquelas mulheres importantes e fortes anglo-saxônicas do século
VIII. Se nos voltarmos para a Inglaterra deste século, veremos claramente
mulheres embebidas no verdadeiro espírito do cristianismo, se apresentando com
alegria para cooperar na grande obra de evangelização. Isso acontecia em todas
as classes da sociedade. “Senhoras de
nobre linhagem faziam especialmente notar pelo número e pelo zelo, que as
levava a afrontar os perigos inerentes a uma tal empresa”. Muitas delas
deixavam sua Pátria para levar o esplendor da Santa Cruz de Cristo às regiões
ainda envolta nas trevas do paganismo. Mulheres fortes e incansáveis nos trabalhos civis e eclesiásticos.
Santa Líoba nasceu no ano 700 em Wessex,
Inglaterra. Sua mãe chamava-se Ebba,
a qual era parenta do Abade Beneditino São Bonifácio,
O.S.B, (672-754), bispo e mártir. Este santo bispo sofreu o martírio em 05 de
junho do ano de 754/55 em pleno trabalho de evangelização na Frísia. Seu corpo
foi enterrado na Abadia Beneditina de Fulda, Mosteiro fundado por ele em 744. São
Bonifácio é o mais famoso missionário, o qual goza, com justiça, do título de Apóstolo da Alemanha, pois, com
zelo infatigável, pregou o Evangelho e abriu caminho à civilização e à cultura.
São Bonifácio era monge beneditino inglês e foi enviado em Missão pelo Papa São Gregório Magno (540-604) para
evangelizar a Alemanha. Lá, ele organizou a Igreja criando novos bispados e
fundando Mosteiros.
Líoba, impressionada com a vida do
Santo Bispo Bonifácio, tem o desejo de seguir mais de perto o Cristo. Nesse seu
desejo, ela envia uma carta para São Bonifácio, pedindo-lhe que se lembre
dela diante da evangelização a que foi designado. Assim, ela escreve: “Ao Reverendíssimo Senhor Bispo Bonifácio”. Líoba, a última das servas
de Cristo, saúda Bonifácio, seu muito amado em Cristo, que se acha revestido da
maior dignidade do Senhor, a quem está ligada pelos laços de parentesco. [...].
Sou sua única filha e desejaria que me fosse permitido, embora indigna,
considerar-vos como um irmão, no qual confio mais do que em qualquer outro de
meus parentes. Envio-vos este pequeno presente, não que seja digno de vosso
agrado, mas afim de que vos lembreis de minha humilde pessoa e que a distância
não me apague completamente de vossa memória. Desejo também muito que esse
presente estreite entre nós o laço de sincero afeto, para que perdure sempre
(VIDA DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 11). Nesta bela carta, vemos
claramente o grande desejo da santa em trabalhar para o crescimento do Reino de Deus. Das
correspondências entre os dois santos, apenas esta carta foi conservada.
Para a alegria de Líoba, São Bonifácio solicita
a sua Abadessa Tetta, no ano 748 desejando envio de monjas para fundar um Mosteiro
na Germânia e Líoba não podia ficar de fora dessa fundação. Pois, ele conhecia muito bem suas
virtudes e erudição para tal empresa. Não era o desejo de Tetta, tirar do seu
Mosteiro uma alma de grandes virtudes. Porém, atendeu ao pedido do Bispo. A
grande preocupação da Abadessa Tetta era as dificuldades
que passariam suas filhas num país que ainda estava sendo evangelizado, bem
como as dificuldades da longa viagem de navio que elas enfrentariam. Nesta viagem, foram também duas
importantes santas da Ordem Beneditina; Santa
Walburga, O.S.B (710-779), filha de São Ricardo rei da Inglaterra
e Santa Tecla, O.S.B (+790)
eram parenta de Líoba. A primeira, depois de passar dois anos sob o governo de
Líoba, no Mosteiro de Bischofsheim (casa
de bispo), esta foi enviada a dirigir o Mosteiro de Heidenheim fundado por
seus dois irmãos, São Willibald
e São Winibald. A segunda,
depois de algum tempo foi enviada por São Bonifácio para o governo da Abadia de
Kitzingen, no Main. “Seu nome não se acha
na lista das Abadessas desta casa, mas supõe-se que ela seja a Abadessa
designada pelo nome de “Heilga” ou a Santa (VIDA
DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 14).
Que alegria para Líoba, aquela viagem, a muito
tempo desejada. E, mais ainda por ser enviada com aquelas que tinha grande
afeto. Percebemos claramente que na vida dos santos existe uma ligação divina,
porque a santidade é cativante.
Bastante interessante foi um sonho que Líoba teve em relação
a sua vida. Sabemos que Deus, sempre mostra aos seus, a sua santa vontade em visões,
sonhos, etc. Se formos a Sagrada Escritura, veremos bem este modo de agir de
Deus, tanto no Antigo Testamento, quanto no Novo. Muitos não dão nenhuma
importância aos sonhos, mas, neles, muitas e muitas vezes, Deus se revela.
Vejamos alguns exemplos de sonhos enviados por Deus, nas Escrituras Sagrada.
No Antigo Testamento, vemos José revelando
sonhos no Egito; o sonho do Faraó (Gn
41, 1-7), o sonho do copeiro e do padeiro do Faraó (Gn 40, 5-22), o sonho do próprio José (Gn 37, 5-11), o sonho de Jacó (Gn 28, 10-16), o de sonho Daniel (Dn 7, 1-28), o sonho do Rei Baltazar (Dn 4, 16-34) e tantos outros como: Gn 20, 3; 28, 10-16; 31, 10-13; 31, 24; 37, 5-11; 37, 19-20; 40,
5-23; 41, 1-7; 42, 9; 46, 2. Estes são apenas alguns sonhos que o Livro do
Gênesis nos mostra entre tantos outros em toda a Escritura.
No
Novo Testamento, podemos dar como exemplo, a visão de São José que é
avisado em sonho pelo Anjo do Senhor, que Jesus foi gerado no ventre de Maria
Santíssima pela força do Espírito Santo (Mt
1, 20-22) e, também outra passagem do mesmo Evangelho em que São José é
avisado para fugir para a terra do Egito, livrando assim o menino Jesus que
se encontrava em perigo de morte (Mt
2, 13-15). Igualmente é avisado em sonho no retorno do Egito para se
estabelecer em Nazaré (Mt 2, 19-23).
Os magos que são avisados em sonho que não retornem à presença do rei iníquo,
Herodes, que desejava matar o menino Jesus (Mt 2, 12). Vejamos também a visão de São Pedro nos Atos dos Apóstolos
ao ter aquela maravilhosa visão dos alimentos (At 10, 11). Igualmente em (At
12, 3-11), em que São Pedro é libertado da prisão por um Anjo enviado por
Deus, etc.
Pois bem! Os
pais de Líoba eram muito religiosos e levavam uma vida santa e temente a Deus. Passados
muitos anos sem ter filhos, pediam a Deus que lhe enviasse um filho para
perpetuar sua descendência e, assim, mesmo na velhice, o bom Deus lhes
presenteia com uma linda criança a futura santa. Tinne e Ebba, seus caros pais, nunca se
cansaram de rezar e pedir a Deus o cumprimento de um desejo que a muitos anos lhes
eram tão caro.
Portanto, numa
noite, sua mãe teve um sonho em relação ao nascimento da filha Líoba. Assim foi
o seu sonho revelador: “Sonhara que
trazia em seu seio um sino de igreja e no momento em que estendia a mão para
tomá-lo, o sino emitia doces e melodiosos sons. Ebba chamou sua fiel ama e
narrou-lhe o sonho; a velha escrava, tomada de espírito profético, disse-lhe:
“Dareis a luz a uma filha, que deveis consagrar ao serviço de Deus (VIDA
DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 5). Assim, Ebba prometeu que faria o sacrifício de entregar a
filha e, algum tempo depois nasce-lhe uma filhinha a qual foi batizada e colocado
o nome de Truthgeba, porém,
sempre foi chamada de Leobgytha
ou Líoba, que significa “bem-amada”, porque era a
predileta de Deus. Uma dádiva. Por profetizar tão grande presente, após o
cumprimento da promessa, a ama recebeu sua liberdade em recompensa.
Ainda muito pequena, Líoba é entregue por seus
pais, na Abadia de Winborne sob
os cuidados da Abadessa Tetta
para que fosse instruída na vida espiritual e bem educada, por ser os Mosteiros
lugares de grande cultura e vida espiritual intensa.
Interessante
também foi o sonho que teve a própria Santa Líoba. Sonho, este, que resumia
toda a sua santa vida. Assim, foi o seu sonho: “Parecia-lhe que um fio cor de fogo saia de sua boca; quanto mais se
esforçava por tirá-lo, tanto mais e mais se prolongava, como se saísse do
íntimo do seu coração. Tendo a mão cheia deste rico fio de seda, começou a enrola-lo em forma de um novelo, que se tornava cada
vez maior, até que cansada de enrolar, adormeceu, vencida pela fadiga e a
ansiedade (VIDA DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 8).
Este
sonho ficara tão vivo em sua memória, pois sabia que Deus queria dizer-lhe algo
através dele. E, realmente, neste, resumia sua vida inteira. Que bondade, essa
de Deus, para sua amada serva! Vemos o salmista cantar: “Eis que o olho de Iahweh está sobre os que o temem, sobre aqueles que
esperam seu amor, para da morte libertar a sua vida e no tempo da fome fazê-los
viver”. (Sl 33, 18-19).
Ao chegar
a Alemanha, Líoba, logo é designada para ficar à frente da nova fundação em
Bischofsheim. Pouco tempo após sua chegada, aparecem numerosas jovens a procura
da vida monástica, devido a sua grande bondade, ficando sob os seus cuidados
maternais e auxiliadas pelas suas companheiras que a seguiram da Abadia de
Wimborne na Inglaterra. Com isso, conseguiram pôr em prática a observância da Regra de São Bento. Assim, no ardor e trabalhando incansavelmente, Santa Líoba faz a sua Páscoa (passagem / morte) com grande fama de santidade no dia 28 de setembro
do ano de 779. Esta Santa fez muitos milagres em vida e bem mais após a sua morte.
Peçamos sempre
a Santa Líoba a graça de amarmos verdadeiramente a Deus e nunca nos afastarmos de
sua presença, trabalhando incansavelmente para o crescimento do seu Reino como ela mesmo viveu em toda a sua existência terrestre.
Rogai por
nós Santa Líoba, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.
CARTA DE SANTA LÍOBA, O.S.B,
A SÃO
BONIFÁCIO, O.S.B,
BISPO E MÁRTIR.
Esta carta da santa é a única que foi
conservada
"Ao
Reverendíssimo Senhor Bispo Bonifácio”.
Líoba, a
última das servas de Cristo, saúda Bonifácio, seu muito amado em Cristo, que se
acha revestido da maior dignidade do Senhor, a quem está ligada pelos laços de
parentesco.
Rogo que
vos digneis lembrar-vos de vossa amizade para com meu pai Tinne, habitante de Wessex, falecido a oito anos e para a
alma de quem peço vossa intercessão junto a Deus. Recomendo-vos também minha
Mãe Ebba que, como sabeis,
vos está ligada pelos laços de parentesco. Sua vida passou-se no sofrimento;
durante muito tempo prostrou-a o peso das enfermidades corporais. Sou sua única
filha e desejaria que me fosse permitido, embora indigna, considerar-vos como
um irmão, no qual confio mais do que em qualquer outro de meus parentes.
Envio-vos este pequeno presente, não que seja digno de vosso agrado, mas afim
de que vos lembreis de minha humilde pessoa e que a distância não me apague
completamente de vossa memória. Desejo também muito que esse presente estreite
entre nós o laço de sincero afeto, para que perdure sempre.
Suplico-vos,
irmão bem-amado, ajudar-me com o escudo de vossas orações contra os assaltos de
meu inimigo invisível. Peço-vos também que vos digneis corrigir esta carta tão
mal redigida e não recuseis enviar-me algumas palavras, pelas quais
ardentemente suspiro como prova de vosso fervor.
Procurei
compor os seguintes versos, segundo as regras da metrificação poética, embora
tenha pouca confiança em meu talento e somente deseje exercitar minha veia
poética, ainda muito fraca, o que prova que nisto também preciso de vossa direção.
Aprendi esta arte com Eadburga, que nunca cessa de meditar sobre a santa Lei de
Deus.
Adeus!
Vivei por muito tempo, sede feliz e rezai sempre por mim”.
(Seguem-se quatro linhas de
versos em latim)
“Arbiter
omnipotens, solus qui cuncta creavit,
In regno
Patris semper qui lumine fulget,
Qua
jugiter flagrans sic regnat gloria Christi,
Ilaesum
servet semper te jure perenni.”
REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus,
2002.
MARTIROLÓGIO ROMANO-MONÁSTICO. Abadia de São Pierre de Solesmes /
traduzido e adaptado para o Brasil pelos monges do Mosteiro da Ressurreição /
Ponta Grossa, PR - Mosteiro da Ressurreição, edições, 1997.
VIDA DE SANTA LÍOBA. Traduzido do inglês e publicado
pelas monjas beneditinas do Mosteiro de Santa Maria em São Paulo. – São Paulo:
Escolas Profissionais Salesianas, 1914.
Ut In Omnibus
Glorificetur Deus (RB 57, 9)